*Terra - 01/03/2021
Em razão da pandemia da Covid-19, o mercado de aviação passa por uma instabilidade em que a demanda global de passageiros caiu aproximadamente 66,3%, a capacidade 57,6%, e os lucros das empresas aéreas foram reduzidos em U$118,5 bilhões de dólares, segundo a Associação Internacional do Transporte Aéreo - IATA. De acordo com entidade, 2020 registrou o pior ano financeiro do setor e um grande número de desemprego em massa nos principais fabricantes de aeronaves e companhias aéreas.
A Empresa Brasileira de Aeronáutica - EMBRAER, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, sofre uma grande pressão, no cenário atual, para que aumente o "backlog" (carteira de pedidos) e mantenha o quadro especializado de funcionários, declara Celso Valério Bastos Casagrande, engenheiro de sistemas aeroespaciais sênior, com foco em Sistema de Propulsão. "Essa dificuldade fez com que o Banco Nacional de Desenvolvimento - BNDES voltasse a oferecer apoio com linhas de financiamento para a exportação de aeronaves brasileiras da EMBRAER, num valor total de R$ 3 bilhões. Isto pode permitir que a empresa se mantenha competitiva, comparada com suas concorrentes internacionais", informa Casagrande.
No presente momento, o especialista acredita que há a necessidade de o Estado brasileiro apoiar de forma irrestrita, e com mecanismos de amparo, a indústria e o setor aeronáutico. "Fazendo isso, além de garantir suporte financeiro para a venda de novas aeronaves, também pode, em conjunto, ampliar o quadro de novas pesquisas tecnológicas que reflitam as tendências mundiais em crescimento, como as áreas de combustíveis alternativos e a mobilidade urbana", afirma Casagrande, pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios pelo INPG - Brasil, e em Tecnologia de Controle Digital pelo CEFET-PR - Brasil.
Conforme o engenheiro, com mais de 23 anos de experiência na indústria aeronáutica, mesmo em crise, existem perspectivas positivas no mercado regional e doméstico da aviação, como as companhias aéreas de mercados domésticos maiores ou de grandes operações de carga, que apresentam uma melhora no desempenho no setor. A IATA anunciou que a demanda de passageiros (medida em passageiros-quilômetros pagos transportados, ou RPKs) caiu 91,3% em maio de 2020 em relação a maio de 2019, resultado um pouco melhor que a queda anual de 94% registrada em abril de 2020. Essa melhoria se deve à retomada de alguns mercados domésticos.
"De acordo com o CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, hoje existe uma necessidade de adequar pedidos de aviões maiores para aeronaves de alcance mais ajustado, com menores rotas. Caso isso se confirme, posso dizer que a EMBRAER terá produtos a disposição para esse novo contexto. Imagine aviões da família E2, com nova motorização e performance melhorada quando comparados aos jatos regionais anteriores, como não seria? É imperativo a necessidade de abertura de novas linhas de crédito por parte do BNDES", relata Casagrande, com larga experiência em gestão de projetos e liderança técnica, participando de atividades de desenvolvimento em aviação e na indústria aeroespacial.
Um fator, também, importante para a Embraer, alerta o profissional, é em relação à manutenção do fluxo de caixa dos programas militares, o cargueiro KC-390 e o caça Gripen que representam uma manutenção de cadência produtiva e de mão de obra altamente qualificada. Segundo um estudo da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate - COPAC, divulgado pela Força Aérea, o projeto de aquisição dos caças Gripen, em conjunto com o desenvolvimento em estruturação e tecnologia, pode gerar cerca de 21 mil empregos na cadeia econômica do país.
"Apesar de parecer incoerente com o momento atual, visto que aparentemente existem outras prioridades em termos de gastos com orçamento e contingenciamento de verbas, é de suma importância essa manutenção dos programas militares. É de relevância estratégica, para qualquer país, a segurança da estrutura de empregos de suas fabricantes de aeronaves, assim como a ampliação da estrutura de fornecedores nacionais", diz Celso Casagrande, com certificação e entrada em serviço de diversos programas de aeronaves (Jatos Executivos Embraer EMB 545/500 e EMB 500/505, Aviões Regionais Embraer EMB 170/175 / 190/195 e Mitsubishi MRJ 90 e aviões militares EMB-314 Super Tucano e E-99 SIVAM).
Consoante o engenheiro, a tendência do setor aeronáutico no pós-pandemia, está voltada ao mercado de aviação doméstica e regional, com intuito de reduzir emissões de gás e ruídos, de melhorar a performance dos voos e do uso de aeronaves com propulsão alternativa. As propulsões elétrica, híbrida ou com uso de combustíveis alternativos voltarão a ser o foco cada vez mais valorizado. Casagrande também ressalta que os importantes "players" industriais (Boeing, Airbus, Rolls-Royce e GE) e os institutos de pesquisa de renome mundial, como a NASA, têm feito substanciais investimentos no desenvolvimento de projetos disruptivos de Propulsão, inclusive com a proposta de uso intenso de supercondutores e nova tecnologia de baterias.
"O cenário atual é desafiador. A pandemia afeta todas as empresas ligadas ao segmento aeronáutico, como: fornecedores, indústria e operadoras. Neste momento de crise, é fundamental o apoio do Estado à cadeia nacional de construção aeronáutica. Porque passado esta fase da pandemia, é mandatória a manutenção dos mecanismos de amparo à indústria e do apoio ao financiamento na venda de novas aeronaves. Além de ampliação de dispositivos de financiamento para pesquisas de novas tecnologias e tendências mundiais, de combustíveis alternativos e de mobilidade urbana. Isto garante a adequação aos futuros desafios em termos de normas ambientais, garantindo competitividade para a Indústria Aeronáutica local", finaliza o engenheiro de sistemas propulsivos Celso Valério Bastos Casagrande.
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02 março, 2021
Especialista relata a situação da Embraer na recuperação da desaceleração do setor aéreo no cenário de pós-pandemia
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