Super Tucano A-29B da Força Aérea Filipina |
*LRCA Defense Consulting - 30/06/2024
O combate a drones russos, ucranianos, turcos, israelenses e iranianos é uma dor de cabeça constante, tanto na Ucrânia, como na Rússia e em Israel, assim como já o foi na Armênia e ainda é na Síria. E não se está tratando de minúsculos drones do tipo FPV usado por combatentes na frente de batalha, mas sim de artefatos não tripulados que são capazes de percorrer distâncias razoáveis e ir designar alvos, atacar, reconhecer e/ou vigiar instalações militares, comboios de suprimento, tanques, radares, sistemas de mísseis e outros alvos compensadores em território inimigo, como o turco Bayraktar TB2, o iraniano Shahed-136 e os russos Lancet, Eleron, Kub-BLA e Orlan-10, apenas para citar alguns mais conhecidos.
Para combatê-los, é usado um arsenal variado de armas terrestres, navais e aéreas, incluindo metralhadoras de vários calibres e sistemas, canhões do tipo Buschmaster, mísseis de diversos tipos, armas de interferência no espectro de frequências e, mais modernamente, canhões laser e canhões de pulso, cada uma com maior ou menor êxito conforme a situação.
No ataque iraniano a Israel, as centenas de drones lançados na sortida foram destruídas pelo eficiente sistema de defesa integrado dos aviões, navios e baterias antiaéreas terrestres de Israel e dos seus aliados na região, principalmente dos EUA, mas a um custo financeiro altíssimo e desproporcional ao custo da ameaça.
Vídeos mais recentes mostram o esforço de velozes e potentes caças F-16 israelenses tentando abater alguns lentos drones Shahed lançados sobre Israel. Os pré-programados Shahed não são manobráveis, mas podem voar baixo. Já um drone Lancet-3, por exemplo, é pilotado remotamente, o que torna sua caça bem mais difícil.
Uma criativa solução ucraniana
Para suprir a falta de uma defesa antiaérea mais eficiente e compatível com as ameaças dos drones russos, a Ucrânia improvisou uma aeronave de treinamento Yak-52 da era soviética para operações antidrones. Este uso criativo do Yak-52
apresenta uma estratégia de defesa aérea flexível e responsiva, adaptada
aos desafios modernos do conflito, principalmente no sul da Ucrânia, longe da frente ativa.
Os drones Lancet e Orlan, utilizados pela Rússia para vigilância e seleção de alvos, estão equipados com sensores eletro-ópticos e designadores de laser. A sua utilização extensiva na Ucrânia levou os ucranianos a procurar soluções eficazes e de baixo custo, como o Yak-52, para combater esta ameaça.
Esses Yak-52 modificados são operados pela Patrulha Aérea Civil da Ucrânia, um grupo composto principalmente por amadores e proprietários de aeronaves privadas. Enfrentando a crescente ameaça dos drones, esta unidade formou um Grupo de Aviação Tática destinado a neutralizar os UAV inimigos, demonstrando o uso inovador dos recursos disponíveis.
O Yak-52, embora não convencional, desempenha agora um papel crucial na rede de defesa aérea do país, destacando a adaptabilidade e resiliência das forças armadas ucranianas neste conflito prolongado.
Estes esforços são complementados por uma série de sistemas de defesa
aérea, desde equipes móveis armadas com metralhadoras até sistemas de
mísseis, ilustrando a resposta multifacetada da Ucrânia à ameaça
contínua dos drones.
Aviões a hélice simples com metralhadoras se mostraram realmente eficazes para abater drones russos |
Na pintura, os drones russos abatidos |
O Yak-52 é uma aeronave de treinamento militar projetada pelo Yakovlev
Design Bureau e introduzida pela primeira vez em 1979. É um monoplano de
asa baixa com assentos tandem, movido por um motor radial Vedeneyev
M14P de 360 cavalos (268 kW). Com peso vazio de 1.015 kg e peso máximo
de decolagem de 1.305 kg, combina robustez e agilidade para
treinamentos e competições acrobáticas.
Com uma envergadura de 9,3 metros, comprimento de 7,7 metros e altura de 2,7
metros, o Yak-52 pode atingir uma velocidade máxima de 285 km/h ao nível
do mar e uma velocidade de cruzeiro de 190 km/h a 1.000 metros. Sua
capacidade de realizar manobras em baixa velocidade, com velocidade de
estol de 85 a 90 km/h, o torna particularmente adequado para operações
como perseguição de drones em baixa altitude. Com teto de serviço de
4.000 metros e taxa de subida de 7 m/s, oferece sólido desempenho para
aeronave de treinamento e patrulha leve.
Atualmente, não se sabe explicitamente como os aviões Yak-52 conseguem destruir drones. No entanto, diversas modificações teóricas poderiam ser consideradas para adaptar estas aeronaves para missões antidrones. Primeiro, o Yak-52 poderia ser equipado com sistemas eletrônicos simples para bloquear ou interceptar comunicações entre os drones e seus operadores. Outra modificação potencial inclui a adição de pequenos armamentos, como metralhadoras leves ou lançadores de projéteis não guiados, que poderiam ser usados para abater fisicamente os drones de perto. Além disso, o Yak-52 poderia ser usado como isca para distrair drones de alvos mais significativos, permitindo assim que sistemas de defesa terrestre mais capazes engajassem os drones de forma mais eficaz.
Super Tucano: um super caçador de drones?
Nos meios militares de vários países já se comenta que um moderno e versátil avião a hélice de
ataque leve, o Embraer A-29 Super Tucano, seria uma solução ideal para operações antidrones, pois é extremamente manobrável, rápido, versátil e muito bem equipado com aviônicos avançados, sensores eletro-ópticos e infravermelhos, sendo capaz de transportar uma grande variedade de armas, incluindo metralhadoras, foguetes e munições guiadas com precisão. Seu design é extremamente resistente, permitindo operar de qualquer lugar. Além disso, é reconhecidamente experimentado em combate, e com muito sucesso.
Dificilmente a aeronave da Embraer poderia ser exportada para países que estejam atualmente em conflito. No entanto, a nova potencialidade do Super Tucano poderia torná-lo um alvo preferencial para forças aéreas de países da OTAN (na versão A-29N) que acompanham com preocupação a evolução do conflito Rússia x Ucrânia e querem se preparar para um possível embate com os russos em qualquer situação.
Na África, onde a aeronave já é utilizada por várias forças aéreas, tal potencialidade também deve chamar a atenção, especialmente em sua versão padrão, haja vista que, além das missões de ataque leve, reconhecimento e contrainsurgência, poderia ser a resposta adequada às recentes aquisições de drones efetuadas por muitos países. Aliás, esse continente já está sendo conhecido como "o novo playground para exportadores de drones", com destaque para os artefatos chineses, turcos e israelenses. Angola, Nigéria, Togo, Níger, Burkina Faso, Mali, Senegal, Etiópia, Líbia, República Democrática do Congo, Chade, Marrocos e Sudão são alguns exemplos.
Super Tucano versão
A-29N
A versão
A-29N do Super Tucano está especialmente configurada para atender às
exigências dos países da NATO (OTAN), tornando-o particularmente adequado às
necessidades da Força Aérea Portuguesa (FAP), por exemplo. A versão NATO inclui equipamentos e funcionalidades, tais como um novo datalink, single-pilot operation, entre outras modificações. Tais funcionalidades aumentam ainda mais as possibilidades de emprego da aeronave, permitindo, por exemplo, sua utilização em missões de treinamento JTAC (Joint Terminal Attack Controller). Os dispositivos de treinamento foram igualmente atualizados para os padrões mundiais mais exigentes, incluindo realidade virtual, aumentada e mista, oferecendo uma plataforma versátil para treinamento de pilotos
de caça.
O Super Tucano é uma
aeronave projetada para realizar diversas missões, incluindo
ataque leve, reconhecimento armado e treinamento tático. Destaca-se pelo
seu design robusto, capaz de resistir aos ambientes mais hostis e, ao
mesmo tempo, minimizar as necessidades de manutenção. Graças a uma
plataforma extremamente durável, ele pode operar em pistas despreparadas
e oferece alta capacidade de sobrevivência com recursos de proteção
ativa e passiva.
A cabine do A-29N foi projetada para reduzir a
carga de trabalho do piloto e maximizar a consciência situacional, com
uma interface homem-máquina avançada, ergonomia superior e
acessibilidade ideal. Os controles intuitivos permitem que o piloto se
concentre nos resultados da missão enquanto se beneficia de proteção
aprimorada com blindagem na cabine e no compartimento do motor (opcional). Os sistemas a
bordo incluem sensores eletro-ópticos/infravermelhos de última geração,
um designador de laser integrado para ataques precisos e sistemas
seguros de comunicação tática e navegação.
Em termos de
desempenho, o Super Tucano A-29N tem uma autonomia de 3,4 horas com combustível interno, estendendo-se para
5,2 horas com tanques externos e sensores EO/IR. Ele pode subir a uma
velocidade de 3.240 pés por minuto, com teto de serviço de 35.000 pés.
Sua capacidade de decolar e pousar em distâncias curtas (900 metros para
decolagem e 860 metros para pouso) o torna um grande trunfo para
operações a partir de bases avançadas.
A aeronave possui velocidade máxima de 520 km/h,
rápida o suficiente para oferecer uma pronta resposta a alvos aéreos detectados pelos radares terrestres, como helicópteros, pequenos aviões e drones. Sua velocidade de estol é de 148 km/h, permitindo-lhe manobrar e combater drones que naveguem próximo desta velocidade, mesmo em baixas altitudes, como a maioria dos citados nesta matéria.
O sistema de gerenciamento
de segurança (SMS) do A-29N é totalmente integrado, gerenciando cinco
estações padrão da OTAN e duas metralhadoras internas calibre .50. Esta
configuração permite grande flexibilidade no armamento, oferecendo mais
de 160 possibilidades de configuração para atender às necessidades
específicas da missão. O Super Tucano também é equipado com um
sofisticado sistema de proteção eletrônica, incluindo contramedidas
automatizadas e sistemas de alerta de radar e mísseis, além de assentos
ejetáveis zero-zero para segurança da tripulação em emergências.
O
A-29N também é reconhecido por sua solução logística integrada,
proporcionando amplo suporte da Embraer. Isto inclui serviços de
manutenção, gestão de peças sobressalentes e um centro de contacto com o
cliente 24 horas por dia, 7 dias por semana, para garantir a máxima
disponibilidade operacional da frota. A Embraer também oferece uma linha
completa de dispositivos e estações de treinamento em solo, reduzindo
as horas de voo necessárias para treinamento de pilotos, acelerando o
processo de aprendizagem e otimizando custos operacionais.
Portugal
será o cliente lançador da versão A-29N do Super Tucano
Portugal
será o cliente lançador da versão A-29N do Super Tucano, que a Embraer
lançou em 2023 como uma versão do turboélice de ataque leve em
conformidade com a OTAN. Este fato foi revelado pelo Ministro da Defesa Nacional
português, João Nuno Lacerda Teixeira de Melo.
A Força Aérea Portuguesa está
de olho em uma aeronave com capacidade para realizar missões de apoio
aéreo aproximado (CAS) e de inteligência, vigilância e reconhecimento
(ISR) em teatros de operações com infraestrutura limitada, bem como
treinamento avançado de pilotos. Portugal
procura entre oito e 12 aeronaves, disse o Diretor da Direção de
Engenharia e Programas da Força Aérea Portuguesa, Brigadeiro-General
João Rui Ramos Nogueira, a Janes em novembro de 2023.
A
aquisição destas aeronaves não só fortalecerá as capacidades de defesa
de Portugal, mas também apoiará as suas missões de manutenção da paz,
particularmente na África, onde o país está ativamente envolvido. Além disso, a FAP
já planejava implantar os Super Tucanos no 103º Esquadrão “Caracóis”,
retomando assim as operações de treinamento de pilotos que haviam sido
suspensas após a retirada do Alpha Jet em 2018.
A nova potencialidade de emprego antidrones, tanto para operações no teatro europeu, como para as missões de manutenção da paz na África, dá ao A-29N Super Tucano um trunfo extra para ser adquirido, não só por Portugal, como também por outros países da OTAN.
*Por "drones" entenda-se qualquer UAV ou VANT (veículo aéreo não tripulado), incluindo munições vagantes (loitering munition).
*Com informações adicionais de Army Recognition e Janes:
- Ukraine Uses Soviet-era Yak-52 Training Aircraft for Counter-UAS Operations Against Russia
- Portugal Announces Upcoming Acquisition of Super Tucano A-29N Aircraft
- Portugal selects Super Tucano light attack aircraft
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