*Rodrigo Campos, via LinkedIn - 12/11/2024
E lá vamos nós, outra vez, mais uma vez, de novo, encarando o velho, desgastado e "emocionante" dilema: "Canhão x Manteiga".
Normalmente, comento fatos. Mas, desta vez, vou antecipar meu posicionamento, dada a alta probabilidade de confirmação de uma tendência preocupante.
Como especialista em Economia de Defesa e pesquisador do Ecossistema Financeiro de Defesa, acredito que o tema exige atenção urgente.
A possível redução do orçamento do Ministério da Defesa vai na contramão das tendências globais, especialmente num cenário no qual segurança e defesa se tornam cada vez mais estratégicas e interdependentes.
Nos últimos anos, diversos países têm ampliado seus investimentos no setor, não apenas para fortalecer capacidades militares, mas para consolidar a indústria nacional, assegurar autonomia tecnológica e ampliar o impacto econômico e social desses investimentos.
Com o orçamento já desnutrido, o Brasil vê sua capacidade de modernizar as Forças Armadas seriamente limitada, o que compromete tanto a defesa nacional, quanto sua influência no cenário internacional e regional.
É essa falta de investimentos que enfraquece nossa posição em fóruns como o Conselho de Segurança da ONU e nos reduz a uma voz marginal na diplomacia de defesa global.
Ao mesmo tempo, a ausência de uma capacidade militar robusta enfraquece nossa relevância regional, incentivando possíveis “aventuras” bélicas por parte de "vizinhos" que nos enxergam como uma força menos dissuasiva.
A defesa nacional não é apenas uma questão de militarização, mas, sim, de soberania, desenvolvimento tecnológico e imposição de respeito internacional.
Não percebe o tema desse modo? Basta então analisar os países mais ricos do mundo e observar o quanto destinam ao setor de Defesa. E vale lembrar: esses não são gastos, mas investimentos estratégicos.
Para um país com as dimensões territoriais e a riqueza natural do Brasil, depender de equipamentos e tecnologia estrangeiros compromete a capacidade de resposta autônoma e estratégica, além de nos tornar vulneráveis a pressões internacionais.
O fortalecimento da Base Industrial de Defesa e Segurança (BIDS) depende, em primeiro lugar, de uma demanda consistente, gerada principalmente pelas aquisições das Forças Armadas e das instituições de Segurança Pública, as quais são diretamente ligadas ao orçamento público. Por isso, o apoio à BIDS não é apenas uma questão de defesa territorial, mas um pilar para a segurança econômica e política do país.
Oferecer crédito à indústria de defesa, sem que haja demanda, é ineficaz — uma questão que já comentei em outras ocasiões.
O crescimento e a viabilidade da BIDS requerem, portanto, políticas públicas estáveis que promovam a continuidade das aquisições e a expansão de investimentos estratégicos, assegurando um ecossistema financeiro forte.
E, por fim, ao não investir em canhões, pode ser que se perca a capacidade de proteger quem fabrica, vende ou consome manteiga. Pense a respeito!
*Rodrigo Campos é Especialista em Financiamentos, Seguros e Garantias para o Setor de Defesa; Pesquisador do Ecossistema Financeiro de Defesa.
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