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17 dezembro, 2022

Índia poderá mudar completamente a perspectiva da Taurus a partir de 2023

Assinatura da JV com o Jindal Group em 27/01/2020. Abhiyuday Jindal e CP Agrawal estão ao lado esquerdo de Salesio Nuhs

 
*LRCA Defense Consulting - 17/12/2022

Na Índia, por meio de sua joint venture JHind Taurus India Defence Systems Private Ltd., a Taurus Armas é uma das empresas que está disputando a megalicitação (maior do mundo) de 425 mil fuzis CQB (close-quarters battle - para combate a curta distância) a serem fornecidos ao Exército e à Marinha do país.

A concorrência é acirrada, mas a multinacional brasileira tem preços muito competitivos, qualidade de sobra, alta tecnologia e volume de produção (algo que poucos têm), além de ter sido a primeira joint venture de armas leves na Índia e de ter uma fábrica quase pronta para entrar em operação. Os três primeiros fatores fizeram com que vencesse a concorrência para fornecer o Fuzil T4 ao Exército das Filipinas no ano passado, também competindo com grandes fabricantes internacionais de armas.

Segundo o CEO Global da Taurus declarou na reunião APIMEC recentemente, existem dois grandes fabricantes que são favoritos nessa concorrência, sendo a Taurus um deles, e é bastante provável que cada um fique com 50% do total.

No evento, o principal executivo da Taurus não conseguiu conter seu entusiamo e disse textualmente que "temos um p..a de um negócio pela frente, que é o mercado da Índia".

O poder do Grupo Jindal
Quando Abhiyuday Jindal, Managing Director da Jindal Stainless (JSW), iniciou as conversas com a Taurus sobre a possibilidade de uma JV, ainda em 2019 durante uma feira na Alemanha, já tinha em mente o fornecimento de fuzis, pistolas e submetralhadoras para as Forças Armadas, policiais e paramilitares da Índia, sob o poderoso guarda-chuva financeiro, de infraestrutura e de prestígio que o Grupo Jindal têm no país.

Abhiyuday Jindal é neto de Savitri Devi Jindal (viúva de OP Jindal, fundador do Grupo), a mulher mais rica da Índia (US$ 5,8 bilhões) e Presidente do Grupo Jindal. Savitri reside na cidade de Hisar, estado de Haryana, sede da JSW e da JV da Taurus. Seus quatro filhos homens – Prithviraj, Sajjan, Ratan (pai de Abhiyuday) e Naveen dirigem o império da família. Savitri é também Ministra de Estado da Receita, Gestão de Desastres, Reabilitação e Habitação no Governo do Estado de Haryana. Naveen é membro do Parlamento indiano.

O Grupo Jindal é composto por poderosos negócios em siderurgia, mineração, energia, portos, infraestrutura, defesa e software. A JSW Steel é a segunda maior produtora privada de aço da Índia, a sexta maior produtora de aço do mundo e, em parceria com a japonesa JFE Steel, a segunda maior produtora de aço do Japão. Seu faturamento anual é superior a US$ 24 bilhões e possui 200 mil funcionários no mundo, sendo 45 mil deles somente na divisão de aço.


Índia: uma mina de ouro para a Taurus

Vencendo ou não essa megalicitação, a Taurus tem nesse país e no mercado asiático uma verdadeira mina de ouro, capaz de compensar muitas vezes uma eventual queda nas vendas brasileiras e de, no longo prazo, até se aproximar ou mesmo ultrapassar o volume de vendas nos EUA.

Os negócios que já estão "na mesa", além da megalicitação de fuzis, são:
- Exército: compra emergencial de 5 mil submetralhadoras.
- Forças Policiais: aquisição emergencial de 5 mil fuzis e 5 mil pistolas, além de estar aguardando aprovação de mais 15 mil fuzis.
- Forças de Segurança: licitação de 4 mil pistolas (fase de testes).
- Guarda de Segurança Nacional: possibilidade de aquisição de pistolas, submetralhadoras e fuzis (mais de um milhão de integrantes).

As licitações futuras para órgãos policiais e paramilitares (somente na Índia) já somam cerca de 260 mil armas de diversos tipos (fuzis, submetralhadoras e pistolas). O mercado civil, que tem apenas 74 milhões de armas (a maioria antigas e obsoletas) para uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas, é um nicho perene e promissor.

Ou seja, ainda sem ter inaugurado sua fábrica na Índia, a Taurus já tem a perspectiva de concorrer a licitações que montam, por enquanto, em cerca de 685 mil armas. Apenas para fins comparativos, as vendas totais no mercado brasileiro em 2021 foram de 372 mil armas.

Assinatura da JV com o Grupo Jindal

Declarações do CEO Global da Taurus e do Diretor da Jindal Defence
Em entrevista ao Mint (um dos maiores portais de economia da Índia), em 13/11, Salesio Nuhs declarou que "Na primeira fase, os produtos estarão disponíveis para atender às exigências das Forças Armadas da Índia, bem como de outros órgãos governamentais relevantes. Pistolas Taurus 9mm, carabinas 5,56 x 45mm, fuzis 7,62 x 39mm e metralhadoras 9 x 19mm são alguns dos produtos que estarão disponíveis para o Exército Indiano. A Taurus também está trazendo suas armas de fogo não restritas de renome mundial para o mercado civil. Em breve, nossos rifles e revólveres voltados para o mercado civil começarão a ser fabricados na Índia e estarão disponíveis em todo o país. A produção começará com pistolas calibre 7,65 Taurus e revólveres calibre 32 Taurus. Vários outros calibres serão disponibilizados dependendo da demanda do mercado. Os planos de expansão estão no escopo de nossa parceria e podem incluir uma ampla gama de armas de fogo para diferentes aplicações, de acordo com as necessidades específicas das forças locais".

Anteriormente, em matéria publicada pelo Mint em 17/10, CP Agrawal, diretor administrativo da Jindal Stainless e diretor da Jindal Defense, declarou que a fábrica da JHind Taurus India produzirá uma pistola 9mm para uso da Polícia Armada Central (CAPF) e do Exército Indiano. Segundo Agrawal, as duas empresas também planejam fabricar uma carabina de 5,56 x 45mm, exigida em grande número pelo Exército Indiano. A Jindal Defense e a Taurus Armas estão participando do último processo de solicitação de informações iniciado pelo governo para esta arma. Agrawal disse ainda que a Taurus também tem o fuzil 7,62 x 39mm que substituirá a plataforma AK e será fornecido à CAPF e às Forças Armadas da Índia
 
Na verdade, as afirmações de ambos sobre a possibilidade de fornecimento de fuzis 7,62 x 39mm às forças armadas é uma boa novidade, já que, desde 2019, há uma JV do fabricante estatal indiano com a russa Kalashnikov, cujo objetivo seria fabricar na Índia o AK-203, fuzil nesse calibre, para cumprir tal objetivo. Vale observar, no entanto, que, passados três anos e apesar dos muitos esforços, essa JV ainda não saiu do papel, estando apenas no campo das boas intenções. Já o fornecimento de fuzis nesse calibre à Polícia Armada Central é uma possibilidade mais concreta.

Motivos do grande interesse indiano em armas leves
Além do interesse específico em fuzis CQB, os motivos principais do grande interesse das forças armadas e de segurança indianas em armas leves modernas são a obsolescência e a diversidade de origens de seu armamento desse tipo, o que faz com que a Índia esteja enfrentando graves problemas operacionais e também logísticos, haja vista a dificuldade para suprir, manutenir as armas e repor peças gastas ou defeituosas.

Para se ter uma ideia, a pistola padrão das forças armadas e policiais indianas é a Pistol Auto 9mm 1A, uma antiga e obsoleta pistola semiautomática de ação simples, cópia licenciada da pistola Inglis 9mm (Browning Hi-Power), enquanto que a submetralhadora mais utilizada por essas forças é antiga submetralhadora britânica Sterling (SAF Carbines 9mm) desenhada ainda durante a II Guerra Mundial (estão sendo substituídas aos poucos pelas JVPC, uma submetralhadora 5,56x30mm, de aparência moderna mas com concepção de 2006).

File:Pistol Auto 9 mm 1A - Kolkata 2012-01-23 8779.JPG
Pistol Auto 9mm 1A

A Índia tem o terceiro maior orçamento militar do mundo, contando com forças armadas que têm mais de 1,3 milhão de integrantes e forças de segurança (policiais e paramilitares) que possuem um efetivo de mais de 1,4 milhão de pessoas, além de segurança privada com mais de 7 milhões de homens e mulheres.

Como seu objetivo é se tornar uma das nações proeminentes no mundo dentro de alguns anos, suas forças armadas e de segurança necessitarão caminhar no sentido de padronizar o respectivo armamento leve, limitando-o a poucos modelos e passando a utilizar armas modernas e de alta qualidade fabricadas no próprio país (Make in India / Atmanirbhar Bharat - Feito na Índia / Índia Autossuficiente). Só assim obterão excelência operacional e logística, com grande economia de tempo e recursos. 

Hub brasileiro tornará a Taurus ainda mais focada na exportação
A Taurus está levando a cabo uma grande ampliação na unidade de São Leopoldo (RS). Além de aumentar a produção normal de armas, principalmente para a exportação, a iniciativa visa, na prática, tornar a empresa ainda mais independente das eventuais mudanças nas normas legais brasileiras, haja vista que seu planejamento estratégico prevê que ali seja estabelecido um grande hub de produção de peças e componentes (kits), que serão enviados às unidades fabris dos EUA e da Índia, onde serão utilizados para a montagem das armas que receberão o Made in USA ou Made in India, conforme o caso. 

Prevendo uma grande expansão para seus negócios na Ásia, a área fabril da JV na Índia é muito maior do que a fábrica construída, possibilitando qualquer ampliação que venha a ser necessária.

Frente a tais fatos, a JV JHind Taurus India Defence Systems Private Ltd. tem um gigantesco mercado potencial, civil e militar, sem parâmetros no mundo capitalista e que poderá mudar completamente a perspectiva da Taurus Armas a partir do ano que vem.

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