*LRCA Defense Consulting - 27/06/2022
Alguns analistas têm questionado a capacidade de a Taurus Armas aumentar a demanda por seus produtos e, assim, manter a alta lucratividade que tem obtido nos últimos anos. Tais análises se baseiam na possibilidade de o Presidente Biden impor medidas restritivas às armas, na queda do número NICS (intenções de compra) nos EUA (para onde a empresa destina quase 80% de suas produtos), na performance apenas razoável de suas concorrentes americanas Smith & Wesson e Ruger, assim como também na capacidade de o restante do mercado internacional absorver uma suposta queda nos EUA.
Com relação à possibilidade de o Presidente Biden e o Partido Democrata conseguirem aprovar leis mais rígidas que restrinjam de forma significativa o direito constitucional de os americanos de bem portarem armas, a matéria publicada ontem por esta editoria esclarece o problema: "Empresas de armas, munições e esportes ao ar livre têm forte alta após decisão da Suprema Corte dos EUA".
Os demais itens serão tratados a seguir.
Performance da Taurus é superior à das concorrentes americanas
Nos
Estados Unidos, a Taurus é vista como uma legítima empresa americana,
já que tem fábrica no país há 40 anos, é a quarta marca de armas mais
vendida e a primeira mais importada lá, com esse país absorvendo cerca
de 80% das vendas atuais da unidade brasileira.
Além de continuar
firme em terras americanas, onde está mantendo seu nível de vendas e
performando melhor que a concorrência, a empresa teve um aumento de 80%
na quantidade de armas vendidas para o resto do mundo
(desconsiderando-se o Brasil e os EUA).
A nova fábrica na Georgia seguiu, no decorrer desses últimos 12 meses, o seu processo de ramp up
com sucesso maior que o previsto. Com capacidade instalada original
estimada em 800 mil unidades/ano, a unidade produziu 216 mil armas no
1T22, volume 23,5% superior ao apurado no 1T21, totalizando 909 mil
unidades produzidas nos últimos 12 meses. O complexo industrial tem
ainda de cerca de 60% de sua área disponível, com espaço para ampliação
da capacidade a partir de novos investimentos.
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Taurus USA
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A produção de
armas da unidade brasileira no 1T22 foi de 358 mil unidades, o que
representou um aumento de 13,0% em relação ao registrado no mesmo período do
ano anterior. A produção média diária no 1T22 foi de 9,0 mil armas/dia,
considerando as unidades industriais do Brasil e dos EUA, volume 15,4%
superior ao registrado no mesmo período do ano de 2021.
Em termos
de vendas totais, foram 517 mil unidades de armas vendidas pela Taurus
no 1T22, volume 3,8% superior ao registrado no 1T21. O fato é
importante, pois em 2021, o mercado americano ainda estava sob o efeito
da alta demanda "fora da curva".
Além de ter o menor custo de
produção do mundo e um dos mais eficientes sistemas de vendas e de
distribuição, a Taurus está apresentando uma performance superior às
suas principais concorrentes, tanto em vendas - já que passou a se
constituir na maior vendedora de armas leves do mundo em 2021, como em
suas margens, haja vista que sua margem EBITDA é igual ou até superior à
margem bruta de muitas delas.
A multinacional gaúcha está hoje
focada em manter o forte desempenho operacional que tem apresentado em
seus balanços nos últimos anos. Assim, para se adequar ao perfil de
mercado atual, a empresa está ampliando a produção de revólveres, arma
que se constitui em um produto clássico no qual é líder de produção no
mundo. Diferente do segmento de pistolas, cuja demanda aumentou muito
nos últimos dois anos e agora começa a se estabilizar, o revólver conta
com um mercado mais estável, especialmente nos Estados Unidos.
Por
ter previsto esse movimento ainda quando o mercado americano de armas
estava superaquecido, a Taurus investiu forte em novas máquinas e no
treinamento/formação de recursos humanos envolvidos com o projeto
chamado internamente de "Excelência Revólver", automatizando operações,
racionalizando processos, diminuindo custos e otimizando seu sistema de
vendas.
Tal estratégia se mostrou um grande sucesso e já está
fazendo diferença nos resultados da empresa, haja vista que as margens
da Linha Revólver, que eram cerca da metade das demais armas, agora
estão praticamente iguais. Com isso, a companhia ganha em lucratividade.
Em
2022, além dinamizar ainda mais o esforço de vendas nos
EUA e em outros países de alto potencial, o foco da empresa é realizar o lançamento de produtos que tragam
ainda melhores margens, visando atingir ou reforçar nichos específicos
de mercado, contando também com tecnologias de ponta, como a inserção de
grafeno e, inclusive, com o chamado "revólver mais barato do mundo".
O "novo normal" do mercado americano não é tão normal assim
Nos
EUA, a intenção de compras de armas medida pelo número NICS ajustado de maio deste ano foi a 3º maior da história para o mês, o que mostra que a demanda
por armas de fogo é constante e sustentada, embora abaixo dos totais de
pico de 2020 e 2021, anos totalmente atípicos.
O número de maio (ajustado), continuou a sequência de mais de 1
milhão de verificações de antecedentes para a venda de uma arma de fogo
ao longo de 34 meses, demonstrando que os consumidores americanos continuam buscando esse produto em níveis elevados. Com
essa longa sequência de meses nesse patamar, analistas americanos do
setor acreditam que ele tenha
passado a se constituir no "novo normal" para o mercado de armas de fogo
dos EUA.
No 1T22, mesmo com o NICS variando em -23,8%, as vendas
da Taurus nesse país se mantiveram praticamente no mesmo nível do 1T21.
Como 2021 foi um período atípico, caracterizado por uma demanda "fora
da curva", a performance do empresa no 1T22 evidenciou e caracterizou
uma maior presença da marca brasileira/americana no maior mercado
consumidor de armas leves, contrariando as oscilações verificadas no
NICS e, também, a baixa performance de suas concorrentes locais.
Outro fator relevante a considerar foi que, em 2021, 8,5
milhões de americanos adquiriram sua primeira arma e a tendência é que
estes mostrem comportamento semelhante aos demais consumidores locais,
ou seja, que continuem comprando mais armas depois da primeira. Além
disso, as intenções de compra de 2022 já são 26% maiores do que os dois
anos pré-pandemia. Para tais consumidores, o custo mais acessível das "armas de entrada" da Taurus, como a pistola G2c e o revólver 856, são a opção mais interessante.
Armas longas
No maior mercado do mundo para armas
leves (pistolas, revólveres, submetralhadoras e fuzis), as armas longas (fuzis, carabinas e
rifles) representam cerca de 40% do total, tornando-se um atrativo para
qualquer grande empresa mundial do setor.
Até
o ano de 2020, a Taurus não manifestava a intenção de entrar nesse
mercado, haja vista que produzia apenas um modelo de fuzil e este ainda não estava consolidado
internacionalmente. Além disso, todas as grandes empresas americanas do
setor, além de centenas de outras pequenas, fabricam uma versão do
AR-15/M4.
Com o reconhecimento
internacional de seus fuzis obtido nos últimos dois anos, com o
desenvolvimento de várias versões do T4 (em tamanhos de cano e
calibres), do recente T10 no calibre 7,62 x 51mm e de um rifle de
ferrolho (bolt action), a empresa redefiniu sua estratégia e, pelo visto, partirá para o ataque nos EUA. Segundo
CEO Global, Salesio Nuhs, a empresa pretende concretizar esse novo e
importante passo tendo, como carros-chefes iniciais, o novo rifle de
ferrolho e as carabinas lever action (ação por alavanca), sendo que estas já têm uma fatia de mercado de cerca de 4% nos EUA com as carabinas Puma.
As altas margens da empresa, devidas a um custo de produção
significativamente menor, permitem que possa ser bastante agressiva,
tanto em licitações para o mercado de Law Enforcement (órgãos de
segurança americanos), onde ainda não está presente, como para a venda de
grandes lotes ao mercado civil.
A propósito, a fábrica de armas longas
merecerá uma ampliação própria, haja vista a nova estratégia nos EUA e,
também, à possibilidade de vir a fornecer fuzis para o imenso mercado
asiático.
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Fuzil T4 .300 MLOCK |
Ásia, África e Oriente Médio ampliam a diversificação geográfica das vendas
Em
mais uma antecipação à normalização da demanda nos EUA (mesmo que em
patamares muito mais altos ao período pré-pandemia), a multinacional
brasileira continua ampliando a diversificação geográfica de suas
vendas, conquistando novos mercados e passando a ter posição de
proeminência em outros com grande potencial e/ou com expressivo
crescimento.
Dentro dessa estratégia, a Ásia assume importância
capital para a empresa, haja vista que alguns de seus países estão entre
os que mais crescem no mundo. Além disso, é a região que possui o maior
adensamento populacional do planeta e onde os mercados civil, militar,
policial, paramilitar e de segurança privada estão entre os mais
promissores, haja vista que, via de regra, dispõem de armamentos de
muitas origens e, em vários casos, parcialmente obsoletos.
Com
esse foco, a empresa já tem uma fábrica na Índia, que deve iniciar suas operações
em 2022, contando ainda com a perspectiva paralela de vencer a
licitação fast track (regime de urgência) para fornecer em torno
de 94 mil fuzis T4 5.56mm ao Exército Indiano, além da possibilidade de
concorrer com êxito em uma licitação maior de 350 mil fuzis T4 para essa
Força Armada. Há ainda licitações menores em curso, envolvendo forças
paramilitares e policiais interessadas em armamentos da Taurus.
A
"vizinha" República das Filipinas é outro dos países asiáticos onde a
empresa brasileira tem sucesso, já tendo vendido quase 30 mil pistolas
TS9 para a Polícia Nacional e mais de 13 mil fuzis T4 para o Exército do
país.
Ainda
na Ásia, a empresa está direcionando seus esforços atuais de vendas
para dois outros países muito promissores e que poderão anunciar novidades
ainda em 2022: a República Popular do Bangladesh (um antigo cliente) e o Nepal, também
vizinhos da Índia, o que facilitaria futuros negócios.
Por outro lado, desde o final de 2021, a
estratégia de exportações envolvendo a indústria de defesa brasileira
passou a ter alguns novos países em foco, como Malásia, Filipinas e
Indonésia, no sudeste asiático. A região vive um clima de forte tensão
com a expansão militar promovida por Pequim na região marítima ao sul da
China. Outro foco de interesse é o norte da África, especialmente o
Egito e a Tunísia.
Em maio de 2020, a Taurus Armas realizou a
venda de 1 mil fuzis modelo T4 e 200 submetralhadoras para as forças de
segurança do Senegal (Gendarmerie Nationale Sénégalaise). A entidade já
utilizava as pistolas Taurus e passou a contar também com o Fuzil T4 e
com a submetralhadora SMT no calibre 9mm.
Em meados de 2021, o
fuzil T4 calibre 5,56mm e a submetralhadora SMT9 calibre 9mm foram
aprovados na dura bateria de testes a que foram submetidos pela
Malaysian Royal Police (Polícia Real da Malásia). Os testes abordaram:
precisão, intercambialidade, areia, lama, imersão em água, queda e
funcionalidade. Segundo a Taurus, "o sucesso obtido nessa etapa abre
caminho para negociações relevantes do fuzil T4 e da submetralhadora
SMT9 com a força policial do país, em uma ação que está em linha com
plano estratégico da companhia de expandir sua penetração na região
asiática".
Em julho de 2021, a empresa vendeu 4 mil pistolas TS9
calibre 9mm para a Polícia Nacional e Força de Segurança do Líbano. A
ISF possui um efetivo de mais de 40 mil policiais. A Taurus foi
escolhida para o fornecimento do armamento em licitação
internacional aberta, em meio a importantes concorrentes mundiais.
Em setembro de 2021, a Taurus Armas realizou uma venda de armamentos para um país
da África Subsaariana, cujo nome não pode ser divulgado por questões de
contrato, ampliando a atuação da companhia no mercado dessa região. A
nova aquisição pela Força Policial desse país contempla 3.650 unidades
do fuzil T4 calibre 5,56 e 3.500 pistolas 9mm PT 92. Em junho de 2021, a Taurus havia realizado a venda
de outras 1.850 unidades do fuzil T4 calibre 5,56 e 550 unidades da
pistola 9mm PT92 para as Forças Armadas deste mesmo país. Em
consequência, o total de armas vendidas para esse país da África
Subsaariana é de 5.500 fuzis T4 e de 4.050 pistolas PT92.
Atualmente, o fuzil Taurus T4 participa de uma licitação no Egito, para a venda de 2.000 unidades dessa arma.
Novos lançamentos para ocupar nichos no mercado internacional
Além
desse esforço em outros países para aumentar a diversificação de suas
vendas, a Taurus está preparando o lançamento de uma nova gama de fuzis
em vários
calibres e tamanhos de cano, de uma submetralhadora compacta e de um
rifle de ferrolho para ocupar importantes nichos mercadológicos
mundiais, como foi o caso do fuzil T4 .300 MLOCK e como será, ainda em
2022, do fuzil T4 em 7,62x39mm, do fuzil T10 em 7,62x51mm e da carabina CTT9c Executive Grade (remove a coronha e vira uma pistola), além de uma nova e atrativa gama de revólveres em diversos modelos e/ou calibres.
É importante ressaltar que o foco da empresa, nos EUA e no resto do mundo, é o mercado de armas civis, pois é neste que obtém as melhores margens, sendo o motivo primordial de a fábrica indiana começar sua fase operacional produzindo esse tipo de armas. As licitações, como toda a venda por atacado, causam uma diminuição das margens, que é compensada, no entanto, pelos altos volumes envolvidos.
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Pistola TS9 e fuzil T4
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Uma equipe ímpar
A grande equipe que vem transformando a história da Taurus Armas desde 2018, sob a liderança do CEO Global Salesio Nuhs, caracteriza-se pela competência, pelo dinamismo e, principalmente, pela visão de futuro que possui, haja vista que empreendeu um verdadeiro turnaround "de livro" na empresa, levando-a de uma situação difícil à posição de maior vendedora mundial de armamento leve em 2021. E isso não seria conseguido se seus produtos não evidenciassem qualidade e tecnologia.
Servindo-se das informações coletadas e analisadas por um robusto sistema de inteligência de mercado e do Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia
Brasil / Estados Unidos (CITE), o staff diretivo tem conseguido antecipar fatos e tendências, indo ao encontro dos desejos/necessidades dos clientes e realizando/executando planejamentos de curto, médio e longo prazos para se adequar às muitas variáveis do mercado e à visão de futuro da empresa.
Além de uma mentalidade de alta produtividade, tecnologia, economia de custos e primorosa qualidade, presente hoje desde o CEO até o funcionário mais simples, é de se ressaltar ainda o dinamismo das equipes de vendas nacional e internacional, trabalhando dia e noite na conquista de novos clientes e na manutenção dos atuais.
Rumo ao futuro
O sucesso crescente do fuzil T4 e da Pistola TS9 entre
forças armadas e policiais mundiais - especialmente da Ásia, da África e
do Oriente Médio (onde há outras boas possibilidades de vendas) - pode
fazer com que a Taurus tenha que replanejar sua estratégia de produção
da armas, pelo menos enquanto a ampliação na unidade brasileira e a
fábrica da Índia não estiverem plenamente operacionais, haja vista que
eventuais pedidos de grandes proporções terão que ter o suporte fabril
necessário. Neste cenário, é possível
que a empresa já possa estar estudando uma solução mais próxima, seja por
meio de uma aquisição estratégica, seja pela formação de uma nova joint venture internacional.
Para concluir e responder à pergunta-título desta matéria, tomou-se por ainda base as seguintes considerações:
- o crescimento histórico do mercado americano de armas leves nos últimos
20 anos (7%, segundo a Taurus) e a tendência de seu prosseguimento para os próximos anos, mas agora em um "novo patamar normal";
- a conquista constante de um maior market share nos EUA, como tem ocorrido anualmente desde 2018;
- a visão de futuro da atual administração, que se caracteriza por antecipar movimentos do mercado e aproveitá-los a seu favor; e
- as enormes possibilidades que se
abrem na Índia, principalmente, mas também no restante da Ásia e na África.
Portanto, com base nessas e nas demais considerações, esta Consultoria acredita que a produção de 15.000 armas/dia por volta de 2025 possa se tornar real e necessária, sendo viabilizada pela já planejada ampliação/modernização dos parques fabris da Taurus no Brasil, nos EUA e na
Índia, concretizando assim um crescimento da demanda por seus produtos e mantendo o alto índice de lucratividade que a tem caracterizado.