Pesquisar este portal

29 janeiro, 2024

Desinvestimento na Defesa: avaliando o impacto da decisão - ou omissão - do BB


*Por Rodrtigo Campos, via LinkedIn - 29/01/2024

A recente decisão do Banco do Brasil de suspender financiamentos para a indústria de defesa e segurança não é apenas um revés para a "Missão 6" da Nova Indústria do Brasil recém-lançada pelo Governo Federal, que busca autonomia tecnológica, mas também representa um desafio significativo para um setor que é um robusto motor de inovação e um grande contribuinte para o PIB nacional, com cerca de 4% de participação, além de ser um empregador significativo com aproximadamente 3 milhões de trabalhadores.

Precisamos falar desse elefante que está na sala dos setores Defesa e Financeiro.

Uma breve análise da reportagem da Folha
A matéria de Julio Wiziack na Folha, datada de 29 de janeiro de 2024, joga luz sobre uma escolha controversa do Banco do Brasil (BB) de interromper o uso de capital próprio para negócios com a indústria de defesa. Essa decisão pode levar empresas do setor a enfrentarem dificuldades financeiras severas, comprometendo a sobrevivência de atores importantes no mercado.

Profundidade nos questionamentos à decisão do BB
Desalinhamento com Políticas Nacionais: a postura do BB contradiz a política industrial do Governo Federal, que enfatiza a importância da indústria de defesa para a soberania nacional. O desinvestimento em um setor estratégico sugere um desalinhamento grave com as prioridades nacionais.

Impacto econômico e social profundo: o setor de defesa e segurança, além de contribuir com 4% do PIB, oferece emprego a milhões. A falta de suporte financeiro do maior banco do País pode causar danos extensos à economia.

Interferência nas garantias de exportação: a retirada do BB das garantias de exportação cria um obstáculo significativo para a competitividade internacional das empresas brasileiras.

Responsabilidade social corporativa e sustentabilidade: é essencial reconhecer que a indústria de defesa vai além do armamento e inclui inovações em setores como comunicação e saúde. O setor frequentemente lidera em tecnologias limpas e eficientes, alinhando-se com práticas sustentáveis.

Equilíbrio entre riscos e oportunidades estratégicas: o BB argumenta a observância de boas práticas bancárias, mas estas não devem excluir o apoio a setores estratégicos. Instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial equilibram riscos e responsabilidades corporativas com investimentos em setores chave.

BB, chame e escute os especialistas no tema
É vital compreender a Indústria de Defesa dentro de um contexto histórico e global. Historicamente, muitas das inovações tecnológicas mais significativas originaram-se neste setor, incluindo avanços em comunicações, computação, engenharia, saúde e outros.

No cenário global, países como os Estados Unidos, China e Israel têm investido maciçamente em sua Indústria de Defesa, reconhecendo seu papel estratégico não apenas em termos de segurança nacional, mas também como impulsionadores de inovação tecnológica e crescimento econômico.

O financiamento da Indústria de Defesa vai além do suporte às operações correntes; é um investimento no futuro tecnológico do país.

A inovação nesta área tem um impacto significativo em outros setores, incluindo saúde, energia e infraestrutura. A falta de financiamento adequado pode resultar em um atraso no progresso científico do Brasil e na aplicação de novas tecnologias, afetando a competitividade global do País.

Para manter e promover a indústria de defesa, é essencial que as instituições financeiras brasileiras, em colaboração com o governo, desenvolvam estratégias de financiamento integradas. Isso pode envolver a criação de fundos específicos para a indústria, incentivos fiscais para pesquisa e desenvolvimento, e programas de garantia para exportações de produtos de alta tecnologia.

Uma abordagem holística e estratégica ao financiamento pode garantir que o Brasil não apenas mantenha sua capacidade defensiva, mas também se posicione como líder em inovação tecnológica.

Uma conclusão inevitável

 A decisão do BB de suspender seus financiamentos à Indústria de Defesa não apenas põe em risco o avanço estratégico e tecnológico do Brasil, mas revela uma compreensão limitada sobre a relevância multifacetada dessa indústria.

Essa decisão parece refletir menos um alinhamento com uma agenda de investimentos sustentáveis – que nem sempre o são de fato – e mais uma falta de reconhecimento sobre a importância estratégica dessa indústria.

A garantia da soberania nacional e a manutenção da autodeterminação, que inclui a capacidade de preservar e, quando necessário, impor os interesses nacionais, estão intrinsecamente ligadas à força e resiliência da Indústria de Defesa. Essa indústria tem reflexos em todos os setores da economia nacional, influenciando desde a inovação até a estabilidade política e econômica.

Exemplos recentes, como o conflito na Ucrânia, demonstram claramente a importância de uma indústria de defesa robusta. Além disso, situações de tensão como o "quase" conflito entre Guiana e Venezuela servem como lembretes oportunos da necessidade de uma defesa nacional forte.

Estes eventos reforçam a ideia de que a segurança e a soberania de um país são fundamentais para sua estabilidade e prosperidade.

O Brasil, dotado de imensas riquezas naturais, como minérios, petróleo, biodiversidade e reservas de água, necessita de uma Indústria de Defesa capacitada para proteger esses recursos vitais. Uma indústria sólida não é apenas um pilar de segurança, mas um guardião dos tesouros naturais e econômicos do país.

Portanto, é imperativo que o BB e outras instituições financeiras reconheçam o papel vital da indústria de defesa e reconsiderem suas políticas de financiamento, para assegurar que o Brasil não apenas mantenha sua soberania e autodeterminação, mas também continue na vanguarda da inovação tecnológica global, promovendo o desenvolvimento socioeconômico e a proteção de seus recursos valiosos.

*Rodrigo Campos é CEO da InsurBirds, especialista em Financiamentos e Economia de Defesa e pesquisador do Ecossistema Financeiro da Indústria de Defesa e Segurança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque