Pesquisar este portal

15 novembro, 2023

Na Arábia Saudita, Taurus & CBC podem criar um forte ecossistema logístico para as Forças Armadas e para exportação

Imagem meramente representativa da parceria da Taurus & CBC com a saudita SCOPA Defense

*LRCA Defense Consulting - 15/11/2023

Divulgado ontem (14), o acordo de transferência de tecnologia de ponta e de fabricação local entre a empresa saudita SCOPA Defense e a brasileira Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) está em linha com o grande projeto Visão Saudita 2030 para produzir no Reino da Arábia Saudita a maior parte das necessidades de defesa deste país até 2030. 

Aliando esse acordo com o provável acordo definitivo entre a SCOPA e a Taurus, o binômio de defesa Taurus & CBC passará a fabricar armas leves e munições na Arábia Saudita, criando um ecossistema logístico completo, sinérgico e facilitador para o Exército Saudita e para as demais forças militares e de segurança do país. 

No entanto, a ideia dos sauditas é explorar também estratégicas e promissoras oportunidades no mercado externo, principalmente nos países em que possui forte influência política e/ou econômica. Como a Taurus escreveu no Fato Relevante em que divulgou seu acordo inicial com a SCOPA: "O objetivo da joint venture será a fabricação de armas Taurus no Reino da Arábia Saudita e comercialização em toda a região do GCC (Cooperation Council for the Arab States of the Gulf), que tem como membros os seguintes países: Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã".

Além disso, o ministro de Investimentos do Reino da Arábia Saudita, Khalid Al Falih, declarou em julho deste ano, quando de sua visita ao Brasil, que as iniciativas do Reino podem alcançar uma parte da grande região MENA, composta por 19 países do Oriente Médio e do Norte da África.

Ocupando novos e importanters nichos mercadológicos, Taurus & CBC visam ter uma posição de proeminência nessas regiões, pois podem oferecer um portfólio completo, adequado, tecnológico e com custo/benefício muito competitivo, capaz de atender as mais diversas necessidades das forças armadas e de segurança, além dos civis aficionados por esses tipos de armamento.

Os entendimentos com a SCOPA Defense estão no âmbito do planejamento estratégico da Taurus e da CBC no sentido de avançar no mercado internacional, estabelecendo parcerias de grande benefício mútuo, principalmente em países com expressivo crescimento e grande potencial, como também é o caso da Índia (onde ambas estão presentes) pois, assim, as duas multinacionais brasileiras de defesa ampliam e potencializam a diversificação geográfica em termos de produção e vendas.

Em síntese, embora uma das principais motivações da Taurus e da CBC seja a de fornecer seus produtos para um dos maiores compradores de armas e munições do mundo, o fato de passar a ter a Arábia Saudita como um forte país parceiro e base de exportação para mercados hoje inacessíveis às duas empresas, pode se tornar uma estratégia paralela de grande sucesso, pois irá ao encontro dos objetivos de ambas e da Visão 2030 do Reino.

Região MENA

Para que seja melhor entendido o que significa esse país em termos de mercado de defesa para os produtos brasileiros, esta Consultoria traz novamente um levantamento que realizou sobre aspectos importantes da Arábia Saudita, especialmente aqueles que podem influenciar os negócios em andamento com a Taurus Armas e com a CBC.

Em termos desse mercado, o foco do Programa Visão 2030, como poderá ser visto abaixo, é a fabricação local de armamentos, munições e demais materiais de Defesa em parceria com renomadas empresas estrangeiras, possibilitando que mais de 50% dos gastos militares do Reino sejam destinados ao seu próprio parque industrial.

Visão 2030 - o grande plano saudita de 15 anos
O Plano Visão 2030, anunciado pelo governo saudita em 2015, mudou economicamente a Arábia Saudita nos últimos anos e é esperado que continue mudando.

Até 2015, o petróleo respondia por cerca de 75% das receitas orçamentárias, 40% do PIB e 90% das receitas das exportações. O "vício do ouro negro" acostumou os sauditas a comprar tudo o que precisavam, pois sempre houve dinheiro farto e era muito mais barato importar do que produzir localmente.

No entanto, o atual governo vislumbrou que o país não poderia manter a dependência da renda petroleira e o enorme gasto público diante de um cenário de grandes mudanças que estão acontecendo no mercado energético internacional (variações enormes nos preços do petróleo, surgimento de fontes alternativas não poluentes e política mundial contra o uso de combustíveis fósseis) e de tendências demográficas que indicam aumento significativo no número de sauditas em idade produtiva até 2030.

A ascensão do príncipe Mohamed Bin Salman (foto) no cenário político saudita e o declínio dos preços do petróleo em 2014 incentivaram o desenvolvimento do plano como meio de abandonar ou, pelo menos, diminuir grandemente essa dependência e diversificar a atividade econômica, abrindo amplamente as portas para o envolvimento de um setor privado ativo e facilitando a entrada dos investimentos estrangeiros no país. Assim, um dos pilares do Visão 2030 é justamente transformar a Arábia Saudita em um centro de investimentos globais.

Desde 2015, o PIB saudita cresceu 66% e, atualmente, é a economia que cresce mais rápido entre as dos países que compõem o G20.

Em todo o mundo, o produto interno bruto 2022 foi de 12.025 dólares per capita. Em contraste, o PIB da Arábia Saudita atingiu 31.855 dólares por habitante, ou 1,052 trilhão de dólares para o país como um todo, prevendo chegar a 1,6 trilhão de dólares em 2030. A Arábia Saudita é, portanto, uma das grandes economias do mundo e ocupa atualmente a 17ª posição.

Segundo análises sauditas, a elevação de produtividade por meio da reforma econômica permitirá ao país duplicar seu PIB e criar até 6 milhões de novos empregos até 2030. Com as reformas, Riad pretende elevar sua renda não petroleira, de US$ 43,6 bilhões em 2015 para US$ 267 bilhões em 2030. 


Gastos com Defesa
Historicamente, a Arábia Saudita gastava, em média, 6% a 7% do PIB ao ano, ou seja, algo próximo a 70 bilhões de dólares com seu setor de defesa. Com 7,4% em 2022, o Reino gastou mais de seu produto interno bruto (PIB) em defesa do que qualquer outro país, exceto a Ucrânia, atingindo cerca de 75 bilhões de dólares. Somente os gastos recorrentes com armas e munições, perfazem um total estimado de US$ 1 bilhão por ano. Tais números tornam o país um dos que mais investem em defesa, sendo o 5º no ranking mundial.

Toda a região do Oriente Médio viu seus gastos com defesa chegarem a US$ 184 bilhões em 2022.

Efetivos militares e de segurança
As Forças Armadas da Arábia Saudita têm um efetivo total de cerca de 258.000 integrantes ativos, sendo aproximadamente 125.000 sob o Ministério da Defesa e Aviação, dos quais 75.000 nas Forças Terrestres, 15.000 nas Forças Navais (incluindo cerca de 3.000 fuzileiros navais) e 35.000 na Força Aérea, Defesa Aérea e Forças de Mísseis Estratégicos. Além disso, há 130.000 militares na Guarda Nacional (SANG).

A Guarda Nacional, também conhecida como Exército Branco, é uma força terrestre separada do Ministério da Defesa, e é responsável pela segurança interna, proteção da família real e ameaças externas. A Guarda Real é uma estrutura separada das Forças Armadas cuja principal responsabilidade é a segurança e proteção da família real saudita. A Guarda Real também fornece segurança e proteção às delegações e autoridades convidadas durante as visitas oficiais ao Reino. A Guarda Nacional, a Guarda Real e a Guarda de Fronteira estão sob a tutela do Ministério da Guarda Nacional.

As funções de polícia, investigações e manutenção de ordem pública são de responsabilidade do Ministério do Interior, estando sob seus cuidados as forças de segurança especiais e as forças de proteção às infraestruturas (refinarias de petróleo, portos, aeroportos). São cerca de 50.000 policiais, equipados com armas leves e recrutados em todas as regiões do Reino.

Em 2017, através de um decreto real, foi criada a Presidency of State Security (PSS), um órgão de segurança que combina os serviços de contraterrorismo e inteligência doméstica sob um mesmo comando. A PSS é responsável pelos assuntos relacionados à segurança de estado e é supervisionada pelo rei. Os integrantes da PSS são oriundos das demais forças de segurança e agências existentes.


O serviço militar não é obrigatório na Arábia Saudita. Em 2018, as mulheres foram autorizadas a se alistar nas forças armadas. No entanto, seus trabalhos não envolviam combate, mas lhes davam a oportunidade de trabalhar na segurança e no controle de passaportes. No ano seguinte, foi permitido às mulheres ingressar nas forças armadas como combatentes e, em 2021, as primeiras recrutas do país se formaram no Centro de Treinamento de Quadros Femininos das Forças Armadas.

A mudança para permitir que mulheres entrassem no exército saudita veio como parte da iniciativa Visão 2030 do Reino, que busca reformar quase todos os aspectos da vida e do governo. Um aspecto é o empoderamento das mulheres e a igualdade de gênero em todos os campos.

Controle da fabricação local de armamento leve e sua munição

A Military Industries Corporation (MIC) é uma empresa estatal fundada em 1953 e controlada pelas Forças Terrestres, sob a tutela do Ministério da Defesa. Em 2017, a MIC tornou-se uma subsidiária da Saudi Arabian Military Industries (SAMI), após a criação desta. Por mais de vinte anos, as empresas europeias tiveram forte influência e acesso ao mercado local, estabelecendo parcerias com a MIC para fabricação de armas leves (H&K) e munições de pequenos calibres (a FN montou diversas linhas na MIC). Porém, pelo passado recente de decisões dos governos europeus contrárias aos interesses sauditas, o governo local tem procurado outros fabricantes que possam minimizar o risco de não-fornecimento e acesso à tecnologia.

M
eta de nacionalizar mais de 50% dos gastos militares do país até 2030

Em 2017, foi criada a GAMI - General Authority for Military Industries (Autoridade Geral das Indústrias Militares), uma entidade governamental criada pelo Conselho de Ministros. A GAMI é a autoridade para as indústrias militares e para a centralização de aquisição de produtos de defesa, sendo o órgão regulador do setor e o principal fomentador das indústrias militares sauditas.

Cabe à GAMI desempenhar um papel fundamental na consecução das metas estabelecidas pelo plano desenvolvimentista denominado Visão 2030, que inclui uma meta de nacionalizar mais de 50% dos gastos militares do país até 2030. A GAMI é responsável por orientar o setor das indústrias militares, estabelecendo seus regulamentos, monitorando seu desempenho, desenvolvendo os recursos necessários e gerenciando a aquisição militar (sistemas militares, equipamentos e serviços para todas as entidades militares) para garantir o crescimento e a sustentação das indústrias militares locais.

O mandato do GAMI abrange tanto as entidades de defesa como de segurança em matéria de aquisições/parcerias. Em síntese, é a GAMI que pode definir os padrões e centralizar todo o processo de aquisição e de parcerias das forças militares e de segurança no Reino, otimizando os recursos e estimulando a indústria local.
Production).


Armamento leve e munições disponíveis no Reino
O armamento leve padrão presente nas Forças Terrestres, Força Aérea, Marinha e Defesa Antiaérea & Forças de Mísseis Estratégicos inclui os seguintes modelos e marcas:

1) Pistolas: FN (High Power), SIG Sauer (P226), Heckler & Koch (H&K P9) e Glock (17 e 19) são as fabricantes mais presentes nas FFAA e forças de segurança. O calibre padrão é 9mm. Há dezenas de outros fabricantes e plataformas em uso, uma vez que, até um passado recente, cada usuário poderia definir sua compra. O calibre de escolha, em geral, é o 9mm Parabellum. Não há produção local de pistolas.

2) Fuzis de Assalto/Carabinas: H&K G3 (fabricado localmente sob licença alemã, porém a unidade está atualmente inoperante e obsoleta), H&K G36 (fabricado localmente sob licença alemã), H&K 33E, FN SCAR-H, FN P90, FN FAL, Kalashnikov (AKM, AKMS e AK 103; este último é fabricado sob licença e amplamente empregado pelo Joint Forces, em operações no conflito ao sul do país), Colt M16A2, Colt M4 e Steyer AUG A3. O calibre padrão é 7,62x51mm para os fuzis (exceto para os Kalashnikov, que usam o 7,62x39mm) e 5.56x45mm para as carabinas e M16.

3) Submetralhadoras: H&K MP5 (era fabricada localmente sob licença alemã, mas a unidade está hoje inoperante e obsoleta) e Beretta M12. O calibre padrão é 9mm.

4) Munições para armas leves: o país produz munições para os calibres 9x19mm (pistolas e submetralhadoras), 5.56x45mm (carabinas e M16) e 7.62x51mm (fuzis de assalto, exceto os AK), mas ainda lhe falta quantidade e tecnologia de ponta para atender todas as necessidades de suas Forças Armadas e de Segurança.


Informações relevantes sobre o mercado saudita
A informação mais relevante é que o governo alemão, país de origem das armas Heckler & Koch (HK), não autorizou a renovação da licença de fabricação e, portanto, a MIC somente poderá fabricar armas enquanto durarem os estoques de peças e matéria-prima. De forma semelhante, a empresa belga FN Herstal também está impossibilitada de realizar novas vendas ou produção no país, uma vez que o parlamento belga, seguindo a decisão do governo alemão, cerceou o acesso saudita às armas e munições leves fabricadas pelas empresas de seu país.

A estimativa é de que, nos próximos três anos, o mercado potencial somente de pistolas 9mm seja de 30 a 50 mil armas por ano e de 20 a 30 mil fuzis de assalto e carabinas por ano, podendo tais números serem fortemente majorados com o estabelecimento da joint venture entre a Taurus e a SCOPA, haja vista que essa nova empresa passará, então, a ter o apoio e o fomento do governo saudita, pois a GAMI oferece preferência de compra ao material produzido localmente. Não estão inseridos nessas estimativas os consumos anuais do mercado civil de pistolas 9mm, que é pouco expressivo, e o do mercado de segurança privada.

Em resumo, além de não haver produção local de pistolas, a Arábia Saudita não conseguirá manter sua produção de fuzis de assalto, carabinas e submetralhadoras, haja vista as questões políticas e geopolíticas envolvidas.


Conclusões
Em síntese, um dos países mais ricos do mundo e que mais gastam em Defesa não possui, em termos operacionais, uma indústria própria de armamento leve e de munições com tecnologia de ponta, e quer estabelecê-las com urgência. Assim, a SCOPA Defense - sua empresa predominante de Defesa - assinou um Memorando de Entendimento em julho deste ano para estudar uma parceria com a Taurus Armas para esse fim. De forma semelhante, SCOPA e CBC firmaram agora um acordo para a fabricação de munições no país saudita.  

Sem dúvida, tais acordos se devem ao elevado conceito mundial das duas multinacionais brasileiras em produzir armas e munições modernas que embutem um alto nível de inovação, tecnologia e confiabilidade.

Se tudo for acertado, as unidades fabris da Taurus & CBC poderão passar a ser as fornecedoras oficiais de armamento leve e munições para o Reino da Arábia Saudita, podendo ainda exportar seus produtos para os países do Conselho de Cooperação do Golfo e da Região MENA, aos quais não tem acesso atualmente.

Para além disso, a concretização dos negócios tende a levar a Taurus e a CBC para um  patamar ainda mais elevado no universo das fabricantes internacionais de armamento leve e de munições, capaz de viabilizar novos e importantes negócios nos mercados militar, policial e civil de outros países.
 
Por fim, vale notar que, em 2024, é bastante provável que as unidades fabris da Índia e da Arábia Saudita já estejam produzindo e abastecendo dois dos maiores mercados mundiais capitalistas para armas leves: Ásia e Região MENA, concretizando o planejamento estratégico das empresas de uma maior diversificação de seus mercados internacionais. 
 
Com isso, Taurus & CBC agregarão novos e importantes mercados por meio de fábricas ou distribuição em três dos cinco países que mais investem em Defesa no mundo (EUA, Arábia Saudita e Índia). Com isso, compensarão integralmente as vendas perdidas no Brasil, podendo ultrapassá-las de forma significativa, haja vista que os novos mercados onde estarão presentes são os maiores e mais inexplorados do mundo livre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque