*LRCA Defense Consulting - 18/09/2023
Os recentes conflitos bélicos no Oriente Médio, no Azerbaijão/Armênia e, principalmente, na invasão russa à Ucrânia, estão mudando radicalmente a doutrina militar no que se refere à utilização de drones (RPAS, ARP, VANT, UAV) para missões de reconhecimento, inteligência, observação e combate, bem como às contramedidas para lhes fazer frente.
Em 2013, a Embraer anunciou a assinatura de uma joint venture com a Avibras para a produção de drones. Por ela, a Avibras entraria no capital social da Harpia Sistemas, uma empresa criada pela Embraer em 2011 em conjunto com a AEL Sistemas (uma subsidiária da israelense Elbit Systems, na qual tem uma participação de 25%), com o objetivo de desenvolver aeronaves não tripuladas no Brasil.
No entanto, em 2016, a Embraer decidiu encerrar as atividades dessa joint venture, afirmando que a decisão ocorreu tendo em vista o cenário de restrição orçamentária da época no Brasil e que a parceria foi dissolvida amigavelmente, ressalvando que “Devido ao fator estratégico do projeto para concepção de um SARP nacional, as empresas continuarão a desenvolver as tecnologias para atendimento futuro das demandas das Forças Armadas brasileiras e do mercado civil em um novo formato, podendo inclusive atuar em conjunto no futuro”.
A ex-joint venture Harpia forneceu poucos detalhes sobre o programa UAS, exceto para liberar uma imagem conceitual de um projeto de um motor e duas barras. A aeronave de média altitude e longa duração destinava-se a fornecer vigilância das remotas fronteiras ocidentais do Brasil com um link de controle além da linha de visão.
Drone conceitual da extinta Harpia Sistemas |
No começo de janeiro de 2021, em entrevista à Aviation Week, Jackson Schneider, então CEO da Embraer Defesa e Segurança, referindo-se a sistemas de aeronaves não tripuladas (UAS) disse: “Acreditamos nesse mercado - temos que estar lá”, “Talvez possamos anunciar algo em 10 meses.” "Qualquer programa futuro pode evitar o foco em uma solução de plataforma
única para um novo UAS e se concentrar apenas no mercado de defesa para
aplicativos", disse Schneider.
“Estamos analisando uma família
inteira”, afirmou Schneider. “A defesa já é um mercado onde este produto é
mais do que um conceito; é requerido. E os outros mercados talvez
precisem de mais tempo para confiar nessa tecnologia ”.
Na época,
esse projeto poderia ser revelado ainda naquele ano e se constituiria em
um programa revivido para desenvolver um grande UAS para os militares
brasileiros.
Em 2020, a Embraer lançou a Eve Urban Air Mobility Solutions, Inc. (hoje Eve Holding) como uma empresa nova e independente dedicada a desenvolver o ecossistema da Mobilidade Aérea Urbana. O estrondoso sucesso da empresa após seu lançamento fez também com que a Embraer firmasse um Memorando de Entendimento (MoU) com a poderosa BAE Systems, em 2022, visando criar uma joint venture reunindo as reconhecidas competências de ambas para o potencial desenvolvimento de uma variante de defesa, que terá a Eve como fornecedora da plataforma.
A Eve Holding, Inc. anunciou, em 19/07/2022, no Farnborough Airshow, uma Carta de Intenção não vinculativa com a Embraer e a BAE Systems para explorar a potencial encomenda de até 150 veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOL). O objetivo seria analisar a aplicação de aeronaves para o mercado de defesa e segurança.
Além da BAE Systems, a Embraer e a Eve estão associadas a diversos e importantes grupos ligados às indústrias de defesa e de aviação, como o Thales Group, um líder global em soluções tecnológicas, serviços e produtos nas áreas de defesa, aeronáutica, aeroespacial, transporte, identidade digital e mercados de segurança.
Hoje, a Eve é líder no setor, já contabilizando pedidos de 2.850 aeronaves, com backlog de cerca de US$ 8,6 bilhões.
Aeronave eVTOL da Eve Air Mobility |
Investimento na XMobots
A expertise adquirida pela Embraer desde então fez com com que a empresa se voltasse novamente para o mercado de drones militares, visando uma solução mais leve e totalmente nacional, haja vista que o drone da Harpia Sistemas era um similar melhorado do Hermes 450, UAV israelense da Elbit Systems operado pela FAB desde 2011.
Assim, no dia 20 de setembro de 2022, a Embraer anunciou a assinatura de acordo de investimento para participação minoritária na XMobots, empresa localizada em São Carlos (SP), classificada como a maior companhia de drones da América Latina e fabricante do Nauru 1000C, o RPAS CAT 2 (Remotely Piloted Aircraft System) selecionado pelo Exército Brasileiro para missões ISTAR (Inteligência, Vigilância, Aquisição de Alvos e Reconhecimento), pesando 150kg.
O negócio tem, como objetivos, acelerar o futuro do mercado de drones autônomos de médio e grande porte, explorar conjuntamente novos nichos de mercado e ampliar a rede de colaboração em pesquisa de novas tecnologias que tenham sinergias com as áreas de desenvolvimento tecnológico, unidades de negócio e inovação da Embraer, bem como da Embraer-X.
A transação, realizada via fundo de investimentos cuja quotista única é a Embraer, deixa a opção aberta de aporte adicional futuro.
Anteriormente, em maio de 2022, a XMobots e a MBDA, a maior empresa de mísseis da Europa, assinaram um MoU (Memorando de Entendimento) para trabalhar em conjunto na prova de conceito para a integração do míssil ENFORCER no RPAS Nauru 1000C. Este míssil é um sistema de armas leves guiadas de nova geração, pesando cerca de 7kg e fornecendo a capacidade de derrotar uma ampla variedade de alvos leves e ligeiramente blindados, incluindo veículos de movimento rápido e alvos protegidos.
Drone Nauru 1000C |
XMobots surpreende ao anunciar que irá mais que dobrar o número de funcionários
Em meados de setembro deste ano, a XMobots, atualmente com mais de 400 funcionários, realizou ampla divulgação pela mídia e em seu site anunciando que está expandindo sua equipe e abrindo mais de 540 oportunidades de emprego em São Carlos, para preenchimento ainda em 2023.
Os números chamaram atenção, principalmente porque essa é uma das maiores contratações já vista no setor de drones, não apenas na América Latina, mas também em âmbito mundial.
Do total de vagas abertas, mais de 410 estão direcionadas para o time de Pesquisa e Desenvolvimento da XMobots, ou seja, contratações de engenheiros e técnicos especializados em diversas áreas para atuação em projetos voltados ao desenvolvimento de novas tecnologias robóticas. Além das vagas de P&D, a XMobots também está recrutando talentos para os setores de Operações, Marketing e Comercial.
Com as novas contratações, a empresa deverá fechar o ano de 2023 com um quadro de quase 1.000 colaboradores.
O salto da gigante brasileira em direção aos drones de defesa?
Embora não tenha sido divulgado o valor ou o percentual da participação adquirida pela Embraer na XMobots, é lícito acreditar que tenha sido substancial, haja vista que dificilmente esta última teria condições para bancar sozinha um investimento de tal amplitude.
A ser real este cenário, é provável, então, que a XMobots passe a ser o braço da Embraer Defesa e Segurança responsável pela produção de drones militares destinados às missões de Inteligência, Vigilância, Aquisição de Alvos, Reconhecimento e Ataque, preenchendo as necessidades das Forças Armadas brasileiras, ao abrigo das diretrizes do governo, que reputa a produção de tais drones como uma das prioridades para a segurança nacional.
Por fim, considerando as parcerias estratégicas que a 3ª maior fabricante mundial de aeronaves tem com a BAE Systems, com a Thales, com a L3 Harris e com outras gigantes mundiais do Setor de Defesa, além de sua inequívoca expertise em aeronaves de todo o tipo e, no segmento de eVTOL, em conjunto com sua spin-off Eve Air Mobility, também é bastante provável admitir que a gigante brasileira do setor aéreo possa estar com intenção de ingressar com força no cobiçado, enorme e bilionário mercado internacional desse segmento de drones.
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