Com o C-390 e talvez com o Gripen da Saab, a fabricante brasileira
poderá figurar em algumas parcerias interessantes, nos próximos meses e
anos.
*Mentour Pilot, por Spyros Georgilidakis - 27/09/2023
Mais países parecem propensos a fazer pedidos do cargueiro militar Embraer C-390. Mas por que agora e o que isso significa para a Embraer?
A maioria dos cargueiros militares de pequeno e médio porte tendem a ser turboélices – mas não o C-390 e o KC-390. Escolher um tipo de motor para essas aeronaves é complicado, mas os turboélices oferecem algumas vantagens em cenários de alta carga e baixa velocidade.
A Embraer seguiu uma direção diferente com o C-390 e o KC-390 – sendo este último a variante (de outra forma idêntica) com capacidade de reabastecimento aéreo. Este é um jato que conta com apenas dois turbofans IAE V2500, mas seu tamanho e capacidade de carga o tornam um substituto adequado para o quadrimotor C-130 Hercules da Lockheed.
No papel, as especificações da aeronave parecem razoáveis, mas atrair compradores revelou-se difícil. A Embraer lançou oficialmente o C-390 em 2009, com o primeiro protótipo decolando em 2015. No início, a Embraer estava confiante nas vendas iniciais de 60 aeronaves, tanto no Brasil quanto para outros clientes em todo o mundo.
No entanto, muitas dessas discussões pareceram estagnar, antes de se transformarem em ordens. Isto é, até recentemente, porque a sorte da Embraer parece ter mudado, nos últimos meses. A fabricante brasileira parece estar agora em negociações avançadas com vários clientes, principalmente na Europa.
Os clientes com pedidos firmes do Embraer C-390 incluem Brasil, Portugal e Hungria. Originalmente, a Força Aérea Brasileira queria comprar 28 aeronaves, com a Embraer esperando mais pedidos de outras agências brasileiras. Mas gradualmente, as encomendas do Brasil caíram primeiro para 22, depois para 19 aeronaves.
C-390 com as cores da Áustria |
Embraer e sucessos recentes do C-390
Portugal tem encomendas firmes de 5 C-390 mais 1 opção. O pedido da Hungria é apenas para 2 aeronaves. Mas este ano, a Holanda anunciou que o Embraer C-390 é a sua escolha para substituir os seus C-130. Essas discussões são para 5 aeronaves.
Então, no início deste mês, a Áustria anunciou que deseja comprar 4 aeronaves Embraer C-390, para substituir os seus antigos C-130. A Áustria parece disposta a trabalhar em conjunto com a Holanda, para garantir um contrato com condições semelhantes.
E por fim, na última terça-feira (26 de setembro), o ministro da Defesa do Brasil, José Mucio, anunciou que irá à Suécia em outubro, para discutir a venda do Embraer C-390. Este acordo poderia envolver três ou quatro aeronaves – e alguma colaboração industrial.
A Embraer do Brasil e a Saab da Suécia já estão trabalhando juntas em um contrato para os caças suecos JAS-39 Gripen, para a Força Aérea Brasileira. A Embraer montará 15 de um total de 36 Gripens no Brasil. Mas no início deste ano, a Embraer e a Saab também assinaram memorandos de entendimento para uma potencial venda do C-390 à Suécia.
A Embraer também tem promovido o C-390 para outros potenciais compradores na Europa e em outros lugares. Mas porquê todo este interesse agora e não em anos anteriores? Uma explicação simples é que a guerra na Ucrânia fez com que alguns países aumentassem as suas despesas militares.
Mas há mais, envolvendo o casamento fracassado entre Embraer e Boeing. Como vimos, o que poderia ter sido uma espécie de fusão entre as duas empresas terminou durante a pandemia. A Boeing alegou que a Embraer não cumpriu determinados termos. A Embraer explicou a saída da Boeing citando os encargos financeiros da Boeing após a paralisação do 737 MAX e a própria pandemia.
Mais do que um bom momento?
Quaisquer que sejam as razões da separação, as discussões originais entre a Embraer e a Boeing também envolveram o C-390. Este jato permitiria à Boeing oferecer uma alternativa competitiva ao C-130J da Lockheed.
Mas havia mais nesta parceria Boeing-Embraer. Além de ajudar substancialmente a promover o cargueiro, o envolvimento da Boeing foi visto por alguns como uma garantia, especialmente para vendas a países da OTAN, de um jato militar de um país não-membro da OTAN (Brasil).
Parece que a decisão da Embraer de estabelecer uma fábrica de montagem final e acabamento em Portugal, um país membro da NATO, foi fundamental no recente ressurgimento do C-390. O momento também foi um fator, com a guerra na Ucrânia e a idade de muitas frotas de C-130 favorecendo as vendas de cargueiros. Os dois turbofans tornam o C-390 mais rápido e eficiente, o que ajuda.
A Embraer tem muita experiência na fabricação de aeronaves comerciais e militares. O C-390 parece combinar elementos de ambos. A Embraer supostamente se baseou fortemente no lado comercial, principalmente para a manutenção e suporte do avião. Os motores IAE V2500 equipam muitos Airbus A320, por exemplo.
No início deste ano, a Airbus parecia estar em negociações com a Embraer sobre o C-390. Em termos de tamanho, o avião brasileiro fica entre o Airbus C295 e o muito maior A400M. Mas não está claro se essas discussões estão em andamento.
Enquanto isso, a Embraer também tenta encontrar parceiros para seu futuro projeto turboélice. Entre isso, com o C-390 e talvez com o Gripen da Saab, a fabricante brasileira poderá figurar em algumas parcerias interessantes, nos próximos meses e anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).