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18 janeiro, 2022

Embaixador do Brasil nos EUA busca abordar estados após tensão com Congresso

Embaixador do Brasil nos EUA busca abordar estados após tensão com Congresso – 18/01/2022 – Mundo


*News.TVs-24 - 18/01/2022

O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, tem apostado na aproximação com governos e entidades estatais dos Estados Unidos, em uma estratégia para melhorar o diálogo e desviar a pressão que o Brasil vem sofrendo no Congresso americano. Vários parlamentares criticaram fortemente o presidente Jair Bolsonaro (PL) e pediram um esfriamento na relação entre os dois países.

Nos últimos meses de 2021, Forster fez pelo menos quatro viagens. O diplomata alternou viagens a estados governados por democratas (como Connecticut e Carolina do Norte) com áreas sob domínio republicano (como Carolina do Sul e Geórgia), mas é nestes últimos que tem obtido mais resultados.

Na Carolina do Sul, por exemplo, o embaixador assinou um memorando de entendimento para ampliar o intercâmbio comercial e de investimentos entre o estado e o Brasil No final de outubro – em 2020, as negociações entre os dois movimentaram US$ 910 milhões. Foi o primeiro mandato desse tipo já fechado com uma entidade subnacional dos EUA. “Continuaremos a trabalhar juntos em comércio e investimento e fortaleceremos nossa parceria”, disse o governador republicano Henry McMaster ao assinar o documento.

Crítico do presidente Joe Biden, McMaster vem lutando contra os mandatos obrigatórios de vacinação impostos pela Casa Branca para controlar a pandemia de coronavírus. A Carolina do Sul foi um dos estados que processou o governo federal e conseguiu barrar a demanda na Justiça.

“Estamos chocados com os excessos do governo Biden. Eu nunca vi um presidente agir além da lei assim. Nenhum residente da Carolina do Sul deveria ter que escolher entre seu trabalho e uma vacina contra a Covid-19”, disse o governador em novembro. . Ele também assinou uma portaria para proibir as agências estaduais de exigir que os funcionários vacinem.

O republicano ainda se mantém como defensor das agendas conservadoras. Ele pediu publicamente ao superintendente de educação do estado para investigar alegações de “trechos obscenos” em bibliotecas de escolas públicas; como exemplo, ele citou reclamações de pais sobre o livro “Gender Queer: A Memoir”, de Maia Kobabe, uma história em quadrinhos sobre transição de gênero. Ele também defende que a Suprema Corte revogue o direito ao aborto.

Na vizinha Geórgia, cujo governo também processou a Casa Branca para suspender os requisitos de vacinas, Forster se reuniu com representantes dos departamentos estaduais de Agricultura e Desenvolvimento no início de novembro.

Pat Wilson, comissário do Departamento de Desenvolvimento Econômico, disse à Folha ter sido homenageado pela visita do embaixador. Segundo ele, a relação do estado com o Brasil é antiga, pois a Geórgia tem um escritório em São Paulo há 25 anos. “Um grande número de empresas brasileiras emprega milhares de georgianos. A Taurus [fabricante de armas], a Guidoni [de recebimento de rochas ornamentais] e a Embraer [aviação] se tornaram uma parte importante da nossa comunidade”, disse.

Em estados sob comando democrata, como Carolina do Norte e Connecticut, a agenda do embaixador concentrou-se em visitas a fábricas – como a da Gerdau –, universidades e centros de pesquisa locais. “Assim como o Brasil, os EUA são um país complexo, com grande diversidade regional, e é importante que a embaixada busque ampliar sua presença junto às comunidades locais”, disse Forster.

As visitas fazem parte de um plano para ampliar o diálogo do Brasil com estados americanos e buscar mais parceiros fora de Washington. A determinação foi incentivada por Bolsonaro, que antes da pandemia também fazia visitas aos EUA em cidades distantes da capital.

O presidente esteve na Flórida em 2020 e um ano antes foi ao Texas – nesta última viagem, para receber um prêmio que seria entregue inicialmente em Nova York, mas teve a cerimônia alterada após pressão pública do prefeito democrata Bill de Blasio para que Bolsonaro não fosse à cidade. Os movimentos também buscaram reforçar o alinhamento com o ex-presidente Donald Trump; o brasileiro fez campanha abertamente pela reeleição do republicano, que acabou derrotado por Biden em novembro de 2020.

Para Fernanda Magnotta, pesquisadora do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), essa atuação de Forster pode fazer parte de um novo cenário global, em que as lideranças locais ampliam sua presença internacional, e também uma resposta às ações recentes dos governadores brasileiros. “Eles assumiram a liderança na importação de vacinas e buscaram ter protagonismo em pautas como a ambiental. Em Glasgow [na COP26], estava a delegação brasileira e representantes dos estados, muitas vezes dissonantes”, avalia.

Funcionários da embaixada também esperam que as viagens de estado ajudem a fortalecer as relações com os legisladores americanos no Congresso. Forster teve reuniões recentes com o senador republicano Lindsey Graham da Carolina do Sul e com o deputado democrata Bill Keatind, de Massachusetts.

O governo brasileiro tem sido alvo de fortes críticas no Congresso americano. Desde setembro, democratas do Capitólio enviaram pelo menos três cartas ao governo Biden, pedindo um distanciamento na relação entre os dois países. Na mais recente, no início de dezembro, oito senadores democratas pediram um “reset” diplomático e acusaram Bolsonaro de ser o responsável pelo aumento do desmatamento no Brasil e por ameaçar a democracia no país.

Como mostrou a Folha, os textos estão inseridos em um contexto de pressão feita por ativistas e grupos progressistas do partido do presidente americano.

O embaixador respondeu às críticas ao governo brasileiro, também com cartas, nas quais defendeu as ações de Bolsonaro e chegou a dizer que os parlamentares americanos estavam mal informados.

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