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27 abril, 2023

Arábia Saudita está priorizando a cooperação militar-industrial com o Brasil? Akaer, Avibras, CBC, Embraer, Taurus...

HE Khalid A. Al-Falih, Ministro do Investimento da Arábia Saudita, visita o estando da CBC e Taurus durante a 1ª edição do World Defense Show em Mar 22 em Riyadh, na Arábia Saudita

*LRCA Defense Consulting - 27/04/2023

De acordo com o portal Tactical Report, especializado em relatórios de defesa (pagos) com ênfase em países árabes, espera-se que o Ministério da Defesa saudita inicie negociações com várias empresas brasileiras de defesa para diversificar o fornecimento de armas do Reino da Arábia Saudita. Além disso, segundo a fonte, o Reino considera prioritária a cooperação militar-industrial com o Brasil.

Visão 2030 - o grande plano saudita de 15 anos
O Plano Visão 2030, anunciado pelo governo saudita em 2015, mudou economicamente a Arábia Saudita nos últimos anos e é esperado que continue mudando.

Até 2015, o petróleo respondia por cerca de 75% das receitas orçamentárias, 40% do PIB e 90% das receitas das exportações. O "vício do ouro negro" acostumou os sauditas a comprar tudo o que precisavam, pois sempre houve dinheiro farto e era muito mais barato importar do que produzir localmente.

No entanto, o atual governo vislumbrou que o país não poderia manter a dependência da renda petroleira e o enorme gasto público diante de um cenário de grandes mudanças que estão acontecendo no mercado energético internacional (variações enormes nos preços do petróleo, surgimento de fontes alternativas não poluentes e política mundial contra o uso de combustíveis fósseis) e de tendências demográficas que indicam aumento significativo no número de sauditas em idade produtiva até 2030.

A ascensão do príncipe Mohamed Bin Salman (conhecido como MbS) no cenário político saudita e o declínio dos preços do petróleo em 2014 incentivaram o desenvolvimento do plano como meio de abandonar ou, pelo menos, diminuir grandemente essa dependência e diversificar a atividade econômica, abrindo amplamente as portas para o envolvimento de um setor privado ativo e facilitando a entrada dos investimentos estrangeiros no país. Assim, um dos pilares do Visão 2030 é justamente transformar a Arábia Saudita em um centro de investimentos globais.

Segundo análises, a elevação de produtividade por meio da reforma econômica permitirá ao país duplicar seu PIB e criar até 6 milhões de novos empregos até 2030. Com as reformas, Riad pretende elevar sua renda não petroleira, de US$ 43,6 bilhões em 2015 para US$ 267 bilhões em 2030.

Setor de Defesa no Plano Visão 2030
A Arábia Saudita é um dos principais compradores de armas do mundo. Foi o maior importador de armamento entre 2010 e 2014, com 5% das aquisições mundiais. O país possui as forças armadas mais poderosas do Golfo Pérsico, com cerca de 478 mil combatentes na ativa (de um total de 688 mil integrantes), compreendendo o exército, a força aérea e a marinha de guerra, além de unidades de defesa antiaérea, brigadas da Guarda Nacional e paramilitares.  

O país gasta 25% do seu orçamento, ou pelo menos US$ 88 bilhões, com suas forças armadas. Em 2019, operou o terceiro maior orçamento militar do mundo, caindo para o nono lugar em 2020, efeito colateral da queda brutal nos preços do petróleo durante a pandemia.

O príncipe Salman, que também é ministro da Defesa, anunciou que o país buscará desenvolver sua própria indústria bélica como parte do plano de reformas. O primeiro passo nesse sentido foi associar a assinatura de contratos no exterior ao desenvolvimento da indústria local.

"A partir de agora, o Ministério de Defesa, assim como outros órgãos militares e de segurança, só fecharão contratos com provedores estrangeiros se estes estiverem vinculados à indústria local", disse Salman. "Vamos reestruturar vários de nossos contratos militares para atá-los à indústria saudita."

Em fevereiro de 2021, o governador da GAMI - Autoridade Geral para Indústrias Militares saudita, Ahmed bin Abdulaziz Al-Ohali, afirmou que o país iria investir mais de US$ 20 bilhões em sua indústria de defesa local pelos próximos 10 anos. O objetivo é desenvolver e fabricar mais armas e sistemas militares domesticamente, com o objetivo de gastar 50% do orçamento militar localmente até 2030.

Assim, nessa sensível área, onde quase tudo era importado, principalmente dos Estados Unidos, o foco dos sauditas passou a ser o desenvolvimento da sua indústria de defesa, com a produção de armamentos, equipamentos e aeronaves militares, para atingir a autossuficiência na área e aumentar as exportações para os seus parceiros regionais, haja vista que a presença de indústrias estrangeiras permite a obtenção de know-how e a transferência de tecnologia para a economia local.

Nesse campo, o Plano Visão 2030 muito se assemelha às iniciativas Make in India (Fazer na Índia) e Atma Nirbhar Bharat (Índia Autossuficiente), ambas do governo da Índia.

Empresas brasileiras de Defesa presentes ou com interesses na Arábia Saudita

Taurus Armas e CBC

Em 22 de março deste ano, o CEO Global da Taurus Armas S.A., Salesio Nuhs, informou que, durante a recente Feira em Abu Dhabi (IDEX 2023), surgiram boas perspectivas de crescimento no mercado da Arábia Saudita e Emirados, deixando implícito que a empresa está próxima de fechar um importante negócio nessa região.

Em 30 de dezembro de 2021, a Taurus Armas S.A. já havia celebrado um contrato para constituição de joint venture com sua coligada Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), como parte das estratégias de internacionalização de suas operações visando fomentar negócios e oportunidades na Arábia Saudita.

Com o nome de Companhia Brasileira de Cartuchos Taurus Arabia Holding, LLC., a  joint venture tem como principal objetivo possibilitar a busca e antevisão mais eficiente de oportunidades de negócios neste mercado relevante, especialmente considerando os planos do governo do país para estabelecer uma base industrial de defesa local, no âmbito da estratégia denominada “Visão 2030”.

O estabelecimento de uma subsidiária na Arábia Saudita e o interesse da Taurus e da CBC na região estão em consonância com os planejamentos estratégicos das duas empresas, haja vista que o mais rico, poderoso e estratégico país do Oriente Médio passou a desenvolver uma política industrial de defesa bastante similar à da Índia, onde ambas já possuem fábricas.

Localização estratégica reúne Arábia Saudita, Índia e Filipinas na importante e promissora região do Oriente Médio e  Indo-Pacífico

Embraer
Em entrevista ao portal Defense Here, em 26/04/2023, o CEO da Embraer Defesa e Segurança, Bosco da Costa Junior falou sobre os mercados de interesse da Embraer onde destacou a região do Oriente Médio, dizendo “Temos nosso escritório em Dubai desde 2009. Então vemos esta região, a região do Oriente Médio, como uma região muito importante e muito estratégica para a Embraer”. Ele também afirmou que a Embraer está buscando fortalecer suas parcerias com os países da região e ajudá-los a localizar tecnologias, acrescentando que “estamos buscando oferecer nossas soluções para a Arábia Saudita e também para os Emirados”.

Grupo Edge (estatal dos Emirados Árabes Unidos)
A região MENA (sigla em inglês que se refere a regiões do Médio Oriente e Norte da África), e o Golfo em particular, é um mercado natural para o Grupo EDGE, que participou do Riyadh World Defense Show inaugural em 2022, com seu presidente executivo Faisal Al Bannai dizendo que “a Arábia Saudita é um mercado estratégico fundamental para a empresa".

O EDGE fez parceria com a Saudi Arabian Military Industries (SAMI) no passado: em 2021, sua subsidiária NIMR assinou um acordo com a SAMI para a produção de veículos militares na Arábia Saudita.

Na LAAD 2023, ocorrida recentemente no Rio de Janeiro, o Grupo Edge realizou várias parcerias com empresas brasileiras do setor de defesa, a saber:
- com a Akaer: parceria estratégica para a área de Defesa e Aeroespacial. As duas companhias assinaram um Memorando de Entendimento (MOU) com o objetivo de desenvolver e produzir sistemas e equipamentos de altíssima tecnologia no setor de aeroespaço e defesa em ambos os países;
- com a Kryptus: parceria para colaborar para aprimorar os recursos de comunicações cibernéticas e seguras e buscar oportunidades estratégicas nos mercados de tecnologia avançada e defesa;
- com a SIATT: MoU para cooperar no domínio de armas inteligentes;
- com a Condor, especialista em tecnologias não letais do Brasil, para combinar as capacidades das empresas e buscar conjuntamente oportunidades de negócios nos mercados dos Emirados Árabes Unidos e do Brasil. O MoU com a Condor já foi assinado por Marcos Degaut.

Akaer
Também na LAAD, a Akaer, empresa brasileira com mais de 30 anos de atuação no desenvolvimento de tecnologias de ponta para os setores de Defesa e Aeroespacial, além da parceria com o Grupo Edge, promoveu uma outra com a empresa saudita Intra Defense Technologies para o desenvolvimento de drones naquele país.  As duas companhias estabeleceram um contrato para o desenvolvimento de veículos aéreos não tripulados (UAVs, na sigla em inglês) de grande porte para inicialmente atender as necessidades da Arábia Saudita. O projeto, no entanto, poderá se estender para outros países e regiões.

Atualmente, a Intra opera UAVs na Arábia Saudita com grande sucesso, acumulando mais de 4 mil horas de voo em diferentes missões. A empresa parceira desenvolveu dois UAVs VTOL (que realizam pouso e decolagem /verticais), um dos quais foi exposto na LAAD Defense & Security.

Militares brasileiros integrantes do Projeto Estratégico ASTROS 2020 em um intercâmbio sobre artilharia de mísseis e foguetes com o Exército da Arábia Saudita em 2014

Avibras
A Avibras exportou o Sistema Astros II para a Arábia Saudita em meados dos anos 80. Em novembro de 1985, a empresa fechou contrato para o fornecimento de dez baterias Astros II em um negócio de US$ 389 milhões, e esse país chegou a utilizá-lo na 1ª Guerra do Golfo contra as forças iraquianas, sob comando da coalizão liderada pelos Estados Unidos, com grande sucesso.

Enfrentando agora uma delicada situação financeira, um pesado investimento saudita poderia ser muito bem-vindo para a Avibras.


 

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