*LRCA Defense Consulting - 30/05/2023
A Taurus Armas S.A. já está participando de novas licitações na Índia, além da megalicitação de 425.000 fuzis que está em curso e cuja primeira fase deverá estar concluída pelo Ministério da Defesa no começo de junho.
Por intermédio da JHind Taurus India, sua joint venture com o Jindal Group, a Taurus está concorrendo em quatro novas licitações, envolvendo agora o Ministério do Interior (MHA) desse país. Os certames estão sendo realizados para suprir armamento leve para forças paramilitares e policias estaduais, como a Força Segurança de Fronteira (BSF), a Polícia da Reserva Central (CRPF) e as Forças Especiais do Estado de Uttar Pradesh.
As oportunidades envolvem mais de 16.000 armas, comportando 8.000 fuzis, 5.254 pistolas 9x19mm e 2.930 submetralhadoras. O processo de oferta, analise técnica, testes de campo e seleção ainda devem se desenvolver pelos próximos meses.
Adicionalmente a tais licitações, a empresa tem confirmados testes e demonstrações de seus produtos, como o fuzil T4 (em seus diversos modelos) e as pistolas TS9 e TS9C, com outras quatro forças estratégicas do país, possibilitando assim a abertura de novas oportunidades de negócios.
Esses primeiros certames marcam o início da estratégia da Taurus de buscar licitações menores na Índia, haja vista que podem proporcionar uma maior margem de rentabilidade e ir capilarizando a marca no país.
Jindal Group - o poderoso parceiro que está abrindo as portas da Índia
A estratégia da JHind Taurus India é aproveitar a capilaridade, o conceito e o poderio econômico, social e político do Jindal Group, haja vista que suas empresas estão espalhadas por todo o país, sendo amplamente conhecidas e respeitadas nos meios empresariais e políticos da Índia.
Quando Abhiyuday Jindal, Managing Director da Jindal Stainless (JSW), iniciou as conversas com a Taurus sobre a possibilidade de uma JV (ainda em 2019, durante uma feira na Alemanha), já tinha em mente o fornecimento de fuzis, pistolas e submetralhadoras para as Forças Armadas, policiais e paramilitares da Índia, sob o poderoso guarda-chuva financeiro, de infraestrutura e de prestígio que o Grupo Jindal têm no país.
Abhiyuday Jindal é neto de Savitri Devi Jindal (viúva de OP Jindal, fundador do Grupo), a mulher mais rica da Índia (US$ 5,8 bilhões) e Presidente do Grupo Jindal. Savitri reside na cidade de Hisar, estado de Haryana, sede da JSW e da JHind Taurus India. Seus quatro filhos homens – Prithviraj, Sajjan, Ratan (pai de Abhiyuday) e Naveen dirigem o império da família. Savitri é também Ministra de Estado da Receita, Gestão de Desastres, Reabilitação e Habitação no Governo do Estado de Haryana. Naveen é membro do Parlamento indiano.
O Grupo Jindal é composto por poderosos negócios em siderurgia, mineração, energia, portos, infraestrutura, defesa e software. A JSW Steel, por exemplo, uma das grandes empresas do grupo, é a segunda maior produtora privada de aço da Índia, a sexta maior produtora de aço do mundo e, em parceria com a japonesa JFE Steel, a segunda maior produtora de aço do Japão. Seu faturamento anual é superior a US$ 24 bilhões e possui 200 mil funcionários no mundo, sendo 45 mil deles somente na divisão de aço.
|
JHind Taurus India expõe na DefExpo 2022, maior feira de defesa da Índia, que aconteceu de 18 a 22 de outubro. |
Hub brasileiro tornará a Taurus ainda mais focada na exportação
A Taurus está levando a cabo uma grande ampliação na unidade de São Leopoldo (RS). Além de aumentar a produção normal de armas, principalmente para a exportação, a iniciativa visa, na prática, tornar a empresa ainda mais independente das eventuais mudanças nas normas legais brasileiras, haja vista que seu planejamento estratégico prevê que ali seja estabelecido um grande hub de produção de peças e componentes (kits), que serão enviados às unidades fabris dos EUA e da Índia, onde serão utilizados para a montagem das armas que receberão o Made in USA ou Made in India, conforme o caso.
Prevendo uma grande expansão para seus negócios na Ásia, a área fabril da JHind Taurus India é muito maior do que a fábrica construída, possibilitando qualquer ampliação que venha a ser necessária.
A Índia poderá mudar a história e as perspectivas da fabricante brasileira
Vencendo ou não a megalicitação que está em curso, a Taurus tem nesse país e no mercado asiático uma verdadeira mina de ouro, capaz de compensar muitas vezes uma eventual queda nas vendas brasileiras e de, no longo prazo, até se aproximar ou mesmo ultrapassar o volume de vendas nos EUA.
As licitações futuras para órgãos policiais e paramilitares (somente na Índia) já somam cerca de 260 mil armas de diversos tipos (fuzis, submetralhadoras e pistolas). Ou seja, ainda sem ter inaugurado sua fábrica no país, a Taurus já tem a perspectiva de concorrer a licitações que montam, por enquanto, em cerca de 685 mil armas. Apenas para fins comparativos, as vendas totais no mercado brasileiro em 2022 foram de 366 mil armas.
O mercado civil, que tem hoje apenas 74 milhões de armas (a maioria antigas e obsoletas) para uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas, é um nicho perene e promissor que também está recebendo toda a atenção da JHind Taurus India, com a empresa desenvolvendo estratégias para a venda de armas curtas nos calibres permitidos pelo governo.
A geração de caixa que a operação na Índia deverá proporcionar é algo que poderá mudar completamente a história e as perspectivas da Taurus, haja vista que, enquanto a empresa brasileira contribui com a transferência de tecnologia, cabe ao Jindal Group quase todos os investimentos necessários, da produção à distribuição, passando pelo marketing e demais custos necessários. Com isso, os 49% dos frutos a que a Taurus terá direito serão recebidos praticamente "limpos", possibilitando um enorme salto no EBITDA da empresa.