*Leonardo RC Araujo - Coronel de Infantaria
Era véspera de 27 de novembro de 1935...
O jovem 1º Tenente de Infantaria Taltibio Araujo, meu pai, servia no 3º Regimento de Infantaria, no Rio de Janeiro, e estaria de serviço como Oficial de Dia, no dia seguinte, 27, no 1º Regimento de Aviação (do Exército), localizado no Campo dos Afonsos. Não sabia ele que estava marcado para ser assassinado...
Como era solteiro, um companheiro seu, o 1º Ten Inf Danilo Paladini, solicitou-lhe que trocasse de serviço, ficando em seu lugar, já que era casado e Zelina, sua esposa, estava grávida e teria uma consulta médica no dia 28, quando ele estaria de Oficial de Dia.
Trocada a escala, Paladini assumiu e cumpriu suas tarefas normalmente pela manhã e pela tarde. A noite desse dia estava muito escura e a chuva caia a cântaros.
Em certa hora, o 1º Ten Paladini pegou a viatura para realizar uma ronda externa. Ao chegar no Corpo da Guarda, o 1º Ten Ivan Ramos Ribeiro, seu companheiro até o dia anterior, simplesmente levantou a janela de lona da viatura e, de imediato, desferiu um tiro de revólver calibre 45 nas costas do 1º Ten Paladini, sem ao menos verificar quem era. Não sabia ele que o serviço havia sido trocado... e que assassinara o Oficial errado.
Enquanto isso, diversos militares, alguns ainda dormindo, foram mortos a facadas ou a tiros em quartéis do Rio de Janeiro, principalmente no 3º RI e no Campo de Aviação dos Afonsos, onde esse Regimento também fazia a segurança. Era o início, no RJ, de uma tentativa de revolução armada liderada por Luis Carlos Prestes, Agildo Barata e outros líderes comunistas, mais tarde conhecida como a Intentona Comunista de 1935.
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Jornal O Globo - final de Nov 35 |
Prestes, Capitão do Exército e líder tenentista convertido ao comunismo, passou a estudar marxismo na Bolívia, para onde havia se transferido no final de 1928, quando a maioria dos integrantes da Coluna Miguel Costa / Prestes lá se exilara. Nesse país, travou contato com os comunistas argentinos Rodolfo Ghioldi e Abraham Guralski, este último dirigente da Internacional Comunista (IC).
Em 1931, mudou-se para a União Soviética, a convite deste país, continuando seus estudos marxistas-leninistas. Por pressão do Partido Comunista da União Soviética, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) o aceitou como filiado em agosto de 1934. Sendo eleito membro da comissão executiva da Internacional Comunista (IC), voltou como clandestino ao Brasil em dezembro, acompanhado pela alemã Olga Gutmann Benário, também membro da IC. Na época, a URSS criara em Montevidéu, Uruguai, o Secretariado Latino-Americano, que operava clandestinamente e tinha por objetivo aproximar de Moscou as organizações comunistas da América Latina. Olga e Prestes eram apoiados financeira e logisticamente através dessa organização.
Sob a capa de uma coligação denominada Aliança Libertadora Nacional, ALN, o Partido Comunista tentou deflagrar um golpe militar. Foi Prestes quem dirigiu o levante, em articulação direta com a direção da Internacional Comunista, que mantinha junto a ele um grupo de militantes comunistas internacionais, composto por sua companheira, a alemã e agente soviética Olga Gutmann Benário, o argentino Rodolfo Ghioldi, o alemão Arthur Ernest Ewert, Ranieri Gonzales e alguns outros militantes ligados ao Comitê Executivo da Internacional Comunista.
Militares comunistas ocuparam algumas unidades militares em Natal (23 e 24 Nov), em Recife (24 Nov), tendo, inclusive, assassinado companheiros desarmados. Depois, distribuíram armas e munições para simpatizantes civis. O movimento resultou em saques, furtos e depredações, e na ocupação de instalações governamentais e militares naquelas capitais.
Os combates mais intensos ocorreram no Rio de Janeiro, a partir do dia 27, no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha (histórico prédio da antiga Escola Militar), e no Regimento de Aviação. Ao final, os rebelados foram rapidamente derrotados, ao custo de 28 mortos legalistas (até 33, segundo outras fontes) e um número incerto de revoltosos, além de feridos e muita destruição. Dos três levantes comunistas de 1935, foi o de Pernambuco o mais sangrento, recolhendo-se 720 mortos só na operação na frente de Recife (Glauco Carneiro, em Histórias das Revoluções Brasileiras).
As próprias lideranças duvidavam do sucesso da rebelião, mas foram obrigadas pelo dever de obediência ao Comintern (Internacional Comunista), de Lenin. O governo chamou o movimento de “intentona”, ou “intento louco”, nome com o qual passou à História.
Em síntese, meu pai viveu, felizmente, mas o 1º Ten Danilo Paladini e outros tantos militares tombaram, alguns deles da mesma maneira covarde por aqueles que deveriam ser “irmãos de armas”, somente porque não professavam a mesma ideologia e representavam perigo para a "revolução comunista".
Matar um companheiro de armas dormindo, ainda sonâmbulo ou pelas costas não é combate, não é luta… é traição e covardia.
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Monumento no Rio de Janeiro aos militares e civis mortos pelo comunistas em 1935
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Em 1989, Irma Paladini Azevedo da Silveira, a filha do capitão Paladini, deu o seguinte depoimento: “Vi, tive em mãos, cuidadosamente guardada para mim por minha mãe, a farda que meu pai vestia quando foi morto. Ali estava nítida a marca do tiro que, pelas costas, lhe penetrara o pulmão, saindo pelo coração.”As famílias dos mortos pelos comunistas, tanto civis como militares, jamais receberam qualquer indenização. Danilo Paladini foi promovido post mortem a Capitão.
Assim, a cada 27 de novembro, presto a minha mais emocionada continência ao Capitão de Infantaria Danilo Paladini. Se não fosse por esse herói, minha família não existiria...
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Na foto acima (da esquerda para a direita e de cima para baixo), algumas
da vítimas da ação comunista: Tenente-Coronel Misael Mendonça, Capitão
Armando de Sousa e Mello, Capitão João Ribeiro Pinheiro,
Primeiro-Tenente Danilo Paladini, Primeiro-Tenente Benedicto Lopes
Bragança e Primeiro-Tenente Geraldo de Oliveira. |