*LRCA Defense Consulting - 14/04/2026
No dia 07 de abril, após a assinatura de um Memorando de Entendimento (MoU) para explorar uma potencial cooperação industrial entre a Turkish Aerospace e a Embraer, esta Consultoria noticiava, em caráter pioneiro no mundo, que tal acordo de colaboração industrial poderá ir muito além da produção dos E Jets E2 na Turquia, passando pela aquisição do C-390 pelo país e até pela produção conjunta do caça de 5ª geração KAAN, em desenvolvimento pela Turquia.
É importante frisar que, até o momento, nem a Embraer e nem a Turkish Aerospace comentaram sobre a venda do C-390 para a Turquia ou sobre a cooperação no desenvolvimento do caça TF KAAN. Quem afirmou que o Brasil está em negociações com a Turquia, Polônia e Finlândia para uma possível compra de aeronaves militares Embraer C-390 foi o Ministro da Defesa brasileiro, José Mucio Monteiro, em 02 de abril, durante a LAAD. Já as ilações unindo o desenvolvimento do caça KAAN à Embraer são fruto de análise desta Consultoria.
Caso venha a se confirmar a extensão do acordo para o setor de defesa, a Embraer se tornará mais uma grande empresa da Base Industrial de Defesa do Brasil a estabelecer parceria com empresas da Turquia para este fim. As demais são a Taurus Armas, que está em negociações para adquirir a empresa turca Mertsav Savunma Sistemleri; a Akaer, que participa do programa HÜRJET, da Turkish Aerospace Industry; a SIATT, que tem um acordo de importação com a Kale Jet Engines para o fornecimento de motores turbojato destinados a mísseis; e a CBC, que possui um acordo de importação e distribuição espingardas e rifles dos fabricantes turcos Khan Arms e ATA Arms. A WEG também possui uma unidade produtiva na Turquia e, embora seja uma Empresa Estratégica de Defesa no Brasil, não há informações sobre eventuais destinações militares para os motores elétricos industriais e comerciais naquele país.
A excelente matéria abaixo, além de mostrar o interesse e os motivos
estratégicos da Indonésia em se juntar ao programa de caças de quinta
geração desse país, detalha as características do caça e evidencia, mais
uma vez, a importância que a indústria de defesa turca vem assumindo no
cenário mundial.
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Indonésia recorre à Turquia para obter vantagem sobre o caça KAAN de quinta geração em um equilíbrio Indo-Pacífico em mudança
*Army Recognition - 14/04/2025
Durante visita oficial a Ancara em 10 de abril de 2025, o presidente indonésio, Prabowo Subianto, expressou o interesse de seu país em se juntar ao programa de caças de quinta geração da Turquia, o KAAN, enfatizando o fortalecimento da parceria de defesa com a Turquia, particularmente nos setores aeroespacial e naval, conforme noticiado pela Bloomberg. O anúncio ocorre em meio ao fortalecimento dos laços estratégicos entre a Indonésia e a Turquia, enquanto Jacarta busca ativamente modernizar suas antigas capacidades de defesa aérea em resposta às persistentes ameaças regionais e à necessidade de maior autonomia estratégica.
Em uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, o presidente Subianto declarou que "a Indonésia deseja participar do desenvolvimento do caça KAAN de quinta geração, bem como do desenvolvimento de submarinos com a indústria turca". Suas declarações, divulgadas pela agência de notícias indonésia Antara, refletem a ambição de Jacarta de diversificar suas parcerias de defesa em um cenário internacional cada vez mais moldado pela competição entre grandes potências. Essa intenção foi reforçada pela assinatura de novos acordos bilaterais nas áreas de cultura, gestão de desastres e mídia, que se somam aos treze acordos de cooperação assinados entre Ancara e Jacarta em fevereiro.
Programa KAAN
O programa KAAN, desenvolvido pela Turkish Aerospace Industries (TAI), foi lançado oficialmente em 2011 por iniciativa da Subsecretaria de Indústrias de Defesa (SSM) da Turquia, com o objetivo de reduzir a dependência de aeronaves de combate estrangeiras e fortalecer a soberania tecnológica do país. O programa ganhou força após a retirada da Turquia do programa F-35 dos EUA em 2019, consequência direta da aquisição por Ancara de sistemas de defesa aérea russos S-400. Washington alegou preocupações de que tecnologias sensíveis do F-35 pudessem ser comprometidas por sistemas de radar russos. Desde então, o KAAN tornou-se uma prioridade estratégica para o governo turco, posicionando o país como um ator autônomo no desenvolvimento da aviação militar de próxima geração.
Anteriormente conhecido como TF-X, o KAAN é uma aeronave de caça de quinta geração que está sendo desenvolvida com o suporte técnico da BAE Systems. Ele apresenta um design stealth avançado usando materiais de absorção de radar (RAM) que são considerados dez vezes mais eficazes do que aqueles usados no F-35 em condições ambientais extremas. Alimentado por dois motores gerando até 38.000 libras de empuxo, a aeronave é capaz de atingir velocidades de Mach 1,8, superando o F-35, que é limitado a Mach 1,6. O KAAN também foi projetado para incorporar inteligência artificial para suporte à decisão em tempo real, fusão de sensores e coordenação com sistemas não tripulados, como drones leais alas, em cooperação com o fabricante turco de UAV Baykar. Esses recursos visam aumentar a eficácia operacional em ambientes de combate com uso intensivo de dados e alta ameaça.
Operacionalmente, o KAAN foi projetado para missões de superioridade aérea, interceptação e ataque de precisão. Oferece uma carga útil interna e externa de armas comparável à do F-35, estimada em mais de 8.300 kg. Espera-se que a aeronave transporte mísseis ar-ar de fabricação turca, como o Gökdoğan (longo alcance) e o Bozdoğan (curto alcance), mantendo a capacidade de furtividade através de seu compartimento interno de armas. Seu radar AESA, sistemas de guerra eletrônica e arquitetura de combate em rede proporcionam-lhe forte consciência situacional — um fator essencial em cenários de combate modernos.
O KAAN completou seu voo inaugural em fevereiro de 2024, atingindo uma altitude de 8.000 pés a 230 nós. Um segundo voo de teste bem-sucedido ocorreu em maio de 2024, validando elementos críticos como a integridade da fuselagem, propulsão e aviônicos. Espera-se que protótipos adicionais entrem em uma fase intensiva de testes no final de 2025 ou início de 2026. O gerente geral da TAI, Mehmet Demiroglu, declarou que a campanha de testes será acelerada para entregar a primeira aeronave operacional à Força Aérea Turca entre 2028 e 2029. Ele também confirmou que o KAAN integrará gradualmente os recursos de sexta geração para manter sua competitividade ao longo do tempo.
Interesse de vários países
Em entrevista ao Breaking Defense, Demiroglu observou que vários países manifestaram interesse em aderir ao programa, embora tais decisões envolvam negociações complexas e de alto nível que levam tempo.
O interesse da Indonésia, juntamente com sinais anteriores dos Emirados Árabes Unidos e, mais recentemente, da Arábia Saudita — que supostamente considerou adquirir mais de 100 unidades — ressalta o crescente impulso para a colaboração internacional em torno do programa KAAN e destaca seu potencial como plataforma multinacional de defesa.
Estratégia pragmática
Para a Indonésia, esta iniciativa faz parte de uma estratégia pragmática para abordar as deficiências persistentes de sua força aérea. Uma análise de 2021 da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam (RSIS) de Singapura apontou a composição heterogênea da frota indonésia — que inclui caças F-16 americanos, caças Hawk britânicos e caças Su-27/30 russos — como fonte de complexidade de manutenção e altos custos logísticos, com interoperabilidade limitada. Esses desafios são agravados por restrições orçamentárias recorrentes, falta de transparência nas aquisições e compromisso político inconsistente. Nesse contexto, a parceria com a Turquia, vista como um fornecedor de defesa não ocidental, poderia proporcionar à Indonésia um caminho mais flexível e econômico para a modernização, incluindo a possibilidade de transferência de tecnologia favorável.
O anúncio do Presidente Subianto reflete um reposicionamento geopolítico e industrial mais amplo. Ao se alinhar à Turquia, a Indonésia não apenas diversifica sua cadeia de suprimentos, mas também busca um papel no codesenvolvimento de sistemas de defesa de próxima geração. Caso essa cooperação se concretize, poderá ter implicações significativas para o equilíbrio de poder no Indo-Pacífico, conectando duas potências médias emergentes do Oriente Médio e do Sudeste Asiático por meio de um projeto tecnológico estratégico.
No entanto, diversas incertezas permanecem, incluindo a capacidade financeira da Indonésia, as prioridades industriais da Turquia e os obstáculos técnicos que ainda precisam ser superados no desenvolvimento do KAAN. No entanto, a manifestação de interesse de Jacarta sinaliza a disposição de se adaptar a um ambiente de segurança em evolução, onde alianças diversificadas e parcerias tecnológicas se tornam cada vez mais necessárias diante do aumento das tensões e dos alinhamentos globais fragmentados.
Trajetória dupla
Em última análise, o interesse da Indonésia no programa KAAN ilustra uma trajetória dupla: um país em busca de autossuficiência militar em um contexto regional tenso e uma nação produtora de defesa — a Turquia — trabalhando para se estabelecer no mercado global de aeronaves de combate de última geração. À medida que o programa avança, sua evolução para uma plataforma colaborativa pode remodelar a dinâmica industrial no setor de aviação de defesa, oferecendo uma alternativa às aeronaves existentes fabricadas no Ocidente.
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