*LRCA Defense Consulting - 27/05/2024
O interesse da Embraer no Oriente Médio e, especificamente, no Reino da Arábia Saudita, não é novo, mas se intensificou depois que este riquíssimo país implantou a iniciativa chamada de Vision 2030, pela qual decidiu abandonar a importação de quase tudo e fomentar a criação de uma poderosa base industrial e de serviços que lhe permita não depender somente das receitas do petróleo até 2030, gerando até 50% de seu PIB por meio dessa base.
Mais recentemente, em julho de 2022, a Embraer Defesa & Segurança resolveu aproveitar a obsolescência dos aviões militares de transporte sauditas e, visando ofertar sua aeronave multimissão C-390 Millennium ao país, celebrou acordos de
cooperação com a BAE Systems por meio de dois memorandos de entendimento
(MoUs, na sigla em inglês), um dos quais visou promover o C-390 nos
mercados do Oriente Médio (inicialmente no Reino da Arábia Saudita).
No entanto, foi só em 2023 que as negociações entre a Embraer e o Reino se intensificaram por meio da assinatura de diversos documentos, de visitas de parte a parte e de divulgações de interesses comuns, como pode ser constatado nos itens abaixo.
Em entrevista ao portal Defense Here, em 26/04/2023, o CEO da Embraer
Defesa e Segurança, Bosco da Costa Junior, falou sobre os mercados de
interesse da Embraer onde destacou a região do Oriente Médio, dizendo
“Temos nosso escritório em Dubai desde 2009. Então vemos esta região, a
região do Oriente Médio, como uma região muito importante e muito
estratégica para a Embraer”. Ele também afirmou que a Embraer está
buscando fortalecer suas parcerias com os países da região e ajudá-los a
localizar tecnologias, acrescentando que “estamos buscando oferecer
nossas soluções para a Arábia Saudita e também para os Emirados”.
Em 31 de julho de 2023, por ocasião da visita da maior delegação do Reino da Arábia Saudita que
já esteve no Brasil - liderada por Khalid Al Falih, Ministro do
Investimento desse país - ocorreu o Fórum de Investimentos Brasil /
Arábia Saudita, realizado na FIESP. Neste
evento, ficou no ar uma parceria com a Embraer citada pelo ministro
saudita em seu discurso. Segundo afirmou, ele visitaria a
Embraer, com quem teria sido firmada uma Parceria Público Privada. No entanto, nada foi divulgado posteriormente. Consultadas sobre a
visita e a parceria citada, tanto a Embraer como sua agência de
divulgação não ofereceram uma resposta sobre o assunto.
No dia 1º de agosto de 2023, em visita à Câmara de Comércio Árabe Brasileira (ABCC), uma delegação da federação saudita falou sobre as possibilidades de negócios no setor privado dos dois países. Durante
uma conversa sobre voos para países árabes, o presidente da ABCC,
embaixador Osmar Chohfi, sugeriu que a Arábia Saudita comprasse
aeronaves brasileiras para seus voos domésticos, e o secretário-geral
adjunto da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Arábia
Saudita (FSC), Waleed Alorainan, disse que está conversando com a
Embraer.
Em 29 de novembro de 2023, a saudita SAMI (uma subsidiária integral do Fundo de Investimento
Público (PIF) do Reino da Arábia Saudita) e a Embraer assinaram um Memorando de
Entendimento (MoU) para estabelecer uma cooperação em suas respectivas
indústrias aeroespaciais, priorizando defesa e segurança. Este
acordo visa expandir a presença operacional de ambas as empresas no
Reino da Arábia Saudita, com foco na promoção das capacidades da
aeronave C-390 Millennium e na prestação de apoio ao Ministério da
Defesa do reino. A SAMI e a Embraer trabalharão para estabelecer
capacidade de manutenção abrangente para as aeronaves da Embraer no
Reino. Além disso, ambas as empresas irão explorar um Hub Regional de
MRO e uma linha de montagem final para o Embraer C-390, bem como uma
integração de sistemas de missão no Reino. Além disso, a SAMI e a
Embraer participarão de atividades de treinamento, que permitirão a
abertura de novas oportunidades para ambas as empresas do setor
aeroespacial no Reino e na região.
No final de dezembro de 2023 uma delegação do Ministério da Defesa da Arábia Saudita conheceu as capacidades industriais e de engenharia em radares da
Embraer Defesa & Segurança e participou de uma demonstração do Radar
Saber M200 Vigilante, na área da 11ª Brigada de Infantaria Mecanizada
do Exército Brasileiro. Os sauditas acompanharam, ainda, uma
demonstração do Radar Sentir M20 no Comando Militar do Oeste, em Campo
Grande (MS).
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Sauditas e brasileiros com o Radar
Saber M200 Vigilante |
Em 30/12/2023, em matéria ressaltando as vantagens do C-390 sobre o Super Hércules, a imprensa grega publicou: "Talvez o momento mais significativo do programa de aeronaves seja a
assinatura de um acordo entre a SAMI da Arábia Saudita e a Embraer para a
construção local de até 33 aeronaves em substituição ao C-130H da Força
Aérea do Reino".
No início de janeiro deste ano, o Ministério de Investimentos do Reino (MISA), a Autoridade Geral da Avição Civil (GACA) e a Embraer firmaram um MoU visando reforçar a cooperação em investimentos no setor de aviação. Esta iniciativa está alinhada com a ambição da Arábia Saudita de se
tornar líder no setor da aviação regional na próxima década. Apoia
também os esforços mais amplos do país do Golfo para elevar o setor da
aviação e atingir o seu objetivo de atrair 150 milhões de visitantes
até 2030, acima do objetivo inicial de 100 milhões.
Em 05/02/2024, a Saudia Technic e a Embraer Serviços & Suporte assinaram um
Memorando de Entendimento (MoU) para iniciar colaboração em atividades
de manutenção e treinamento. O MoU tem como objetivo aprimorar a
cooperação em ambas as áreas, tanto na Aviação Comercial, com foco na
família de jatos E2, quanto na Aviação Executiva. O acordo foi firmado no World Defense Show 2024, evento que foi realizado em Riad de 4 a 8
de fevereiro.
Também durante o World Defense Show 2024, Emad Alrajih, Diretor de
Parcerias e Alianças da empresa saudita SAMI, mostrou-se impressionado
com o C-390, após conhecer pessoalmente a moderníssima e disruptiva
aeronave multimissão da Embraer.
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Emad Alrajih, Diretor de
Parcerias e Alianças da empresa saudita SAMI |
Em 19 de fevereiro deste ano, João Bosco Costa Junior, presidente da Embraer Defesa & Segurança, afirmou que “Acredito que no futuro – num futuro próximo – o KC-390 terá mais de uma linha de montagem no mundo”, diz Bosco. Mais
de duas linhas de montagem também não estão descartadas. Questionado se
a Embraer estaria aberta para gerenciar três linhas de montagem
globalmente, Bosco respondeu: “Poderia ser. Podem ser quatro!"
Em 04 de março de 2024, o vice-presidente para Oriente Médio e Ásia-Pacífico da Embraer Defesa
& Segurança, Caetano Spuldaro Neto, afirmou que cooperação tecnológica, oportunidade de desenvolvimento da indústria local de forma sustentável e acesso a novos mercados são os principais
potenciais da relação entre o Brasil e a Arábia Saudita no setor
aeronáutico. “Queremos transformar a Arábia Saudita em um hub da Embraer
na região”, disse o executivo durante o Brazil Saudi Arabia Conference,
que aconteceu em Riad, capital do país.
O vice-presidente da Embraer destacou, ainda, a oportunidade de
trabalhar com empresas locais e com o governo saudita para desenvolver a
cadeia de suprimentos local e o capital humano para que, no futuro,
possa ser possível desenvolver também novas tecnologias de forma
conjunta. “No segmento de defesa, estamos trabalhando próximo às
autoridades da Arábia Saudita para fomentar a oportunidade de aquisição
da aeronave C-390 por parte da Força Aérea Real Saudita, o produto
brasileiro mais inovador no segmento de transporte militar tático. A aquisição pode gerar uma
economia de US$ 2 bilhões para o país nos próximos 30 anos”, explicou.
Em 11 de março deste ano, o Ministro da Indústria e Recursos Minerais, Bandar Al-Khorayef,
testemunhou a assinatura de um memorando de cooperação entre esse Ministério e a Embraer.
Isto ocorreu na presença do Vice-Ministro dos Assuntos Industriais,
Khalil bin Salamah. O Ministério
explicou que
a assinatura do memorando surge com o objetivo de desenvolver os
setores da aviação no Reino, em linha com os objetivos da Estratégia
Nacional para a Indústria.
No dia 21/05/2024, durante a terceira edição do
Future Aviation Fórum em Riad, Arábia Saudita, o Centro Nacional de Desenvolvimento Industrial do Reino da Arábia
Saudita (NIDC), o Grupo AHQ e a Embraer assinaram
um Memorando de Entendimento (MoU) para discutir uma estratégia
conjunta de desenvolvimento do ecossistema aeroespacial local. O acordo tem como foco a adoção de aeronaves da Embraer pelo Reino da
Arábia Saudita. O MoU também tem o objetivo de explorar o
desenvolvimento de uma potencial cooperação tecnológica, da cadeia de
suprimentos e de capital humano entre as organizações, para alcançar a
excelência em produtos e serviços, avaliar as capacidades industriais e
novas oportunidades de negócios. Ainda como parte do acordo, a Embraer e a AHQ concordaram em analisar o
enorme potencial da família E2 para ser a aeronave escolhida para um
novo projeto de linha aérea na região.
Em 21/05/2024, também durante o Future Aviation Fórum, a Eve Air Mobility (da Embraer) e a Saudia Technic, fornecedora líder de serviços de
MRO no Oriente Médio, anunciaram a assinatura de um
Memorando de Acordo (MoA) para explorar a demanda potencial de
atividades de Manutenção, Reparo e Revisão (MRO) para aeronaves
elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOL) na região. O acordo
inclui treinamento em eVTOL MRO e avaliação dos requisitos e processos
de infraestrutura para a potencial remontagem do eVTOL da Eve na Arábia
Saudita.
Em 24 de maio deste ano, fontes árabes afirmaram que já foi tomada a decisão sobre a megalicitação para a aquisição de 33 aeronaves de transporte militar para a Arábia Saudita, cujo resultado será divulgado em breve.
C-390, EJets E2, linha de montagem e MRO
Em resumo, considerando todas as informações acima e os sólidos relacionamentos comerciais estabelecidos com entidades governamentais e empresariais sauditas neste último ano, tudo parece indicar que a Embraer poderá ser a empresa escolhida para fornecer as aeronaves militares de transporte (C-390) para o Reino, assim como também poderá fornecer os EJets E2 que mobiliarão a nova empresa aérea civil que está sendo organizada nesse país (vejas matérias abaixo).
Além disso, com base nas premissas da iniciativa Vision 2030, é bastante provável que a Embraer venha anunciar uma linha de montagem de aeronaves militares e civis na Arábia Saudita, além da necessária infraestrutura em MRO.
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Arábia Saudita quer estabelecer outra companhia aérea nacional
*reisetopia, por Beate - 26/05/2024
Além da Saudia e da recém-fundada Riyadh Air, outra companhia aérea nacional deverá agitar o mercado de aviação na Arábia Saudita no futuro. A fabricante brasileira de aeronaves Embraer também poderá desempenhar um papel decisivo.
Enquanto a nova companhia aérea nacional da Arábia Saudita, Riyadh Air, ainda tenta obter um certificado de operador aéreo (AOC), uma terceira companhia aérea nacional com sede em Dammam deverá surgir no segundo semestre do ano. No Fórum da Aviação do Futuro em Riade, foi anunciado que o Centro Nacional de Desenvolvimento Industrial estatal e o grupo industrial privado AHQ Group assinaram um memorando de entendimento. É aqui que entra a fabricante de aeronaves Embraer. Em última análise, será desenvolvida uma estratégia comum de desenvolvimento de mercado, como relata a companhia aérea.
O essencial em resumo:
- Espera-se que uma nova companhia aérea nacional da Arábia Saudita com sede em Dammam seja fundada este ano.
- O objetivo é atender um segmento de mercado que atualmente é mal atendido.
- Detalhes importantes como modelo de negócio, estrutura acionária e informações sobre a frota potencial permanecem desconhecidos.
Um país – muitas companhias aéreas
A Arábia Saudita está planejando lançar uma nova companhia aérea nacional este ano – presumivelmente como sucessora da Saudi Gulf Airlines. A Saudi Gulf Airlines encerrou as operações em 2020 antes de desaparecer completamente de cena em 2021. Agora, a ideia de uma companhia aérea nacional com sede em Dammam será retomada.
De acordo com Awad Al-Salami, vice-presidente da Autoridade Geral de Aviação Civil (GACA), a nova companhia aérea atenderá um segmento de mercado atualmente carente. Isto poderia incluir vários destinos africanos, bem como cidades sauditas, como relata o Aerotelgraph.
Detalhes importantes ainda desconhecidos
Embora alguns aspectos sobre a nova companhia aérea nacional da Arábia Saudita sejam agora conhecidos, detalhes cruciais permanecem em aberto por enquanto. Por exemplo, não há informações sobre a estrutura de propriedade. O modelo de negócio e as informações sobre a frota potencial também permanecem ocultos. Porém, especula-se que aeronaves da família E2 da fabricante brasileira de aeronaves Embraer possam se tornar interessantes neste contexto. Por fim, a Embraer está atualmente avaliando o potencial da família E2 como aeronave preferida para um novo projeto de companhia aérea na região, conforme confirmado pela fabricante da aeronave. Resta saber se isto está realmente relacionado com a planeada companhia aérea nacional adicional do país.
O que é certo, porém, é que a nova companhia aérea nacional da Arábia Saudita terá sede em Dammam.
Em última análise, a Saudia quer retirar-se do aeroporto da capital nacional (Aeroporto Riyadh King Khalid) até 2030 e entregá-lo à recém-fundada Riyadh Air, o que significa que Jeddah (pela Saudia) e Riyadh (pela Riyadh Air) serão cobertas.
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Arábia Saudita anuncia a criação de outra companhia aérea
*airliners - 23/05/2024
A Arábia Saudita planeja lançar uma nova “companhia aérea nacional” no segundo semestre do ano, anunciaram autoridades no recém-concluído Fórum da Aviação do Futuro em Riad.
Nesse contexto, o estatal Centro Nacional de Desenvolvimento Industrial e o grupo industrial privado AHQ Group assinaram um memorando de entendimento para discutir uma estratégia conjunta de desenvolvimento de mercado com a Embraer.
Como Mohammed Al Khuraisi, vice-presidente de Estratégia e Inteligência de Negócios da Autoridade Geral de Aviação Civil (GACA), disse ao jornal de negócios Maaal, a nova companhia aérea terá sede em Dammam.
Awad Al-Salami, outro vice-presidente da GACA responsável pela política econômica e serviços de logística, disse ao jornal Asharq Al-Awsat que a nova companhia aérea servirá um segmento de mercado atualmente mal servido. Nenhum dos funcionários forneceu mais informações sobre a propriedade, modelo de negócios, frota ou rede de rotas da potencial start-up.
Enquanto isso, a fabricante brasileira afirmou que seu acordo com o Grupo AHQ inclui uma “avaliação mais aprofundada do grande potencial da família E2 como aeronave preferida para um novo projeto de companhia aérea na região”. Não está claro se este acordo está relacionado com os planos da nova companhia aérea.
Não há necessidade de jatos regionais
No passado, as companhias aéreas comerciais dos estados do Golfo evitaram os jatos regionais. As únicas exceções foram Gulf Air e Oman Air, que usaram E170 e E190 entre 2010 e 2013 e E175 entre 2011 e 2022.
A Salam Air será a primeira – e por enquanto única – operadora do E2 na região. A companhia aérea encomendou seis E195-E2, com entrega programada a partir de 2025.