*LRCA Defense Consulting - 21/09/2022
No dia 20, o STF formou maioria para validar as medidas liminares do Ministro Fachin nas ADIs 6119, 6139 e 6466, que já estavam vigorando desde que foram proferidas.
Frente ao fato - e como já era uma decisão esperada, dada às posições da maioria do STF no que diz respeito ao assunto - a Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições - ANIAM esclareceu (via Comunicado) que o conjunto de medidas atinge apenas a venda de armas de fogo de uso restrito aos CACs (por exemplo, 44
Magnum, 454 Casull, 5,56, 7,62, 223 e 300 Blackout) e torna obrigatória a comprovação da
efetiva necessidade para a posse de armas (nas aquisições via SINARM), por razões profissionais ou pessoais, haja vista que,
anteriormente, bastava uma declaração própria.
A ANIAM enfatiza que não foram analisadas outras questões relativas à matéria, ou seja, diferentemente do que está sendo divulgado por alguns órgãos de imprensa, a situação permanecerá igual a que vigia até ontem, com a venda de armas de uso
permitido permanecendo autorizada (nos calibres, por exemplo, 9mm, 40, 45, 357 e 12),
assim como as atuais quantidades de munição estabelecidas para venda.
Uma questão importante a ser levada em conta é que as restrições impostas não retiram as armas de calibre restrito já em circulação, ou seja, seus proprietários continuarão em sua posse legalmente.
Em virtude do posicionamento do STF e de 2022 ser um ano de eleições para Presidente da República, com a possibilidade de ser eleito um político francamente contrário à questão do armamento do cidadão de bem, esta Consultoria resolveu apresentar algumas contribuições visando descortinar o futuro da Taurus Armas no caso da concretização desse novo cenário, haja vista que, se o atual Presidente for reeleito, não haverá grandes mudanças na orientação do Poder Executivo.
Turnaround sob vigência da lei antiga
Inicialmente, é relevante lembrar que o
turnaround da Taurus Armas foi iniciado de 2016 para 2017, sendo fortalecido e consolidado de
2018 em diante após a chegada da atual equipe diretiva. Em consequência, a "virada de mesa" da Taurus aconteceu sob a vigência das normas ainda estabelecidas pela Lei nº
10.826/2003 (conhecida como Estatuto do Desarmamento), sendo anterior, portanto, aos decretos emitidos pelo Presidente
Bolsonaro a partir de 2019.
Com um backorder (pedidos em carteira) de 462 mil armas no final do primeiro semestre, ou seja, com quase três meses de produção já praticamente
vendida, sendo 90% para o mercado externo, a Taurus, por ser uma
multinacional e ter mais de 80% de sua produção voltada para o mercado internacional, está numa situação bastante confortável para encarar o cenário
traçado, como tem declarado Salesio Nuhs, CEO Global da empresa, desde que, ainda em 2021, tal cenário começou a ser esboçado como uma possibilidade.
O mercado brasileiro é pequeno para a empresa, mas é sua prioridade
Com
orgulho de ser uma empresa nascida e crescida no Brasil há mais de 80
anos, os
consumidores brasileiros sempre foram a prioridade estabelecida pela
Taurus ao traçar suas estratégias empresariais, mesmo tendo ela uma maior lucratividade no mercado externo.
Com isso, apesar de uma
demanda externa muito aquecida nos últimos três anos, fez questão de
atendê-los primeiro, em detrimento do mercado internacional, onde está a quase
totalidade de seu backorder. Este é um dos motivos pelos quais o
mercado interno, embora represente, historicamente, somente de 12 a 15% do total de vendas (18,5% no 1S22), contribuiu com
cerca de 28,6% da receita operacional líquida (armas & acessórios) do último semestre.
Planejamento estratégico firme prevê opções para a empresa
Em março de 2021, em declaração a esta editoria, o CEO Global da Taurus, Salesio Nuhs, afirmou que "a Taurus tem um planejamento estratégico muito firme e, evidentemente,
nesse planejamento estratégico, pela natureza de seu produto, são
consideradas possíveis alterações no mercado e nas questões políticas, tanto
no Brasil quanto nos Estados Unidos, que é o maior mercado da
companhia. O mercado brasileiro é pequeno para a Taurus. Com
isso, essas alterações políticas [as possibilidades, na época, de Lula concorrer e vencer nas
eleições de 2022, e a ingerência do STF] não mudam os resultados financeiros da empresa".
Salesio completou dizendo que "Evidentemente, o que pode mudar é a questão do direito do cidadão de possuir uma arma para a legitima defesa, mas isso não chega a impactar financeiramente a empresa".
Em agosto de 2021, em entrevista ao InfoMoney, o CEO da Taurus foi bastante claro: “Se tivermos um revés na questão política, o mais grave será o
cerceamento do direito democrático de comprar arma de fogo. Em 2005
tivemos uma vitória [63,94%] em referendo a favor das armas, que não foi
democraticamente respeitada.”
Em relação aos negócios da empresa,
foi categórico: “É inconveniente ter uma fábrica de armas em um país
anti-armas, mas em resultado isso não nos preocupa. Toda a nossa
produção seria mandada para o exterior se houvesse uma proibição total.”
Cenário adverso a partir de 2023?
A Taurus vendeu 1 milhão de armas no 1º semestre de 2022. Foram 770 mil para os EUA e 52 mil para o resto do mundo, no total de 822 mil, comercializadas em dólar. Para o Brasil foram 186 mil armas, comercializadas em reais.
As armas de calibres restritos, que tiveram a venda proibida a CACs pelo STF, representam apenas 3% do faturamento da empresa, sendo que seus consumidores, na grande maioria, são dos Estados Unidos, conforme matéria publicada ontem (21) no portal TradeMap.
No cenário em que haja uma vitória de Lula e a consequente manutenção de um STF com a orientação majoritária atual, CACs e outras categorias seguiriam comprando, pois continuam "de uso permitido" as armas com calibres 9mm, 12, .357 Magnum, .40, .44 e .45, que são os mais comuns no Brasil.
As Polícias, Guardas Municipais e integrantes das Forças Armadas e da polícias também continuariam comprando, inclusive as armas de calibres restritos, pois não sofreram nenhuma restrição.
Em tal cenário, uma possível queda nas vendas internas poderia ser compensada facilmente com aumento do esforço de vendas nos EUA e em outros países, como na Índia a partir de janeiro de 2023, quando a unidade fabril nesse país entrará em operação.
Para tanto, entre outras medidas e além da exportação direta de produtos acabados, o planejamento estratégico da empresa prevê o estabelecimento de um hub de produção de peças e componentes (kits) no Brasil, que serão enviados às unidades fabris dos EUA e da Índia, onde serão utilizados para a montagem das armas que receberão o Made in USA ou Made in India, conforme o caso.
Prevê ainda a possibilidade de dobrar a capacidade produtiva da fábrica americana, haja vista que esta tem espaço físico para crescer muito. Possibilidade similar poderá ser concretizada também na Índia, pois lá se encontra o maior e mais inexplorado mercado mundial para armas leves, e a Taurus almeja ser um dos grandes players desse mercado.
Uma outra opção possível é a transferência estratégica de linhas de montagem do Brasil para os EUA e/ou para Índia, assim como já aconteceu com uma da TS9 e outra da G2c em 2020 para os Estados Unidos, o que pode ser feito em um prazo curto, se for o caso.
Conclusões
Caso se imponha esse cenário restritivo, limitando (em maior ou menor grau) os produtos disponíveis ao mercado interno (armamento, munições e acessórios), o robusto desempenho da Taurus não será atingido.
Os grandes prejudicados serão os consumidores brasileiros, tanto os CACs como os demais cidadãos de bem que terão seu direito à legítima defesa não respeitado (mais uma vez), enquanto veem criminosos de todo o tipo se armarem e atentarem livremente contra sua segurança, de sua família e de seu patrimônio.
De igual forma, também serão prejudicados os milhares de proprietários e trabalhadores nas lojas, clubes e demais empresas do setor atingidas, que poderão perder seus negócios ou seus empregos.
Perderá também a economia de municípios e estados, seja pela diminuição de receita com impostos e divisas, seja por terem que arcar com novos custos sociais e de saúde para com os desempregados.
Quanto à Taurus, bastará à
empresa colocar em execução o seu planejamento estratégico para a situação e se voltar, nova e primordialmente, ao mercado internacional, direcionando para este a maior
parte de seus produtos e/ou
transferindo outras linhas de montagem para as unidades dos EUA e da Índia.
Ao fim e ao cabo, é possível estimar
que, em qualquer que seja o cenário, a empresa tenderá a continuar
crescendo e apresentando números expressivos de vendas e receitas, semelhantes aos
verificados nos últimos anos, haja vista que o mercado internacional tem condições de absorver o que não puder ser comercializado no Brasil.
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