*LRCA Defense Consulting - 12/12/2021
Durante a apresentação na APIMEC no dia 09 último, a Taurus Armas S.A. anunciou mais um passo audacioso: entrar no mercado de armas longas dos Estados Unidos.
No maior mercado do mundo para armas leves (pistolas, revólveres e fuzis), as armas longas (fuzis, carabinas e rifles) representam cerca de 40% do total, tornando-se um atrativo para qualquer grande empresa mundial do setor.
Até o ano de 2020, a Taurus não manifestava a intenção de entrar nesse mercado, haja vista que produzia apenas um modelo de fuzil (T4, apresentado no SHOT Show de 2017) e este ainda não estava consolidado internacionalmente. Além disso, todas as grandes empresas americanas do setor, além de centenas de outras pequenas, fabricam uma versão do AR-15/M4.
Com o reconhecimento internacional de seus fuzis obtido nos últimos dois anos, com o desenvolvimento de várias versões do T4 (em tamanhos de cano e calibres), do recente T10 no calibre 7,62 x 51mm e de um rifle de ferrolho (bolt action), a empresa redefiniu sua estratégia e, pelo visto, partirá para o ataque nos EUA.
Segundo CEO Global, Salesio Nuhs, a empresa pretende concretizar esse novo e importante passo tendo, como carros-chefes iniciais, o novo rifle de ferrolho e as carabinas lever action (ação por alavanca), sendo que estas já têm uma fatia de mercado de cerca de 4% nos EUA com as carabinas Puma.
No entanto, esta Consultoria acredita que o alto conceito internacional conquistado pelo fuzil T4 poderá levar a empresa a comercializá-lo também em terras do Tio Sam, pois essa arma já deixou de ser apenas mais um modelo de AR-15/M4 para se tornar um fuzil testado e aprovado por forças militares e policiais de vários países, como o exigente Exército das Filipinas, por exemplo.
Um outro diferencial dos fuzis Taurus em relação à maioria dos modelos AR-15/M4 fabricados nos EUA é o protocolo militar de fabricação, como pode ser constatado no item abaixo.
Por fim, as altas margens da empresa, devidas a um custo de produção significativamente menor, permitem que possa ser bastante agressiva, tanto em licitações para o mercado de Law Enforcement (órgãos de segurança americanos) onde ainda não está presente, como para a venda de grandes lotes ao mercado civil.
Protocolos de fabricação civil e militar: principais diferenças
Em virtude do uso completamente diferenciado, há significativas diferenças entre os protocolos de fabricação civil e militar.
No militar, a arma deve ser mais robusta, ou seja, deve suportar um número muito maior de tiros e, também, os estresses causados por um uso nas piores condições possíveis, devidas à poeira, lama, areia, água, temperatura, quedas, etc.
Com relação à resistência do cano, por exemplo, enquanto no protocolo civil a arma é estressada com 10 mil tiros durante seu desenvolvimento, no militar esse estresse é elevado aos 60 mil tiros.
Para se ter uma ideia, o cano de um fuzil Taurus T4, por exemplo, é fabricado para resistir até 12 mil
tiros, enquanto o cano de um fuzil AR-15 americano de plataforma
semelhante (M4), mas fabricado para uso civil (como a imensa maioria nos EUA),
só resiste a cerca de 2/3 mil tiros.
Na Taurus, a submetralhadora SMG, o rifle de ferrolho, as pistolas da linha TSeries e a GX4, bem como todos os fuzis, foram e estão sendo desenvolvidos no protocolo militar.
Rifle de ferrolho
Armas
com ação de ferrolho são muito populares nas atividades civis de caça e
tiro ao alvo, bem como para o uso por atiradores de elite militares (sniper),
pois oferecem um excelente equilíbrio entre força, robustez,
confiabilidade e precisão. Via de regra, são mais leves e têm um custo
menor do que as armas de fogo semiautomáticas. Outra vantagem é poderem
ser desmontadas e remontadas muito mais rápido, devido ao menor número
de peças móveis.
Para ocupar um nicho no qual atualmente não está presente, a Taurus está desenvolvendo um rifle de ferrolho que estará disponível em três calibres, mediante o uso de canos rosqueados intercambiáveis: .308 Winchester, .243 Winchester e 6,5 Creedmoor. A coronha será intercambiável com o rifle Remington, proporcionando maior flexibilidade ao usuário.
No mundo civil, a nova arma terá seu uso primordial na caça de javalis e de outros animais de médio e grande
porte. Já nos mercados militar e de segurança, é bastante provável que também vá disputar o segmento mundial de rifles do tipo sniper, haja vista o grande esmero que a Taurus está tendo com o seu desenvolvimento, especialmente no que se refere à precisão.
Sua previsão de lançamento é para 2022.
Protótipo do rifle de ferrolho Taurus |
Fuzil T4 no calibre .300 AAC Blackout
O
fuzil T4 no calibre .300 AAC Blackout é uma das grandes novidades que a
Taurus traz aos mercados nacional e internacional neste segundo
semestre.
Novos T-4 no calibre .300 Blackout com acabamento em Cerakote |
O calibre .300, também conhecido como 7.62 x 35mm, é um cartucho intermediário desenvolvido nos Estados Unidos pela Advanced Armament Corporation (AAC) para uso na carabina M4. Seu objetivo é atingir balística semelhante ao cartucho de 7.62 x 39mm, ou ainda mais similarmente ao cartucho 7,92 x 33mm Kurz em um AR-15.
O
Blackout foi feito para resolver alguns dos problemas da munição OTAN. O
principal deles é que o calibre 5,56mm é muito barulhento para a
quantidade de energia que carrega.
O .300 tem o tamanho de um
5,56mm e, praticamente, a energia de um 7,62mm, o que traz enorme
vantagem em termos de peso e de volume de transporte. Ele funciona com
todos os
carregadores, ferrolhos e conjuntos de ferrolhos dos AR-15 atuais, e
supera o
5.56mm em distâncias curtas e uso em cano curto, ao mesmo tempo em que é
muito mais silencioso.
Por esses motivos táticos e técnicos, é o calibre favorito de forças especiais europeias, devido a seus benefícios em situações operacionais, sendo padrão nessas unidades do Reino Unido, Holanda e Alemanha, além dos EUA.
Sendo
assim, a Taurus acredita que os fuzis T4 em calibre .300 AAC Blackout
possam vir a ser a opção mais acertada para as forças de segurança
(polícias, escolta, etc.), haja vista que estas têm o uso primordial do
fuzil em engajamentos à curta distância nos meios urbanos e rurais. Além
disso, são mais práticos e mais leves para o transporte em viaturas,
por exemplo.
Para as forças
militares, além das unidades de operações especiais, o T4 em calibre
.300 é ideal para uso no combate aproximado (CQB - close quarters battle)
pelas tropas de Infantaria, como no caso das unidades de fronteira da
Índia, por exemplo. Em suas versões de cano mais curto, pode ser
utilizado também por aviadores e marinheiros militares, dado aos
pequenos tamanho e peso, como arma de defesa pessoal ou de grupos
menores, além da tradicional pistola.
No entanto, o .300 Blackout não é reservado apenas para
uso em combate. Os caçadores também utilizam essa munição com grande
efeito, embora não para tiros de longo alcance. Em situações de curta
distância, ela pode substituir uma espingarda, devido ao forte
impacto que tem.
Fuzil T4 no calibre 7,62 x 39mm
Visando
o mercado da Índia, de países do Leste Europeu (antigo Pacto de
Varsóvia) e outros situados na Ásia, Oriente Médio e África, bem como o de um grande grupo de aficionados nos Estados Unidos, que utilizam
o calibre 7,62 x 39mm, a Taurus está desenvolvendo um fuzil T4 nesse
calibre.
Será produzido com protocolo militar e com cano nos cumprimentos de 20, 16 e 11,5 polegadas, podendo assim, de acordo com o tamanho, ser empregado como fuzil de assalto (16 e 20 polegadas) ou como carabina CQB (11,5 polegadas).
Dentro do projeto de modernização de suas Forças Armadas, a Índia
passará a contar com dois calibres padrão de fuzis de assalto: 7,62 x 51mm
(NATO) e 7,62 x 39mm (URSS). O primeiro é usado pelo fuzil americano SIG Sauer 716 G2
Patrol com cano de 16 polegadas, do qual já foram compradas 144.000
unidades, em caráter emergencial, para ser usadas pelas tropas indianas
nas operações de contraterrorismo e nas operações da linha de frente
fronteiriça, chamada de Linha de Controle (Line of Control, LoC). O
restante das forças armadas indianas será suprido, em princípio, com os fuzis
Kalashnikov AK-203 (versão mais moderna do AK-47), no calibre 7,62 x
39mm, os quais têm previsão de ser produzidos em conjunto (joint venture) pela Índia e pela Rússia na fábrica de munições Amethi.
Nesse
cenário, é razoável supor que, além dos 350.000/500.000 fuzis CQB (T4,
no
calibre 5,56 x 45mm) que a Taurus pretende vender à Índia por meio da JV com
Jindal
Defense, a empresa brasileira também esteja mirando o imenso mercado indiano de
fuzis de assalto nos dois calibres, especialmente por saber que o SIG é
importado (e essa não é mais a ideia desse país) e que a JV Jindal Taurus
começará a produzir já em janeiro de 2022.
Fuzil T4 com cano de 7,5 polegadas |
Fuzil T4 com guarda-mão M-LOK
Em
termos de armas de fogo, o guarda-mão é uma peça especificamente concebida para
permitir ao usuário segurar a parte dianteira da arma. Ele fornece uma
superfície isolada termicamente para que a mão do utilizador não corra o risco de ser queimada pela temperatura do cano,
que pode ficar muito quente durante uma série maior de disparos.
Além de proporcionar também uma empunhadura mais firme e facilitar a precisão do tiro, o guarda-mão
pode servir ainda como uma plataforma anexa para armas secundárias
(como um lançador de granadas), bem como para acessórios como bipés, luzes
táticas, miras a laser, dispositivos de visão noturna e uma variedade de outros.
Fuzil T10
Com foco na Índia e em muitos outros países que também utilizam os calibres padrão OTAN para seus fuzis de assalto, a empresa está desenvolvendo o Taurus T10, um fuzil no calibre 7,62 x 51mm baseado na consagrada plataforma AR-10, o que lhe permite se beneficiar de um eventual intercâmbio de peças e acessórios com outros modelos desenvolvidos na mesma plataforma.
Fabricado com reforçado protocolo militar, o T10 é um típico fuzil de assalto com cano de 20 polegadas, que também poderá ser fabricado com um de 16 polegadas. Esta arma está sendo planejada para disputar os mercados militar e de segurança com outros fuzis similares existentes no mundo.
No caso da Índia, poderá disputar o mercado de fuzis de assalto no calibre 7,62 x 51mm, pois ainda não há nenhuma joint venture estabelecida dentro do Programa Make in Índia que esteja em condições de fabricar um fuzil com esse calibre.
O T10 tem previsão de lançamento para 2022.
Fuzil Taurus T10 |
Carabina Puma
Carabina Puma: edição especial comemorativa 95 anos da CBC |
Ampliação da unidade de armas longas
Ainda na apresentação na APIMEC, os executivos da Taurus, ao detalharem a grande e revolucionária ampliação que será feita na empresa, deixaram claro que o setor de produção será subdivido em três: fábrica de revólveres, fábrica de pistolas e fábrica de armas longas, sendo que esta última merecerá uma ampliação própria, haja vista a nova estratégia nos EUA e, também, à possibilidade de vir a fornecer fuzis para o imenso mercado indiano.
Incremento de 50% na produção de armas até 2025 poderá ser superado
De forma bastante conservadora, ou seja, considerando apenas a ampliação/modernização do seu parque fabril, o crescimento histórico no mercado americano de armas leves nos últimos 20 anos e a conquista constante de um maior market share (como tem ocorrido anualmente desde 2018), a empresa estima estar produzindo cerca de 15.000 armas/dia em 2025, tornando-se a maior fabricante de armas leves do mundo.
No entanto, em tal estimativa não estão incluídas as demandas consequentes da recente estratégia focada no novo nicho de mercado (armas longas) nos EUA e, tampouco, as dos mercados civil, militar e de segurança indiano. Caso ambas tenham o sucesso esperado, tal previsão poderá ser facilmente excedida.
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