*Investing.com, por Ana Carolina Siedschlag - 19/05/2021
O ano de 2020 foi de turbulência dobrada para a Embraer (SA:EMBR3): além da pandemia de Covid-19, que enxugou a demanda por aeronaves ao redor do mundo à medida que a circulação de pessoas foi restrita, a fabricante brasileira encerrou oficialmente as tratativas para a fusão com a Boeing (NYSE:BA) (SA:BOEI34), acordada desde 2018.
O anúncio, em abril do ano passado, foi o desfecho de anos de negociações entre ambas as companhias e desencadeou uma briga judicial milionária, após a Embraer alegar que a Boeing teria fabricado “falsas alegações como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação”.
O negócio, então avaliado em US$ 5,26 bilhões, previa a criação de uma empresa que ficaria sob o comando da Boeing, com uma fatia de 80%. A Embraer ficaria com os 20% restantes, e poderia vender a sua parte para a americana. O cancelamento do negócio foi atribuído por analistas, em parte à crise com o Boeing 737 Max, que afetou a imagem e os cofres da companhia após dois graves acidentes em 2019, e à pandemia.
Junto com o desembolso para encerrar o negócio, a Embraer ainda enfrentou um mercado em queda livre, em que as companhias aéreas ao redor do mundo precisaram cancelar pedidos, parar planos de expansão e até fechar as portas por não aguentarem a interrupção na demanda por viagens aéreas.
A fabricante brasileira sentiu o impacto com força e apresentou ainda no primeiro trimestre deste ano prejuízo líquido de R$ 489,8 milhões, uma melhora em relação à perda de R$ 1,276 bilhão vista um ano antes. No entanto, a dívida líquida no fim de março totalizava R$ 10,87 bilhões, ante R$ 6,929 bilhões um ano antes e R$ 8,811 bilhões em dezembro.
Segundo analistas consultados pelo Investing.com, a grande questão agora é se, e quando, a Embraer conseguirá dar a volta por cima dessas duas crises que a atingiram simultaneamente e se é o momento certo para o investidor apostar numa possível retomada.
Bear Case: a tese de baixa e riscos
Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, não vê muitos motivos para investir na Embraer no momento, já que a empresa ainda tem muitos desafios a enfrentar após o colapso do negócio com a Boeing.
“Com essa história, acabou perdendo espaço no seu principal nicho para a Airbus (PA:AIR), que comprou um pedaço da Bombardier, a principal concorrente dela”, diz.
Em fevereiro de 2020, a Bombardier vendeu a participação no programa A220 à Airbus por US$ 591 milhões, após quase entrar em falência por conta dos custos crescentes com o desenvolvimento da fabricação do jato.
Enquanto isso, um ano antes, a fabricante francesa já havia se tornado a maior do mundo em número de aeronaves entregues, e segue agora desenvolvendo a produção de aviões regionais que competem diretamente com os da brasileira.
Em resposta, a Embraer passou, na época, a investir no modelo E195-E2, com capacidade para 120 a 146 passageiros. Em abril deste ano, a companhia assinou um pedido firme de trinta jatos com um cliente não divulgado, que serão entregues no início de 2022.
Para os analistas do Goldman Sachs (NYSE:GS), em relatório divulgado após o balanço de resultados, esse foi o “único pedido de tamanho relevante” para a empresa desde o início da pandemia.
Eles apontaram que os resultados da companhia seguem “mistos”, com alguns pontos não-recorrentes que devem ser observados nos próximos trimestres. Com isso, mantiveram a recomendação Neutra, com preço-alvo de US$ 11,73 para o ADR da companhia (NYSE:ERJ) negociados na bolsa de Nova York.
Bull Case: a tese de alta
A Ativa Investimentos também atribui o selo de Neutra para as ações ordinárias da empresa. Segundo Ilan Arbetman, analista de Equity Research da corretora, apesar de uma aceleração das entregas no primeiro trimestre, ainda há um hiato muito grande no backlog da companhia.
Para ele, a Embraer precisaria fechar mais contratos neste cenário pós-pandemia que começa a se desenhar, mas que ainda é muito debilitado.
“Há pontos que dão esperança, como o interesse por aeronaves de menor porte após a pandemia. O grande X é quando as empresas vão deixar de acessar os mercados secundários e comprar diretamente de empresas como a Embraer”, diz.
Ele explica que, por conta da crise desencadeada com a restrição de circulação de pessoas, muitas companhias aéreas acabaram se voltando para a compra de aeronaves usadas, o chamado mercado secundário, enquanto as perspectivas não ficavam mais claras.
Por isso, para o analista, o ano de 2021 é que tem potencial para ser o de reconstrução da companhia, com uma recuperação restrita a 2022.
“A capacidade de absorção de pedidos é menor que outrora. A recuperação pode vir mais para 2022, após a normalização”.
Já Henrique Esteter, analista da Guide, é mais otimista de que, após a consolidação da recuperação do mercado no pós-pandemia, pode haver uma demanda maior por aeronaves por conta das dificuldades do ano passado.
“Já dá para ver que o backlog teve uma demanda mais forte de companhias aéreas, principalmente nos EUA [onde a vacinação está mais avançada]. Com a retomada de mercados emergentes, naturalmente isso deve se converter em uma alta”.
Por isso, ele acredita que, mesmo que o mercado já tenha precificado parte disso agora, ainda há espaço para uma valorização “expressiva” das ações da Embraer no próximo ano.
Os papéis da fabricante de jatos em alta de 1,99% a R$ 16,42 nesta terça-feira. A ação acumulada de 1,14% nos últimos trinta dias e de 142,64% nas últimas 52 semanas.
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19 maio, 2021
Tese de investimento - Embraer: chegou a hora de voar?
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