*LRCA Defense Consulting - 31/12/2024
A Embraer anunciou ontem (30) um pedido firme de um cliente não revelado para seis aeronaves de ataque leve e treinamento avançado A-29 Super Tucano, equipados com capacidades aprimoradas para realizar missões como interdição aérea, apoio aéreo tático, patrulha marítima, ataque marítimo e outras operações de defesa territorial.
Além de não revelar o cliente, a gigante aeroespacial brasileira trouxe um ingrediente novo, ao citar "capacidades aprimoradas para patrulha marítima e
ataque marítimo", haja vista que talvez seja o primeiro cliente a solicitar tal configuração. Por outro lado, supondo-se que se trata de uma configuração típica de patrulha marítima armada (MPA), não parece ser público que a empresa possuísse condições de implementá-la ordinariamente no Super Tucano.
A aeronave, embora seja extremamente versátil e amplamente utilizada em múltiplas missões nos diversos países que a possuem - como ataque leve, treinamento avançado, reconhecimento aéreo e outras - não é primariamente configurada para missões de patrulha marítima.
No entanto, as características normais da aeronave fazem com que possa ser adaptada
para realizar algumas missões secundárias relacionadas a esse mister, como
monitoramento do tráfego marítimo e detecção de atividades suspeitas em
áreas costeiras, além do fornecimento de apoio aéreo aproximado a navios
de guerra, realizando missões de reconhecimento e ataque a alvos
marítimos de oportunidade.
Enquanto o Super Tucano é excelente para missões de curta a média duração sobre terra, sua autonomia e capacidade de carga útil são fatores limitantes para missões de patrulha marítima de maior duração, que geralmente exigem maior tempo de voo e sensores mais pesados.
Para tanto, seria necessária a adição de sensores específicos, como radar de superfície marítima, sonoboias e outros sistemas de detecção de submarinos, o que pode aumentar significativamente o custo e a complexidade da aeronave. A propósito, sonoboia (uma junção de sonar e boia ) é uma pequena boia de sonar descartável lançada de aeronaves ou navios para guerra antissubmarina ou pesquisa acústica subaquática. As sonoboias têm tipicamente cerca de 13 cm de diâmetro e 91 cm de comprimento. Quando flutuam na água, as sonoboias têm um transmissor de rádio acima da superfície e sensores de hidrofone subaquáticos.
Embora o Super Tucano não seja a escolha ideal para missões de patrulha marítima de forma geral, é possível assim empregá-la, embora com limitações, especialmente se não houver a opção de uma aeronave especializada em MPA ou se estas forem em quantidade insuficiente.
No entanto, a Embraer é uma empresa que se caracteriza por trazer surpresas positivas ao mercado mundial. Assim, como ela afirmou que o cliente deseja "capacidades aprimoradas para patrulha marítima e
ataque marítimo", não será de se estranhar que esteja nascendo um novo modelo do Super Tucano próprio para este emprego, com ênfase em países insulares ou que possuam um extenso litoral e recursos financeiros limitados.
Por outro lado, há também a possibilidade de a Embraer fazer uso das capacidades de uma empresa internacional parceira capaz de realizar a transformação da aeronave para emprego em patrulha marítima armada (MPA), como será visto no tópico abaixo referente à Indonésia.
Filipinas e Indonésia: dois potenciais clientes
Filipinas
Os constantes incidentes com a presença chinesa no Mar da China Meridional levaram as Filipinas a prosseguir com medidas formais de patrulhamento, ao mesmo tempo que desafia as atividades chinesas ao longo da cadeia de ilhas disputada pelos dois países.
Em resposta aos desafios estratégicos regionais e às fraquezas internas percebidas com a ameaça chinesa, a Força Aérea Filipina (PAF) embarcou em um processo de transformação para aprimorar suas capacidades. O chamado Plano de Voo 2028 prevê uma reorientação da Força, saindo de uma função primariamente de segurança interna e passando a atuar como uma força de defesa territorial. Isso está exigindo uma transformação substancial organizacional, doutrinária, de treinamento, estratégica e de equipamentos.
O Plano de Voo 2028 tem como objetivos:
1. Desenvolver a capacidade da PAF para detectar, identificar, interceptar e neutralizar intrusões na Zona de Identificação de Defesa Aérea das Filipinas e no Mar da China Meridional (ao norte e oeste do arquipélago).
2. Desenvolver a capacidade da PAF para detectar, identificar, interceptar e neutralizar intrusões em todo o território filipino.
Os principais ativos aéreos adquiridos sob esta nova iteração do programa de modernização foram 12 caças leves sul-coreanos FA-50, enquanto os programados para aquisições futuras são caças multifuncionais e aeronaves de patrulha marítima, entre outros equipamentos.
Atualmente, a PAF emprega algumas das seis aeronaves Super Tucano da sua frota para realizar missões de patrulha marítima no Mar da China Meridional, mas não é público que tais aeronaves tenham recebido uma configuração específica.
Em 2021, as Filipinas manifestaram a intenção de adquirir 18 aeronaves adicionais aos seis Super Tucanos já adquiridos e entregues, totalizando 24 aeronaves.
Em agosto de 2024, em visita oficial às Filipinas, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que “Estou muito satisfeito com o estado da cooperação entre a Embraer e a
Força Aérea das Filipinas, que inclui o fornecimento de provavelmente
seis aeronaves Super Tucano e, possivelmente, de futuras operações".
As necessidades das Filipinas em mais meios aéreos de patrulhamento marítimo armado, combinadas com as palavras recentes do ministro brasileiro, são um forte indicativo de que as Filipinas possam ser o "cliente não revelado" dos seis Super Tucanos.
ATUALIZAÇÃO (31 Dez, às 15h11): o portal Inquirer.net confirmou que as Filipinas é o país que adquiriu seis unidades do A-29 Super Tucano.
Indonésia
Por ser um país também insular, além de possuir um extenso arquipélago, a Indonésia utiliza parte de sua frota de 16 A-29 Super Tucanos em missões de vigilância marítima e patrulha costeira, de forma similar às Filipinas. O país possui três Airbus DS CN235 de patrulha marítima que estão sendo atualizados, mas que ainda são insuficientes para a dimensão de seu território.
Em 18 de novembro de 2024, a Embraer e a PT Dirgantara Indonesia (PTDI), principal empresa aeroespacial da Indonésia, assinaram um Memorando de Entendimento com o objetivo de expandir a colaboração na aviação comercial, realizando estudos conjuntos para avaliar oportunidades de parceria na aviação comercial, em áreas como engenharia e fornecimento de aeroestruturas. Ambas as empresas estão comprometidas em explorar oportunidades que
criem valor mútuo, mantendo os mais altos padrões de qualidade e
desempenho na fabricação aeroespacial.
A PT Dirgantara Indonesia (PTDI) é uma das principais empresas aeroespaciais nativas da Ásia. Com vasta experiência em design de aeronaves, a PTDI se especializou no desenvolvimento de novas aeronaves, modificação de configurações de sistemas e fabricação de estruturas para missões específicas, como patrulha marítima, vigilância e operações de guarda costeira. A PTDI também oferece serviços de aeronaves para clientes civis e militares, com foco em aeronaves leves e médias.
Assim, a Indonésia, além de também ser um possível cliente para os seis Super Tucanos em tela, possui boas relações com as Filipinas, com quem realiza exercícios conjuntos de patrulha marítima, além de ter uma grande empresa aeroespacial com total capacidade para transformar os Super Tucanos padrão em aeronaves MPA.
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