*LRCA Defense Consulting - 20/04/2025
Cada detalhe num avião é decisivo tanto em relação à segurança quanto eficiência e custos de produção. A vida de centenas de pessoas pode estar em jogo em voos de carreira e a construção de uma grande aeronave envolve valores muito altos. Um Airbus A380, o maior avião de passageiros em operação na atualidade, não sai por menos de 445,6 milhões de dólares. Mesmo um avião de carreira de menor porte envolve custos muito altos, como o E170 da Embraer, menor jato da companhia, que sai ao custo de 46,3 milhões de dólares.
Turbinas têm grande destaque
Nos projetos de aeronaves, as turbinas têm grande destaque, tendo papel central no grande desenvolvimento da aviação civil a partir de 1953 quando o primeiro avião comercial com motores a jato foi apresentado. Uma turbina, em termos muito simples, capta o ar e o pressuriza, misturando com combustível para que a queima ocorra. Esta reação pode chegar aos mil graus e empurra uma grande quantidade de ar para trás dando impulso para que a aeronave possa voar.
Mas seria possível uma turbina que funcionasse sem essas pás?
Não só é possível como um projeto desenvolvido pelo professor Cyro Ketzer Saul, do Departamento de Física da UFPR, teve sua patente registrada em 2021 e promete trazer várias vantagens frente às turbinas convencionais, tanto em relação à segurança quanto aos custos de produção e de manuenção.
No entanto, a invenção brasileira possui características próprias que a diferem da solução da Jetoptera, o que foi fundamental para a obtenção da patente.
Inovação permite operação em menores temperaturas, o que reduz custos
A nova turbina é similar a uma turbina convencional, mas seu eixo central foi substituído por um duto interno livre que possibilita empregar o efeito de amplificação de ar para aumentar o fluxo de gases e consequentemente o empuxo gerado para movimentar uma aeronave, combinando energias térmica e elétrica para produzir a propulsão a jato.
Ele explica que, no novo modelo, os gases de combustão, em alta temperatura, são misturados com o ar frio já na entrada do motor, de modo que quando eles chegam na entrada do compressor, logo antes de entrar na turbina, suas temperaturas estão muito reduzidas. Tal redução permitiria utilizar materiais mais baratos já que não enfrentariam altas temperaturas.
Saul destaca as vantagens que este tipo de máquina pode ter por operar em temperaturas menores. “A operação da turbina, que é o componente do motor convencional que recebe os gases das câmaras de combustão, ocorre em temperaturas muito elevadas (acima de 1000º C), e isto implica no uso de ligas resistentes a elevadas temperaturas e construções complexas das pás, permitindo injeção de ar frio para isolar seu contato com os gases superaquecidos em alta pressão”, completa.
Outra vantagem é a possibilidade de acionamento descontinuo das câmaras de combustão, uma espécie de revezamento, que pode reduzir ainda mais a temperatura média de operação dos componentes da turbina.
Sem pás no caminho, modelo amplia segurança de voo
Um dos fatores que causam maior preocupação na aviação é a colisão com objetos durante os voos que acabam muitas vezes sugados pelas turbinas. Aves em torno de aeroportos são uma preocupação constante. O modelo desenvolvido por Saul permite que objetos sugados passem direto pela turbina, diminuindo muito as chances de que causem danos significativos.
“Sem dúvida, a inexistência de pás no caminho da passagem dos gases reduz consideravelmente os danos provocados por sucção de objetos estranhos. Para um objeto estranho, (…) o motor aeronáutico convencional (Turbofan, por exemplo) em rotação é como uma parede e a colisão usualmente rompe algumas pás, desequilibrando o motor e obrigando o pouso nos casos menos graves. No caso do dispositivo proposto, um objeto succionado que não colidisse com as paredes internas do duto interno livre, sairia na outra extremidade apenas queimado”, explica o pesquisador.
Aplicações
As inovações proporcionadas pela turbina são revolucionárias e aplicáveis em domínios civis e militares. O conceito foi desenvolvido com o foco em aeronaves comerciais, como
aquelas citadas no início da matéria, mas também pode ser adaptado para
uso em escala menor. Assim, o sistema pode ser usado
para impulsionar uma variedade de aeronaves em aplicações VTOL e STOL:
- VTOL (Vertical Take-Off and Landing) se refere a aeronaves pilotadas ou não que conseguem decolar e pousar na vertical, dispensando a necessidade de pistas longas, tais como a maioria dos drones, algumas aeronaves militares (Harrier ou o F-35B Lightning II) e projetos de mobilidade aérea urbana (como o Eve, da Embraer).
- STOL (Short Take-Off and Landing) se refere a aeronaves pilotadas ou não que não decolam verticalmente, mas precisam de pistas muito curtas. Elas são projetadas para operar em ambientes com pouco espaço, como rampas de lançamento, pistas improvisadas, campos ou zonas de pouso acidentadas, tais como alguns tipos de drones, aeronaves de patrulha ou de transporte em regiões remotas, algumas aeronaves de aviação regional ou de bush flying (aeronaves pequenas e robustas capazes de decolar e pousar em distâncias curtas, como o Cessna 208 Caravan, Piper Super Cub, ou DHC-2 Beaver).
O sistema de turbinas pode ser adaptado e implantado inclusive em planadores que, eventualmente, possam necessitar de empuxo.
Além de uma menor necessidade de manutenção, devido à ausência de partes móveis internas, a nova turbina também reduz o ruído mecânico e a assinatura radar, podendo ainda facilitar o resfriamento do fluxo de exaustão, proporcionando uma maior característica de furtividade (stealth) à aeronave.
Situação atual
Depois
de obter a patente, com o apoio da Agência de Inovação da UFPR, Saul
explica que os próximos passos vão no sentido de buscar parcerias com
empresas que tenham interesse e capacidade de produzir a turbina em
escala comercial. Ele acredita que, com as vantagens do modelo, será
possível chamar a atenção dos fabricantes de aeronaves.
Outras informações podem ser obtidas na Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da UFPR.
*Fontes: portal Ciência UFPR e LRCA Defense Consulting.
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