*Anderson Correia, via LinkedIn - 05/01/2025
Sobre a entrada de jovens brilhantes para a carreira militar, tenho minhas preocupações para o longo prazo. Como vamos atrair os melhores engenheiros e cientistas para este setor, com tantas boas opções em outras carreiras, com muito mais atrativos de curto e longo prazo? Além das questões de amor à pátria, o que levaria um jovem a ficar 35 anos em uma carreira pública?
Tenho a impressão que as gerações mais novas tem dificuldade em se comprometer com uma carreira longa e tão verticalizada. Ainda mais porque os postos atrativos vão ocorrer no médio prazo (10-20 anos). Imagine dizer isso para alguém da geração Z?
No passado, havia o atrativo da estabilidade da carreira e aposentadoria integral. Mas isso vai perdurar nas próximas 3, 4 ou 5 décadas? Com uma dívida pública tão elevada, esses benefícios podem ser alterados.
Temos que lembrar que a carreira militar não envolve apenas a tropa de soldados. Há toda uma tecnologia envolvida. As forças armadas mundo a fora tem investido bastante em computação quântica, setor espacial, armas biológicas, energia nuclear e segurança cibernética. Vamos conseguir estar atualizados com o padrão internacional aqui no Brasil?
Tem outro ponto. A mídia critica muito os militares. Isso deve pesar no consciente dos jovens. Porque seguir uma carreira que é tão bombardeada? Em outros países, ser militar é motivo de honra. Outro dia fui assistir a um jogo de basquete nos Estados Unidos e o locutor pediu para a plateia se levantar porque havia um soldado assistindo ao jogo e todos o aplaudiram, como se fosse um herói.
Claro que sempre haverá os idealistas. Mas um país não pode se sustentar somente com base no sacrifício pessoal, pois tudo tem um limite. E esse setor de tecnologia exige pessoas motivadas. É só notar o ambiente de trabalho das empresas mais inovadoras e veremos que isso não é apenas firula, é algo que impacta na produtividade científica mesmo.
Como cidadão Brasileiro, anseio por Forças Armadas bem avançadas tecnologicamente e com pessoal bem formado e motivado integrando suas fileiras. A segurança de nosso país depende disso.
A maior parte dos Brasileiros às vezes nem sabe, mas há nesse momento vários engenheiros militares cuidando de sua segurança. E a guerra de hoje ocorre na computação, no espaço e em ameaças bem sutis, não é mais só no campo de batalha tradicional. A gente não enxerga os inimigos entrando.
Ter jovens bem formados e motivados para a carreira militar é questão estratégica para nosso país.
*Anderson Correia é Diretor-Presidente do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, uma das maiores instituições de ciência e tecnologia do Brasil, Professor Titular e ex-Reitor do ITA.
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