*LinkedIn, por Anderson Correia, Reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica - 22/10/2023
Quem é do setor aeroespacial, como eu, sabe que o maior desafio hoje aqui em São Jose dos Campos e região é reter os talentos. As empresas tem visto seus profissionais escoarem como água e identificam esse fenômeno como uma ameaça relevante. Acredito que situação similar ocorre em outros setores, como TI, biotecnologia, etc. O que fazer para reverter a situação?
Vejo muita gente tentando entender o que leva uma pessoa a mudar de empresa e deixar o país. Ficamos estudando o perfil dos profissionais que vão embora, qual o percentual de fuga, o que as empresas de lá oferecem, assim como a qualidade de vida e segurança dos outros países. Acho tudo isso inútil. O que a gente precisaria fazer, verdadeiramente, é estudar as pessoas que permanecem no país. Esses é que deveriam ser nosso objeto de estudo e de implementação de planos de carreira e políticas públicas. Se alguém tem um bom currículo, fala inglês, tem bons contatos internacionais, frequenta o mundo e prefere ficar aqui, então isso é que precisamos buscar desenvolver e salvar enquanto ainda é tempo. Acredito ser mais fácil manter quem já está do que trazer de volta quem já foi.
Há uma parcela substancial de Brasileiros que prefere ficar no Brasil, mesmo que recebam vantagens adicionais lá fora. Claro que bons salários são importantes e nem sempre é possível cobrir as propostas, mas há atitudes que devemos cultivar em nossas empresas e organizações:
1. Os jovens gostam de desafios. Nada mais triste do que contratar um estagiário ou engenheiro júnior e colocá-lo para fazer o papel de um office-boy. Ninguém que fez engenharia, direito ou computação quer ficar trabalhando para fazer planilhas bobas, cumprir burocracia, ficar ligando para clientes e fazer relatórios de baixa complexidade. Imagine contratar um engenheiro do ITA, Unicamp, USP, etc, que deu a vida por seu estudo e colocá-lo para estas atividades rotineiras. Vai ser perda na certa e em questão de pouco tempo perdemos o profissional para outra empresa no Brasil ou no exterior.
2. Todos gostam de respeito, isso é um fato. Contratou um engenheiro, chame-o de ENGENHEIRO e isso vale também para outras profissões. Esqueçam estes títulos como Analista de Engenharia. Nunca vi um médico sendo contratado como Analista de Medicina. Além disso, precisamos respeitar os profissionais, chamá-los para as reuniões importantes, ouvir suas idéias, levá-los para as viagens relevantes, desenvolver bons seminários de capacitação e fazer promoções com base no mérito.
3. Precisamos incentivar o empreendedorismo.
Tenho visto muitos jovens interessados em constituir seu próprio negócio e isso é um potencial para desenvolver o país. Que tenhamos mais crédito, mais seed money nas universidades, mais recursos não-reembolsáveis, mais treinamentos de alto nível e uma cultura de inovação.
O que você pensa? O que faz a diferença para você ficar no país?
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