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24 janeiro, 2023

Fitch afirma ratings da Embraer em 'BB+'/'AAA(bra)' com perspectiva estável


*Fitch Ratings - 23/01/2023

A Fitch Ratings afirmou os IDRs (Issuer Default Ratings - Ratings de Inadimplência do Emissor) de Longo Prazo em Moedas Estrangeira e Local 'BB+' da Embraer S.A. e seu Rating Nacional de Longo Prazo 'AAA(bra)'. A agência também afirmou o rating 'BB+' das notas sem garantias emitidas pela Embraer Overseas Limited e pela Embraer Netherlands Finance BV. A Perspectiva dos ratings corporativos é Estável.

Os ratings da Embraer refletem sua posição competitiva nos mercados de jatos comerciais e executivos; sua ampla carteira de pedidos (USD18,4 bilhões), que cobre vários anos de vendas; e a relativa diversificação de sua carteira de produtos, que inclui ainda programas de defesa e operações sólidas de seu segmento de serviços e suporte. O robusto perfil de liquidez da Embraer (mantido principalmente fora do Brasil) e suas elevadas receitas de exportação, combinadas com algum fluxo de caixa operacional offshore, sustentam ainda mais as classificações. A Fitch estima que a alavancagem líquida consolidada da Embraer permanecerá em torno de 2,5 vezes nos próximos três anos, enquanto a empresa desenvolve seu novo segmento de negócios (Eve Holdings Inc. (Eve)). A Embraer tem o desafio de reduzir sua alavancagem bruta, que deverá diminuir para cerca de 5,3 vezes até 2024, à medida que a geração de caixa operacional melhore.

Principais fundamentos do rating
Recuperação Contínua da Carteira de Pedidos e das Entregas: A Fitch acredita que as entregas de aeronaves comerciais relativas ao ano fiscal de 2022 ficarão 36% abaixo dos patamares reportados em 2019 e, em 2023 e 2024, 21% e 13% abaixo do registrado naquele ano (entregas próximas à meta de sessenta, setenta e oitenta aeronaves por ano, respectivamente). Para as entregas de jatos executivos, a recuperação deverá ser mais rápida, com volume 6% menor em 2022, seguido de um aumento de 15% em 2023 e de 24% em 2024 (entregas próximas ao planejamento de 100, 125 e 135 aeronaves por ano, respectivamente). Durante 2022, a Embraer e os setores aeroespacial e de defesa — em termos globais — sofreram com a escassez de materiais e restrições na cadeia de suprimentos, o que impactou as metas de entrega. A Fitch acredita que este cenário melhorará ao longo de 2023, o que deve sustentar a contínua retomada das entregas.

A carteira de pedidos firmes da Embraer (aviação comercial) era de 297 aeronaves ao final do terceiro trimestre de 2022, frente a 281 no quarto trimestre de 2020, mas ainda abaixo das 338 registradas em 2019 (antes da pandemia). Em termos financeiros, o montante já superou os patamares pré-pandemia: ao final do terceiro trimestre de 2022, a empresa reportou USD17,8 bilhões , montante superior ao registrado em 2019 e acima dos USD14,4 bilhões reportados ao final de 2020. Na visão da Fitch, a carteira de pedidos sustentará a produção da Embraer nos próximos anos, mas é impactada por fatores como concentração e qualidade. A empresa continua buscando aumentar os pedidos de sua aeronave E2.

Forte Posição de Mercado: A forte posição da Embraer no mercado de jatos comerciais com menos de 150 assentos e de jatos executivos globais é o principal fator que sustenta a esperada recuperação de sua carteira de pedidos a médio prazo. A expectativa é de que os produtores de jatos comerciais de médio porte tenham oportunidades em companhias de linhas aéreas principais ou de baixo custo, que buscam, atualmente, ajustar o tamanho de sua frota à demanda. A posição financeira ou de negócios mais fraca de alguns concorrentes, ou, em alguns casos, uma mudança de estratégia, cria oportunidades de crescimento para a Embraer, o que pode ajudá-la a retomar as entregas em 2023/2024. A Embraer tem elevada exposição ao mercado regional/doméstico dos Estados Unidos, que apresenta forte recuperação em alguns setores, mas também enfrenta algumas restrições relacionadas a infraestrutura. O desempenho destes mercados também é uma consideração importante do rating e deve ajudar a impulsionar as entregas da aviação comercial.

Recuperação da Margem de EBIT: O desempenho operacional da Embraer deve melhorar com a recuperação das entregas. No ano fiscal de 2022, as margens de EBIT da companhia devem se recuperar, atingindo em torno de 4,6%, e continuarão aumentando em 2023 e 2024, para aproximadamente 6%. Durante o período anterior à pandemia, a empresa enfrentava pressões enquanto implementava vários programas de desenvolvimento. O menor volume de entregas na aviação comercial e o mix menos favorável afetaram a diluição dos custos fixos da Embraer entre 2020 e 2022.

Forte Aumento do Capital de Giro em 2022: A Embraer deve registrar forte geração de fluxo de caixa livre (FCF) no ano fiscal de 2022, mas os atuais programas de investimentos e desenvolvimento na Eve pressionarão o FCF nos próximos dois a três anos. A maior geração de fluxo de caixa operacional em 2022 e, principalmente, uma importante entrada de capital de giro (sobretudo pagamentos pré-entrega) devem resultar em FCF bem acima da meta de USD150 milhões, segundo projeções da Fitch. Isto representa uma melhora em relação à queima de USD1 bilhão de FCF em 2020 e ao FCF positivo de USD239 milhões em 2021. Os investimentos consolidados são estimados em cerca de USD250 milhões. Para 2023 e 2024, o FCF deverá ficar negativo em USD227 milhões e USD292 milhões, respectivamente, após investimentos de USD396 milhões e USD555 milhões (incluindo a Eve). Para 2022 e 2024, o atual cenário de rating da Fitch não assume distribuições de dividendos.

Alavancagem Líquida com Tendência de Queda: Pelas projeções da Fitch, o índice dívida líquida/EBITDA da Embraer atingirá 2,4 vezes no ano fiscal de 2022, abaixo do reportado em 2021 (4,3 vezes), e, então, se estabilizará em aproximadamente 2,3 vezes. Isto se compara a 20,7 vezes em 2020, 4,1 vezes em 2019 e à média de 1,0 vez durante o período de 2015 a 2017. A alavancagem bruta da Embraer permanece elevada para os ratings, e deve se situar em torno de 7,9 vezes a 5,3 vezes nos próximos três anos. A capacidade de a empresa preservar a geração de FCF positivo, reduzir a alavancagem bruta, manter a alavancagem líquida consistentemente abaixo de 2,5 vezes durante os próximos anos e gerenciar o desenvolvimento da Eve é fundamental para possíveis ações de rating positivas a médio prazo.

Risco Moderado no Brasil: Aproximadamente 90% da receita da Embraer são gerados por exportações ou operações comerciais no exterior. No entanto, o ambiente econômico e político do Brasil representa preocupação, uma vez que a maior parte da base de ativos operacionais da companhia está domiciliada no país, e o governo responde por grande parte da carteira do segmento de defesa. O Brasil está listado como parte relacionada nos registros da Embraer à Securities and Exchange Commission (SEC, Comissão de Títulos e Câmbio dos EUA), devido à “golden share” que o governo brasileiro detém na empresa, além de sua participação como acionista direto (aproximadamente 5% da Embraer), por meio de uma empresa controlada por este. A recente renegociação de contratos da Embraer com o Governo Federal é um ponto a ser observado, mas a Fitch não espera grande impacto no fluxo de caixa da empresa.

Rating Acima do Teto-País: Atualmente, a Fitch não considera o Teto-país do Brasil um limite para os ratings da Embraer, tendo em vista a elevada posição de caixa da empresa fora do país, bem como o seu forte foco nas exportações e nos negócios em crescimento no exterior. Com base nestes fatores, a Embraer poderia ser classificada até três graus acima do Teto-país brasileiro, de acordo com a metodologia da Fitch.

As principais premissas do Cenário de Rating da Fitch para a Embraer incluem:

-- Entregas de aeronaves comerciais em torno da meta de sessenta em 2022 e de setenta em 2023 (-36% e -21% em comparação com 2019);

-- Entregas no mercado de jatos executivos em torno da meta de 100 em 2022 e de 125 em 2023 (-6% e -15% em comparação com 2019);

-- Margem de EBIT em torno de 4,6% em 2022, com ligeira recuperação após este ano;

-- Investimentos consolidados em torno de USD250 milhões no ano fiscal de 2022 e de USD396 milhões em 2023;

-- Manutenção de forte liquidez durante o período da projeção, bem como da estratégia ativa de gestão de passivos para administrar riscos de refinanciamento.

Resumo da análise
A Embraer é uma das líderes do mercado de jatos comerciais com menos de 150 assentos. Suas aeronaves são conhecidas pela engenharia, pela semelhança entre os modelos e pelo design interno. Em 30 de setembro de 2022, a carteira da empresa apresentava 297 pedidos firmes. A carteira total de pedidos, que abrange contratos de todos os segmentos, totalizava USD17,8 bilhões no mesmo período. A posição competitiva da Embraer — mais fraca do que a de seus principais pares globais, sobretudo The Boeing Company (IDR 'BBB-'/Estável) e Airbus SE (IDR 'BBB+'/Estável) —, baseada em escala e força financeira, é parcialmente compensada por sua boa posição no segmento de jatos comerciais com menos de 150 assentos, bem como por seu perfil financeiro administrável. A maior parte das operações da Embraer está no Brasil, mas seu grande fluxo de exportações, saldos de caixa e fluxo de caixa operacional no exterior são fatores que sustentam seus ratings acima do Teto-país, de acordo com a metodologia da Fitch.
 

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