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09 novembro, 2024

Brasil procura novo fornecedor de satélites para substituir a Starlink

Reunião com chineses (Foto: Shizuo Alves)

*LRCA Defense Consulting - 09/11/2024

A Sputnik Brasil divulgou ontem (08) pelo X que as autoridades brasileiras estão procurando um substituto para o sistema de satélites Starlink do empresário americano Elon Musk, negociando a cooperação com fornecedores de satélites chineses, conforme informou a Bloomberg no mesmo dia.

De acordo com a agência, o Ministério das Comunicações quer aumentar a competitividade no mercado local de satélites de órbita baixa para conectar mais pessoas em áreas remotas do país à Internet.

Na quinta-feira (07), o Ministério das Comunicações recebeu uma delegação da Administração Nacional de Dados da China para discutir o compartilhamento de experiências na área de infraestrutura e experiência digital.  

No mês passado, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, reuniu-se com representantes do governo e de várias empresas de tecnologia chinesas em busca de oportunidades de investimento para empresas chinesas no Brasil. 

Starlink no Brasil
A Starlink tem mostrado um crescimento expressivo no Brasil, registrando um salto no número de acessos de banda larga fixa de 66 mil em 2023 para mais de 215 mil em junho de 2024, desempenhando assim um papel crucial na infraestrutura digital do país. A empresa passou a ser fornecedora de importantes órgãos públicos do governo federal como o Exército, a Marinha, os ministérios da Saúde e Educação, além da gigante Petrobras.

Seus serviços, disponíveis nos mais distantes e isolados locais da Amazônia, do Pantanal e do Nordeste, não apenas conectam escolas e órgãos públicos em todas as esferas, comunidades isoladas e unidades militares, como também são fundamentais para a comunicação de operações estratégicas, como o Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico, o maior navio de guerra da frota nacional (embora a Marinha tenha afirmado que só comunicações ostensivas transitam por essa rede).

Com relação à Petrobras, de acordo com os documentos obtidos pela BBC News Brasil, o contrato para uso da tecnologia da empresa de Musk prevê a instalação de equipamentos para conexão de internet em pelo menos 70 bases, plataformas e navios da petroleira brasileira. Entre elas estão as bases de exploração de petróleo e gás de região de Urucu, no interior do Amazonas, plataformas de exploração de petróleo que atuam na Bacia de Campos, entre outras.

Os contratos militares são vitais, especialmente na região Norte do país, onde o Exército depende da Starlink para garantir a conectividade em áreas de difícil acesso. 

Em maio deste ano, o Comando do Exército disponibilizou 100 pontos de internet da Starlink para comunidades localizadas no Rio Grande do Sul durante as enchentes que mataram mais de 170 pessoas no Estado.

No outro extremo do Brasil, na Amazônia, o Exército também passou a adotar a tecnologia da empresa de Elon Musk. Em agosto deste ano, o Comando Militar da Amazônia (CMA) contratou uma empresa para fornecer o serviço de internet da Starlink a unidades militares da região amazônica. O CMA é um dos principais e mais estratégicos comandos das Forças Armadas do país e atende aos Estados do Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre. Entre suas diversas unidades estão 27 pelotões especiais de fronteira (são 21, segundo o organograma do CMA), normalmente situados em locais de difícil acesso e sem conexão por fibra ótica.

Quem também utiliza a tecnologia da Starlink é a Marinha. À BBC News Brasil, a corporação informou que utiliza a Starlink em três embarcações: Navio-Veleiro Cisne Branco; Fragata Liberal e Navio-Patrulha Babitonga. Duas unidades da Marinha também mantém contratos de internet com a Starlink: o Comando do Grupamento de Patrulha Naval do Sul-Sudeste (em Santos) e o Comando do Grupamento de Patrulha Naval do Norte (em Belém). 

No entanto, em dezembro de 2023, após contratar o serviço, a Marinha informou que "A tecnologia será usada para internet com fins ostensivos, sendo completamente segregada das redes de bordo e demais redes de dados. Informações tipicamente militares não serão transmitidas ou recebidas pelos satélites da Starlink". Conforme a mesma fonte, os kits da Starlink foram adquiridos para o Navio Aeródromo Multipropósito Atlântico, a maior embarcação do País; para o Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, do Programa Antártico Brasileiro; e para o Navio-Patrulha (NPa) Maracanã, principal embarcação da Marinha para o patrulhamento na faixa compreendida entre os estados de São Paulo e Paraná.

Apesar de tais cuidados tomados pela Marinha, a guerra Rússia X Ucrânia, especialmente em seus primeiros meses, evidenciou o perigo da interceptação de comunicações particulares via smartphones entre os militares desses países ou entre eles e seus familiares, já que os Serviços de Inteligência de ambos os contendores as aproveitavam para localizar posições inimigas e até mesmo descobrir segredos militares cuidadosamente guardados.

Qual a diferença da Starlink?
Conforme matéria da BBC News Brasil, a Starlink é um braço da SpaceX, a companhia de exploração espacial de Elon Musk. A empresa fornece serviços de internet por meio de uma enorme rede de satélites. Ela é voltada para pessoas que vivem em áreas remotas, onde não há infraestrutura local como cabos e postes — caso de boa parte da Amazônia.

Estima-se que mais de 6 mil satélites Starlink já foram lançados no espaço, segundo especialistas que monitoram esses equipamentos. Segundo a própria empresa, trata-se da maior constelação de satélites do mundo, com uma base de usuários em 37 países.

Rodrigo Hendges, gerente de segurança ofensiva da empresa de segurança de dados Max Protection, explica que a chave do sucesso da empresa é o fato de ela usar, como nenhuma outra até então, um sistema uma rede de satélites de órbita baixa capaz de fornecer uma conexão de baixa latência. Latência é o tempo que leva para um dado (como uma mensagem ou um comando) viajar de um ponto a outro na rede via satélite, ser processado e retornar ao usuário.

Hendges explicou que a transmissão de sinais de internet via satélite não é uma tecnologia nova no mundo. A diferença introduzida pela Starlink, segundo ele, é que enquanto a maior parte dos sistemas disponíveis no mercado usa satélites localizados a pelo menos 30 mil quilômetros de altitude, os da empresa de Musk estão a 500 quilômetros. Com satélites muito mais perto da superfície terrestre que seus concorrentes, o tempo de latência é menor. Na prática, isso resulta em uma conexão mais estável e muito mais rápida.

Hendges ressalta ainda outra característica da Starlink que a diferencia das demais competidoras: a rede de satélites da Starlink é composta por milhares de satélites interconectados, criando uma constelação que cobre grandes áreas. "A grande quantidade de satélites e a baixa altitude são fatores-chave", explica Hendges.

O diretor de tecnologia da Sage Networks, Thiago Ayub, disse à BBC News Brasil que essa conjunção de fatores coloca a empresa de Musk à frente de muitos competidores. “Esses satélites foram projetados para estar muito mais próximos das antenas dos assinantes, o que garante um tempo de resposta menor e uma qualidade de internet que se assemelha à fibra ótica. Isso torna a Starlink uma solução única para regiões onde a infraestrutura de fibra ótica não está disponível", completou.

Principais redes chinesas de satélites
Segundo informa a Forbes, desde 2022, quando a guerra da Ucrânia demonstrou a importância da Starlink para as comunicações no campo de batalha, a imprensa chinesa publicou vários editoriais sobre a ameaça que a Starlink representa para os interesses chineses. Esses editoriais descreveram a Starlink e a SpaceX como parte da “hegemonia espacial” que os Estados Unidos estão tentando criar no espaço, dando a eles uma “vantagem militar espacial unilateral”.

Em consequência, a China passou a implementar o projeto “Constelação de Mil Velas”, que prevê o lançamento de satélites LEO para fornecer transmissões mais eficientes. Os satélites LEO são menores e ficam mais próximos da Terra do que os satélites convencionais, o que permite uma internet mais rápida e confiável.

O projeto, apoiado pelo Estado Chinês, é uma das respostas do país à Starlink e sua crescente constelação de banda larga comercial que tem perto ou até mais de seis mil satélites LEO no espaço para fornecer internet quase global a consumidores, empresas e agências governamentais.

Conforme matérias da BBC News Brasil e da Forbes, as principais redes chinesas de satélites são:

SpaceSail
Uma empresa privada de Xangai que pretende lançar até 15 mil satélites até 2030, embora, até agosto deste ano, tivesse apenas 18 satélites em órbita.

Shanghai Spacecom Satellite Technology (SSST)

Uma empresa estatal que lançou 18 satélites em órbita terrestre baixa (LEO) em agosto de 2024. A SSST planeja reduzir a altitude dos satélites para entre 300 e 500 km, permitindo a conexão direta com telefones celulares.
 
Geespace
Uma empresa privada que lançou 10 satélites em órbita baixa da Terra, e pretende lançar mais 72 para formar uma constelação com 6 mil unidades. Em comunicado relevante em setembro de 2024, a Geespace, empresa que pertence ao grupo da montadora Geely, confirmou que lançou um terceiro lote de satélites como parte do seu plano de oferecer internet estável em todo o mundo. Ao todo, a Geespace agora tem 30 satélites que podem cobrir 90% do planeta com serviços de comunicação 24 horas.
 
Trocar a Starlink pelos chineses seria a melhor decisão?

Como o Brasil não possui uma rede de satélites de comunicação e precisa conectar entidades públicas civis, escolas e organizações militares situadas em locais remotos, não há dúvida sobre a necessidade de escolher a melhor e mais eficaz rede internacional que disponibilize esse serviço. 

As informações públicas conhecidas até o momento indicam que a rede mais extensa, de maior alcance e com menor latência é a da Starlink, embora pouco se conheça sobre as redes chinesas, exceto o fato de que são bem menores e controladas, direta ou indiretamente, pelo governo deste país, mesmo as "privadas".

Além do custo para a troca do provedor, relativo a novos equipamentos e ao tempo para aquisição/instalação, e de uma possível perda de qualidade/alcance nas comunicações via Internet, subsiste a possibilidade de o Brasil vir a comprar uma briga comercial e política desnecessária com o empresário mais poderoso do futuro governo dos EUA e até mesmo com este governo. 

Por outro lado, o eventual trânsito de informações militares (ou provindas de militares, mesmo que teoricamente ostensivas) por uma rede de satélites chineses pode expor o Brasil a uma vulnerabilidade significativa em suas operações estratégicas e gerar uma crise de confiança com países não alinhados com a China.

Assim, cabe perguntar quais benefícios essa troca traria para o Brasil e se ela seria mesmo a melhor opção para o nosso País...

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