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29 dezembro, 2024

Sobre a venda de dois Embraer C-390 para um cliente não revelado: motivos para o sigilo e razões para a aquisição


*LRCA Defense Consulting - 29/12/2024

Em 27 de dezembro de 2024, a Embraer anunciou a venda de duas aeronaves C-390 Millennium para um cliente não revelado, elevando para dez o número de países que selecionaram este modelo, conforme foi noticiado por esta Consultoria..

Os países que já haviam escolhido o C-390 são: Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Eslováquia, Hungria, Países Baixos, Portugal, República Tcheca e Suécia.

Até o momento, a Embraer, intencionalmente, não divulgou a identidade do comprador, mas por quê?

Dados conhecidos
Essa prática é comum em diversas negociações na área de defesa, onde informações sensíveis sobre capacidades militares e relações diplomáticas podem estar em jogo.

O que se sabe sobre o comprador é apenas que solicitou uma configuração personalizada, ou seja, as aeronaves serão configuradas para atender a necessidades específicas, incluindo transporte tático de tropas e veículos, ajuda humanitária, gestão de desastres e evacuação aeromédica. 

No entanto, não foi divulgado se o cliente solicitou outras configurações personalizadas, como reabastecimento aéreo e/ou combate a incêndios, por exemplo.

O conhecimento de tais configurações, após um estudo detalhado dos possíveis clientes, pode produzir alguns indícios importantes. Por exemplo, um país de clima predominante desértico, em tese, não teria grande necessidade do módulo de combate a incêndios, ocorrendo o contrário com outro que disponha de extensas áreas de florestas. Em outro exemplo, caso o país já possua aeronaves de reabastecimento aéreo ou sua frota de caças seja incompatível com o sistema de reabastecimento do C-390 (tipo "sonda e cesto"), não haveria necessidade do módulo de reabastecimento.

Motivos básicos
Assim, um ou mais dos seguintes motivos básicos podem estar fazendo com que a Embraer não revele o comprador, a saber:

1. Razões estratégicas: o país comprador pode ter motivos específicos para manter a compra em sigilo, como evitar possíveis reações de outros países ou fortalecer sua posição em negociações internacionais.

2. Proteção de informações confidenciais: a Embraer pode estar protegendo informações estratégicas sobre as capacidades da aeronave e as configurações específicas solicitadas pelo cliente.

3. Negociações em andamento: em alguns casos, a não divulgação pode estar relacionada a negociações em curso para a compra de mais aeronaves ou outros equipamentos militares, sendo esta apenas uma compra inicial.

4. Transferência de Tecnologia: dependendo do contrato, o comprador pode estar negociando acordos de transferência de tecnologia e produção local, embora esta hipótese se aplique, via de regra, para aquisições de maior porte, como as pretendidas pela Índia e Arábia Saudita.

Possíveis razões para a aquisição
A versatilidade, capacidade multimissão, reconfiguração rápida, sistema avançado de manuseio de carga, alta disponibilidade, bom alcance e velocidade, operação em pistas não pavimentadas, grande capacidade de carga, tecnologia de ponta, confiabilidade e baixos custos operacionais, aliados ao desempenho excepcional do C-390 Millennium, torna-o atrativo para diversos países. Algumas possíveis razões gerais para a aquisição incluem:

1. Modernização da frota: o país pode estar buscando modernizar sua frota de transporte aéreo militar, substituindo aeronaves mais antigas.

2. Ampliação das capacidades: a compra pode ser parte de um plano para expandir as capacidades de transporte aéreo militar do país, permitindo a realização de um maior número de missões.

3. Cooperação internacional: a aquisição pode fortalecer laços de cooperação militar com o Brasil e outros países que operam o C-390.

4. Desenvolvimento da indústria nacional: em alguns casos, a aquisição do C-390 pode estimular o desenvolvimento da indústria aeronáutica nacional, gerando empregos e know-how.

5. Razões estratégicas locais: caso o comprador possua um contencioso com um país vizinho, pode não querer divulgar a compra até receber as aeronaves, registrando assim uma vantagem estratégica e evitando que esse possa tomar uma medida semelhante com oportunidade.

Pelo que se tem conhecimento, diversos países estão ou estiveram interessados na aeronave, sendo desconhecidas as respectivas situações atuais das eventuais negociações. Neste caso se encontram: África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Chile, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Irlanda, Marrocos, México, Nigéria, Polônia, Uzbequistão e Vietnã.

Evidentemente, tais considerações não esgotam os motivos para a Embraer manter o sigilo e nem as possíveis razões de aquisição, assim como também não limitam os clientes aos países citados, haja vista que podem ocorrer surpresas.

Em síntese, apesar da expectativa por mais informações, a identidade do comprador das duas aeronaves Embraer C-390 permanece um mistério. A decisão da empresa de manter o sigilo sobre essa informação reflete a complexidade das negociações internacionais de defesa e a importância de proteger informações estratégicas.

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