*LRCA Defense Consulting - 06/05/2023
Em virtude de a mais recente licitação de carabinas CQB (fuzis) na Índia ser considerada a maior do mundo no que se refere a armas leves, e também devido à grande curiosidade internacional que está despertando, esta Consultoria reaviva os principais parâmetros que norteiam o certame.
Das 20 empresas contatadas inicialmente pelo Ministério da Defesa da Índia (MoD), cerca de 15, entre elas a brasileira Taurus Armas S.A., respoderam atendendo ao seu pedido 'restrito' de proposta para fornecer 425.213 carabinas de combate corpo a corpo (CQB) para o Exército e para a Marinha, no valor estimado de US$ 424 milhões.
O pedido de proposta (RFP) exigiu que as carabinas 5,56x45mm - das quais 418.455 unidades se destinam ao Exército e 6.758 à Marinha - incorporem 60% de design e conteúdo nativos, sendo a disputa realizada na categoria 'Buy Indian' do Procedimento de Aquisição de Defesa - 2020, ao abrigo do qual está sendo executada.
De acordo com o RFP emitido 29 de novembro, o pedido geral será eventualmente dividido entre os dois licitantes com lances mais baixos – ou L1 e L2 – com primeiro deles produzindo 255.128 carabinas e o outro os 170.085 restantes. No entanto, no caso de o L2 (segundo menor lance) não atender aos custos, termos e condições do fornecedor L1, todo o lote de carabinas CQB será fornecido por este último. Mas o RFP precisou ser respondido por cada fornecedor para a quantidade total de 425.213 carabinas.
Fontes locais declararam que todos os fornecedores potenciais rivais tiveram permissão para entrar em empreendimentos colaborativos com fabricantes de carabinas no exterior, mas precisaram declarar seus respectivos vínculos ao enviar suas propostas ao MoD em resposta ao RFP.
O pedido de proposta se seguiu ao pedido de informações (RFI) de 23 de setembro enviado para fabricantes locais, especificando que a aquisição planejada previa carabinas pesando de 3 a 3,3 kg com alcance efetivo não inferior a 200 m e capaz de uma taxa cíclica de disparo de 600 tiros por minuto utilizando munição fabricada localmente. Assim, o retorno do RFI facilitou o "ajuste fino" do RFP, pois levou em consideração muitas respostas de fornecedores antes da emissão deste.
O RFP de 95 páginas exige ainda que as carabinas em potencial marquem nove acertos em 10 tiros disparados de uma montagem fixa em um alvo a 100 metros de distância. É também necessário registrar uma taxa de acerto de 60% disparando um carregador completo em rajadas curtas de dois ou três tiros, também a um alcance de 100 metros. A carabina também deve ser equipada com uma mira aberta com alcance de 50-200 metros e uma baioneta destacável de 120mm de comprimento.
Montadas com trilhos Picatinny MIL-STD1913 para acomodar miras e outros acessórios, as carabinas, com a coronha fixa, não devem ter mais de 650mm de comprimento e devem poder ser empregadas em temperaturas variando entre 20 graus negativos e 45 graus Celsius positivos. Além disso, elas devem ter condições de ser armazenadas em temperaturas variáveis entre menos 51 e mais 71 graus Celsius, e com 90% de umidade a 30 graus Celsius.
Paralelamente, o fornecedor (ou fornecedores) selecionado será obrigado a treinar o Exército e a Marinha na operação e manutenção das carabinas, além de fornecer suporte geral ao produto por pelo menos 15 anos. Todas as carabinas concorrentes passarão por avaliação técnica, de manutenção e testes de usuário, e sua entrega às duas Forças deverá começar oito meses após a assinatura do contrato, com conclusão 90 meses depois.
Fontes indianas afirmaram que, entre os principais fornecedores locais que responderam ao pedido de proposta, estariam a Jindal Defense and Aerospace (em parceria com a brasileira Taurus Armas), a Adani Defense and Aerospace (em parceria com a Israel Weapon Industries - IWI), a Bharat Forge/Kalyani Strategic Systems (em parceria com a Thales Australia), a Bharat Electronics Limited - BEL em parceria com a italiana Beretta), e a SSS Defense e a ICOMM (em parceria com a Caracal International dos Emirados Árabes Unidos).
Após o recebimento das propostas em 02 de maio último, o MoD terá agora até 30 dias para analisar a documentação apresentada pelos licitantes, podendo desclassificar aqueles que não cumprirem todas as exigências. O prazo previsto para o final da megalicitação, conforme o RFP, é 30 de setembro, às 12 horas.
Um negócio de "urgência urgentíssima"
A delicada situação que o Exército Indiano está enfrentando em seus conflitos de fronteira com o Paquistão e, principalmente, na fronteira com a China, aliada às instabilidades mundiais causadas pela guerra na Ucrânia e pelo contencioso China & Taiwan, tornam o negócio como de "urgência urgentíssima", o que tenderá a fazer com que as demandas e os entraves burocráticos presentes em certames anteriores não aconteçam desta vez, fazendo com que a solução esteja devidamente alinhavada já no último trimestre de 2023.
Além desses fatores decisivos, há a firme determinação do Primeiro-Ministro Narendra Modi e de seu governo em continuar implementando firmemente as políticas do Make in India e do Atmanirbhar Bharat (Índia Autossuficiente), de modo a produzir no país todo o material militar que necessita ou que vier a necessitar. Mais ainda, em transformar a Índia - de um dos maiores importadores do mundo - em um grande exportador de material de defesa.
Assim, a decisão de estabelecer a maior licitação do mundo para a aquisição de fuzis (carabinas CQB), agora no âmbito do Make in India, torna-se a vitrine com a qual o governo indiano se propõe a apresentar ao mundo sua nova dinâmica nesse campo. Com isso, fará todo o possível para que tenha total sucesso.
*Com informações do The Wire, do MoD e de fontes independentes.
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