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18 junho, 2023

A presença do Grupo Mac Jee na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos

Parceria com o Ministério de Investimento da Arabia Saudita

*LRCA Defense Consulting - 18/06/2023

O jornal O Estado de S. Paulo divulgou neste sábado, com grande destaque, que o  Brasil estabeleceu um acordo confidencial para exportar produtos e tecnologias para o reino da Arábia Saudita com a finalidade de construir sua primeira fábrica de explosivos militares. As plantas foram projetadas por uma empresa brasileira a pedido do governo saudita, que pretendem suprir toda a sua demanda militar por explosivos e espoletas de instalações de detonação de bombas até 2030. Esses explosivos podem ser usados em conflitos e guerras no Oriente Médio.

Segundo a reportagem, a autorização para a venda de equipamentos e serviços ao regime de Mohammed Bin Salman foi concedida no segundo semestre de 2018, durante o mandato de Michel Temer, mas os principais avanços se deram no governo de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022. Paralelamente, ocorreu um aumento nas autorizações para exportação de tecnologia militar para a Arábia Saudita. Negócios da indústria privada de defesa com outros países solicitaram a aprovação dos ministérios da Defesa, Ciência e Itamaraty.

Conforme a matéria, a empresa responsável por pedidos e receber autorização do governo brasileiro para fechar o contrato com os sauditas é a Mac Jee, sediada em São José dos Campos (SP). A estrutura montada na Arábia Saudita possui aproximadamente 500 mil metros quadrados e está localizada dentro da Saudi Chemical Company Limited (SCCL), a maior empresa de produção de energia civil e militar do país. A fábrica produz TNT e RDX, componentes utilizados em certos tipos de bombas. Todo o processo de autorização e contratação está protegido por sigilo. Procurados, os ministérios responsáveis ​​pelo assunto informaram que não poderiam comentar sobre as motivações ou condições do acordo com Mac Jee. O valor do contrato também não foi divulgado.

Mac Jee - fábrica de Paraibuna (SP)

Grupo Mac Jee
Com mais de uma década na indústria de defesa, o Grupo Mac Jee é constituído por Mac Jee Defesa, Mac Jee Tecnologia e Equipaer, empresas inovadoras, tecnológicas e 100% brasileiras. Contando com um portfólio diversificado de produtos e serviços para o segmento de defesa e aeroespacial, o grupo destaca-se pela capacidade no desenvolvimento de soluções de alta qualidade e investimentos em inovação, garantido autonomia tecnológica. Sediada em São José dos Campos, a Mac Jee conta com escritórios em São Paulo e na França.

Portfólio
No seu diversificado portfólio, a Mac Jee (como é normalmente conhecida a empresa) tem o DAGGER - um sistema inteligente de guiagem de munições aéreas, as munições aéreas BGB (MK), munição anti-bunker BPB 2000 (BLU 109) e o Armadillo, um dos lançadores de foguetes mais leves, compactos e rápidos do mercado global, projetado e desenvolvido para condições extremas de operação. O veículo tem alto poder de ataque, pode retrair o sistema de lançamento durante a fase não ofensiva, e lança mais de 70 foguetes 70 mm em poucos minutos. No início de 2022, um dos protótipos do Armadillo foi avaliado na Arábia Saudita.

Armadillo foi avaliado na Arábia Saudita

Na linha de explosivos, a Mac Jee desenvolve ou aprimora (retrofit) linhas de produção de TNT, RDX e Propelentes single-base, double-base e triple-base, além do material energético HMX (High Melting eXplosive, também chamado de octogen, um poderoso e relativamente insensível alto explosivo, quimicamente relacionado ao RDX), que em breve terá sua primeira linha de produção na América Latina, na unidade de Paraibuna (SP).
 
IDEX 2021
O Grupo Mac Jee, composto por empresas 100% brasileiras da indústria de defesa, mostrou todo o seu portfólio na International Defence Exhibition And Conference- IDEX 2021. O evento bianual, que é considerado uma das mais importantes feiras de defesa do mundo, foi realizado de 21 a 25 de fevereiro, no Centro Nacional de Exposições de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

De acordo com a CEO da Mac Jee, Alessandra Stefani, foi o primeiro evento que a empresa se apresentou como grupo. “Essa participação é de extrema importância para nós. Além de mostrar o crescimento da companhia, também é estratégica, porque no Oriente Médio estão nossos maiores clientes. Temos o maior stand entre as empresas brasileiras e estamos confiantes sobre nossa capacidade de gerar interesse em outros parceiros comerciais em potencial”. O espaço reservado para a Mac Jee contou com mais de 110m² e foi compartilhado entre as três marcas do grupo, integrando os produtos e serviços de forma complementar.

Dubai Airshow 2021 e World Defense Show 2022
Em novembro doe 2021, a empresa expôs na Dubai Airshow 2021, evento bianual que é considerado uma das mais importantes feiras de defesa do mundo, onde lançou o DAGGER, um sistema inteligente de guiagem de munições aéreas. Além do DAGGER, a Mac Jee apresentou na feira um portfólio diversificado de produtos,entre eles o lançador de foguetes Armadillo, as munições aéreas BGB, munição anti-bunker BPB 2000 que está em desenvolvimento, e espoletas.

No início de março de 2022, o Grupo Mac Jee participou da  World Defense Show (WDS), uma das maiores feiras globais do setor, que foi realizada em Riad, na Arábia Saudita.

Outras participações internacionais
- Missão comercial do governo brasileiro a países árabes, de 17 de maio a 6 de junho de 2022.
- Eurosatory 2022, feira internacional de Defesa e Segurança, de 13 a 17 de junho de 2022, em Paris, França.
- Indo Defence Expo & Forum 2022, que aconteceu entre os dias 2 e 5 de novembro em Jacarta, na Indonésia.
- Idex 2023 (International Defence Exhibition & Conference), de 20 a 24 de fevereiro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

Parceria com o Ministério de Investimento Saudita
No dia 02 de outubro de 2022, a equipe da Mac Jee, liderada por seu Presidente, Simon Jeannot, esteve no Reino da Arábia Saudita junto aos seus clientes, acompanhando de perto os projetos da empresa e garantindo o seu sucesso, além de continuar fomentando cada vez mais a parceria estratégica com o Reino da Arábia Saudita.

Durante a participação na World Defense Show 2022, em março deste ano, a Mac Jee anunciou a assinatura de um acordo de parceria com o Ministério de Investimento da Arabia Saudita, passando a integrar um seleto grupo de empresas brasileiras aptas a cooperar no fomento das tecnologias de fabricação e desenvolvimento de sistemas, transferência de tecnologia, entre outras colaborações importantes para indústria de defesa.

Naquela oportunidade, o presidente da Mac Jee foi recebido pelo Ministro Khalid Al Falih e por Ahmad A. Al-Ohali, líder da Autoridade Geral das Industrias Militares da Arábia Saudita, para realizar a oficialização da parceria.

A cerimônia de assinatura contou com a presença das autoridades brasileiras, representadas pelo então Secretário de Produtos de Defesa do governo brasileiro, Marcos Degaut, pelo General Luiz Duizit, então chefe de Gabinete da Secretaria de Produtos de Defesa, e pelo embaixador Brasileiro na Arábia Saudita, Marcello Della Nina.

Munições aéreas para os Emirados Árabes Unidos
Em matéria assinada por Robson Bonin, com data de 1º de maio de 2022, a revista Veja publicou, em seu portal online, que "em outra operação comercial comandada pelo Ministério da Defesa, o Brasil fechou uma venda de foguetes e bombas MK, da Mac Jee, aos Emirados Árabes. O preço da operação está estimado em 96 milhões de dólares". O novo negócio pode ser um dos resultados do grande esforço que a empresa está fazendo ao participar das maiores feiras internacionais de sua área.

A mesma Revista Veja, na coluna Radar Econômico de 13/06/2023, divulgou que a Mac Jee enviou mais de 100 contêineres carregados com munições aéreas às Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos, no Oriente Médio, nos últimos dois meses. A ida do carregamento à monarquia árabe faz parte de um contrato avaliado em 70 milhões de dólares (cerca de 340 milhões de reais) firmado em 2021, com anuência dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. Metade das munições de tecnologia brasileira adquiridas pelos Emirados Árabes aguardam envio.

Segundo a presidente da companhia, Alessandra Stefani, o envio das munições aos Emirados Árabes reflete uma parceria prolífica entre os países. “É um investimento em soberania nacional, demonstra a capacidade do país de proteger a sua população. Em contrapartida, é um mercado que gera renda e emprego entre países amigos, onde o Brasil tem potencial para ser protagonista”, diz. Para atender a alta demanda, a companhia, sediada no interior do estado de São Paulo, investiu mais de 100 milhões de reais no desenvolvimento de produtos nos últimos dois anos.

Visão 2030 - o grande plano saudita de 15 anos
O Plano Visão 2030, anunciado pelo governo saudita em 2015, mudou economicamente a Arábia Saudita nos últimos seis anos e é esperado que continue mudando.

Até 2015, o petróleo respondia por cerca de 75% das receitas orçamentárias, 40% do PIB e 90% das receitas das exportações. O "vício do ouro negro" acostumou os sauditas a comprar tudo o que precisavam, pois sempre houve dinheiro farto e era muito mais barato importar do que produzir localmente.

No entanto, o atual governo vislumbrou que o país não poderia manter a dependência da renda petroleira e o enorme gasto público diante de um cenário de grandes mudanças que estão acontecendo no mercado energético internacional (variações enormes nos preços do petróleo, surgimento de fontes alternativas não poluentes e política mundial contra o uso de combustíveis fósseis) e de tendências demográficas que indicam aumento significativo no número de sauditas em idade produtiva até 2030.

A ascensão do príncipe Mohamed Bin Salman (conhecido como MbS) no cenário político saudita e o declínio dos preços do petróleo em 2014 incentivaram o desenvolvimento do plano como meio de abandonar ou, pelo menos, diminuir grandemente essa dependência e diversificar a atividade econômica, abrindo amplamente as portas para o envolvimento de um setor privado ativo e facilitando a entrada dos investimentos estrangeiros no país. Assim, um dos pilares do Visão 2030 é justamente transformar a Arábia Saudita em um centro de investimentos globais.

Segundo análises, a elevação de produtividade por meio da reforma econômica permitirá ao país duplicar seu PIB e criar até 6 milhões de novos empregos até 2030. Com as reformas, Riad pretende elevar sua renda não petroleira, de US$ 43,6 bilhões em 2015 para US$ 267 bilhões em 2030.

Área de Defesa no Plano Visão 2030
A Arábia Saudita é um dos principais compradores de armas do mundo. Foi o maior importador de armamento entre 2010 e 2014, com 5% das aquisições mundiais. O país possui as forças armadas mais poderosas do Golfo Pérsico, com cerca de 478 mil combatentes na ativa (de um total de 688 mil integrantes), compreendendo o exército, a força aérea e a marinha de guerra, além de unidades de defesa antiaérea, brigadas da Guarda Nacional e paramilitares.  

O país gasta 25% do seu orçamento, ou pelo menos US$ 88 bilhões, com suas forças armadas. Em 2019, operou o terceiro maior orçamento militar do mundo, caindo para o nono lugar em 2020, efeito colateral da queda brutal nos preços do petróleo durante a pandemia.

O príncipe Salman, que também é ministro da Defesa, anunciou que o país buscará desenvolver sua própria indústria bélica como parte do plano de reformas.O primeiro passo nesse sentido foi associar a assinatura de contratos no exterior ao desenvolvimento da indústria local.

"A partir de agora, o Ministério de Defesa, assim como outros órgãos militares e de segurança, só fecharão contratos com provedores estrangeiros se estes estiverem vinculados à indústria local", disse Salman. "Vamos reestruturar vários de nossos contratos militares para atá-los à indústria saudita."

Em fevereiro de 2021, o governador da GAMI - Autoridade Geral para Indústrias Militares saudita, Ahmed bin Abdulaziz Al-Ohali, afirmou que o país irá investir mais de US$ 20 bilhões em sua indústria de defesa local pelos próximos 10 anos. O objetivo é desenvolver e fabricar mais armas e sistemas militares domesticamente, com o objetivo de gastar 50% do orçamento militar localmente até 2030.

Assim, nessa sensível área, onde quase tudo era importado, principalmente dos Estados Unidos, o foco dos sauditas passou a ser o desenvolvimento da indústria de defesa, com a produção de armamentos, equipamentos e aeronaves militares, para atingir a autossuficiência na área e aumentar as exportações para os seus parceiros regionais, haja vista que a presença de indústrias estrangeiras permite a obtenção de know-how e a transferência de tecnologia para a economia local.

Nesse campo, o Plano Visão 2030 muito se assemelha às iniciativas Make in India (Fazer na Índia) e Atma Nirbhar Bharat (Índia Autossuficiente), ambas do governo da Índia.

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