*LRCA Defense Consulting - 14/04/2024
O ataque do Irã a Israel, a partir do seu território, inaugura uma nova fase nos conflitos do Oriente Médio e evidencia o quão próxima pode estar uma conflagração geral na região e, também, no mundo, bastando um pequeno erro de cálculo ou uma decisão equivocada de alguma das partes envolvidas. Tal situação é agravada pelo apoio ostensivo da Jordânia e velado (ou não) da Arábia Saudita - dois países árabes - nas ações contra os drones e mísseis iranianos.
Sem dúvida, esse fato deverá trazer consequências importantes para as empresas de defesa brasileiras que exportam seus produtos para a região ou que nela já produzem localmente, ou ainda que estão em vias de ali produzir, seja por estar participando de importantes licitações, seja por se encontrar em negociações para uma futura produção local.
É importante observar que, além da região do Oriente Médio em si, a Índia surge como uma potência bélica e econômica vizinha que tem grande interesse em manter livre a rota marítima para a Europa, tanto para escoar seus produtos como para receber outros que lhe são necessários. Além disso, o país já possui uma forte presença militar na área, com sua marinha de guerra patrulhando o Mar Vermelho e atuando ativamente contra os rebeldes Houthis, em uma clara demonstração de seu poderio naval, principalmente em oposição afirmativa à crescente influência da China no mar.
Em qualquer caso, o acirramento das tensões no Oriente Médio pode também estimular outros focos de tensão na região do Indo-Pacífico, principalmente o risco permanente de a China invadir Taiwan e o de a Coreia do Norte cumprir suas ameaças de guerra contra a Coreia do Sul e o Japão, passando por outros, como as questões de fronteira entre Índia e China, Índia e Paquistão, Paquistão e Irã etc.
Neste cenário, há algumas grandes empresas brasileiras que possuem fortes interesses em países dessas regiões, sendo Akaer, CBC, Embraer, Mac Jee, SIATT e Taurus Armas as principais.
A Akaer participa do programa HÜRJET, da Turkish Aerospace Industry (TAI), uma aeronave de treinamento avançado e ataque leve turca para dois
ocupantes em configuração tandem. Capaz de operar em velocidades
supersônicas e equipado com aviônicos modernos, foi projetado para
atender a demanda por treinadores capazes de preparar pilotos para os
desafios trazidos pelos novos caças de 5ª geração.
A CBC está com uma fábrica pronta na Índia, em joint venture com a SSS Defence, só aguardando as últimas licenças governamentais. Na Arábia Saudita, a empresa está próxima de firmar uma joint venture para estabelecer produção local.
A Embraer, após vencer a licitação da Coreia do Sul para fornecer aeronaves de transporte, está em vias de fornecer 33 aeronaves C-390 Millennium para a Arábia Saudita, podendo estabelecer uma joint venture para produção local, além de ter firmado acordos relativos à aviação comercial e militar. Na Índia, a gigante brasileira participa de uma megalicitação de 40 a 80 aeronaves de transporte, onde o C-390 é um dos favoritos, haja vista sua característica multimissão e demais vantagens frente aos concorrentes.
A Mac Jee é uma grande exportadora de bombas, foguetes e munição de artilharia para o Oriente Médio, possuindo ainda uma unidade fabril de explosivos militares na Arábia Saudita em vias de conclusão.
A SIATT, que teve 50% de seu capital adquirido pelo EDGE Group, dos Emirados Árabes Unidos, deverá ver um grande incremento na produção de mísseis antinavio MANSUP e MANSUP ER direcionados a países da região.
A Taurus Armas iniciou as atividades produtivas de sua fábrica na Índia no mês passado, já venceu uma primeira licitação de submetralhadoras para o Exército Indiano e está participando das etapas finais da maior licitação de armas leves do mundo, por meio da qual esse país irá adquirir 425 mil fuzis CQB para suas forças armadas. Na Arábia Saudita, a empresa está em vias de firmar uma joint venture para a produção local de armas leves (pistolas, submetralhadoras e fuzis) para equipar as Forças Armadas Sauditas.
O fato é que, com o acirramento das tensões, a Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio, bem como a Índia, Filipinas, Indonésia e Malásia, no Indo-Pacífico, necessitarão agilizar medidas para fortalecer os seus meios bélicos e de segurança que estiverem deficientes, dada à nova urgência com que podem ser requisitados.
O agravamento da situação no Oriente Médio traz também consequências para algumas das empresas que concorrem diretamente com as brasileiras e que estão (ou não) localizadas na região, haja vista que que o respectivo país-sede pode vir a necessitar de toda a sua produção, caso esteja diretamente envolvido em um conflito ou haja uma possibilidade real desse envolvimento no curto prazo. É o caso de Israel, por exemplo, que terá dificuldades para exportar armas e munições; inclusive, recentemente, precisou importar uma grande quantidade de fuzis dos EUA, apesar de possuir duas grandes empresas que os produzem.
Por outro lado, o Brasil emerge como um país que possui uma indústria de defesa que, apesar de limitada na diversidade de produtos, é dotada de alta capacidade e tecnologia, qualidade de nível mundial e bom volume de produção (em alguns casos), com condições de suprir necessidades importantes das forças armadas do Oriente Médio, do Indo-Pacífico e de outras regiões que também venham a necessitar, especialmente no que diz respeito a armamento leve, explosivos, munições, bombas, foguetes (e seus lançadores), mísseis, drones, radares e aeronaves (transporte, AEW&C ou treinamento e ataque leve/ao solo).
Além disso, o Brasil está suficientemente distante, possui razoável estabilidade política e, por enquanto, não está diretamente alinhado a nenhum dos lados envolvidos nos atuais conflitos.
Devido a esse somatório de fatores, esta Consultoria acredita que alguns países dessas regiões, particularmente Arábia Saudita e Índia, devam aligeirar decisões relativas a aquisições diretas, processos licitatórios e estabelecimento de joint ventures com foco em empresas brasileiras da área de defesa.
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