*Jornal do Comércio, por Bianca Alves - 22/03/2022
O governo de Minas reconheceu, no último dia 15, o Arranjo Produtivo Local (APL) de Asas Rotativas e Defesa de Itajubá, no Sul de Minas. O APL tem como objetivo fortalecer a cooperação e alavancar os negócios das 44 empresas dos dois segmentos no município, que faturam mais de R$ 1 bilhão ao ano e geram cerca de 5 mil empregos.
Entre elas, estão as empresas âncoras Helibras Airbus (helicópteros) e Imbel (armamentos), Aerotron e a XMobots, esta última em instalação no município.
O diagnóstico realizado pela prefeitura e pela Associação Itajubense de Inovação e Empreendedorismo de Itajubá (Inovai) mostra que Itajubá responde por 70,9% da fabricação de aeronaves e 75,9% da produção de armas de fogo e munições de todo o Estado. “O APL é então uma iniciativa importante não só para a região, como para o Estado de Minas Gerais. O reconhecimento é uma vantagem competitiva para a região e um passo importantíssimo para o programa de desenvolvimento de Itajubá, que impacta o do Estado”, observa o secretário municipal de Ciências, Tecnologia, Indústria e Comércio, José Fernando Grassi Bissacot.
A ideia de se criar o APL surgiu a partir da identificação de um aglomerado de empresas com a mesma especialização produtiva, no caso as empresas das áreas de asas rotativas e defesa. Um estudo técnico foi realizado pela prefeitura e a Inovai, com o apoio do Sebrae Minas, e apresentado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento em dezembro de 2021.
Após o Estado aferir as condições apresentadas, Itajubá recebeu oficialmente o reconhecimento e a chancela do governo mineiro como um APL neste setor produtivo. “Agora, a Invest Minas, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Fiemg, que são as portas de entrada para investimentos no Estado, automaticamente direcionarão as empresas do setor para cá. Quando alguma delas se interessa, eles não só nos comunicam, como acompanham o processo”, explica Bissacot.
Inovação
Ele salienta que este é um setor de alto nível de inovação tecnológica. “São empresas que congregam todo o processo, desde o projeto até o pós-venda, nessas áreas de asas rotativas e Defesa. A Aerotron, por exemplo, foi eleita a melhor fornecedora de defesa para a Embraer em 2021”, completa o secretário.
Entre as empresas que compõem o APL estão a Helibras, líder mundial nos segmentos aeroespacial e de serviços relacionadas à Defesa; a Imbel, estatal brasileira fabricante de armamentos portáteis; a Xmobots, maior empresa brasileira e latino-americana especializada no desenvolvimento e fabricação de drones para agricultura de precisão; e a Aerotron, que fabrica coronhas para as armas da Inbel e faz a blindagem de aeronaves.
Segundo Bissacot, a Xmobots, que está se instalando no município, foi atraída por este ambiente de sinergia entre empresas de porte, instituições científicas de ponta e mão de obra qualificada, que compõem um ambiente especializado, que foi formalizado e reconhecido como APL.
Universidades são parceiras do projeto
Além das empresas, o Arranjo Produtivo Local (APL) de Asas Rotativas e Defesa de Itajubá conta com duas instituições de ciência e tecnologia parceiras, a Universidade Federal de Itajubá ((Unifei) e Universidade de Toulouse, mais de 100 produtos e serviços de alto valor agregado e uso intenso de tecnologia e 12 novos produtos em pesquisa e desenvolvimento para 2022.
A Unifei, por exemplo, oferece o curso de engenharia mecânica a Aeronáutica e possui laboratórios de aerodinâmica(LAD), estruturas aeronáuticas (LEA), manutenção a Aeronáutica (LaMan), processamento de compósitos I & II (LPC), simuladores de voo (LSV) e de sistemas aeronáuticos (LSA).
“O APL nos coloca como ambiente preparado para ações futuras. O que somos, o que temos e, agora, onde queremos chegar. O primeiro passo foi dar visibilidade, posicionar o arranjo e seus atrativos; agora temos que continuar trabalhando”, define o diretor executivo da Inovai, Maurício de Pinho Bitencourt. A Inovai é uma empresa privada de interesse público, criada pela Unifei, prefeitura e outras entidades locais para gerir de forma colaborativa as ações, projetos e atividades de inovação e empreendedorismo na cidade.
Sua principal função é a governança de todas as instâncias envolvidas nos programas de desenvolvimento. Ela é responsável, por exemplo, pelo Parque Científico e Tecnológico de Itajubá (PCTI), complexo planejado para empresas de base tecnológica e onde está se instalando a Xmobots.
Para Bitencourt, o reconhecimento do APL, “com certeza”, é um atrativo para a instalação de novas empresas na região. Ele informa que, além de abrigar as fábricas da Airbus e da Inbel e a escola de engenharia aeronáutica da Unifei, Itajubá está a 200 quilômetros de São José dos Campos, que é o maior polo aeronáutico do Brasil.
“São atrativos para que investimentos possam ser canalizados para cá. Empresas de outros estados querem se filiar ao APL e até mesmo uma empresa que faz parte de um cluster de defesa na Itália já quer um intercâmbio com a gente. É uma cadeia longa, que inclui fabricação de peças, sistemas eletrônicos, software, inteligência ligada a sistemas embarcados, enfim, uma cadeia sofisticada e complexa”, diz Bitencourt.
“Nestes setores de alta complexidade tecnológica, o principal insumo é a mão de obra qualificada em alto nível. Oferecer espaço físico e estrutura não é suficiente, se não tem gente competente. O segundo é exatamente a governança, através da qual você tem soluções dentro do próprio arranjo, seja uma peça especial ou uma ação institucional. Perenidade, segurança governamental, políticas públicas direcionadas e colaborativas viabilizam esse ambiente que torna o APL cada vez mais atraente”, aponta o diretor da Inovai.
Diagnóstico
Com base no diagnóstico realizado no ano de 2021, o setor de asas rotativas ocupa mais de 2.000 pessoas, variando de um a 490 colaboradores em cada empresa. No setor de defesa, são 3.500 pessoas em portes que vão de um colaborador na área de pesquisa, desenvolvimento e serviços de engenharia, até mais de 600 na empresa-âncora.
O maior representante no setor de asas rotativas é a Helibras, a mais antiga fabricante brasileira de helicópteros, subsidiária da Airbus, líder mundial nos segmentos aeroespacial e de serviços relacionados à defesa. Em seus 42 anos de atividades, a Helibras já entregou cerca de 800 helicópteros no país. É líder do mercado brasileiro, com participação de 50% na frota de helicópteros à turbina. A empresa também customiza modelos que atendem os segmentos civil e militar e, em 2020, registrou faturamento total de R$ 927 milhões,
O maior representante no setor de defesa do APL é a Imbel, que tem diferentes unidades no Brasil, sendo localizada em Itajubá a unidade de produção de armamento, a Imbel F.I, cuja receita anual em 2020 foi de R$ 53 milhões, a de maior valor em todo o grupo.
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