*LRCA Defense Consulting - 28/02/2021
Atualmente, mais de 80% do faturamento da multinacional Taurus Armas - com unidades fabris no Brasil, nos EUA e brevemente na Índia - vem das exportações
para mais de 100 países, sendo que os Estados Unidos concentram cerca de
70% de seus negócios. A empresa é a líder mundial na fabricação
de revólveres e uma das maiores produtoras de pistolas do mundo, além
de ser a marca mais importada no exigente
mercado norte americano e a quarta marca mais vendida nesse país.
Já a multinacional CBC, com fábricas em três países e próximo de estabelecê-las em mais dois, é uma das maiores fornecedoras
mundiais de munição para países da OTAN, sendo a líder mundial em
munições para armas portáteis. A confiabilidade de seus produtos é
atestada por 130 países, nos cinco continentes.
Por que a Taurus e a CBC estão focadas na Índia?
Em 2019, quando a Taurus Armas e a CBC, empresas do mesmo grupo, buscaram reduzir sua dependência do mercado americano - o maior do mundo para armamento leve e suas munições, fizeram uma escolha estratégica, mirando no país que, de acordo com relatórios do Fundo Monetário Internacional, tem uma perspectiva
de crescimento econômico superior a da China, devendo ultrapassá-la nos próximos 10 anos. Assim, a escolha recaiu sobre a Índia, país que é considerado também
uma das maiores potências militares do planeta, atrás apenas dos EUA,
Rússia e China.
- é considerada a quarta potência militar do planeta, atrás apenas dos EUA, Rússia e China;
- tem o 8º PIB do mundo, à frente de países como Itália, Coreia do Sul, Canadá e Rússia.
O jornalista econômico Ricardo Amorim - considerado o economista mais influente do Brasil de acordo com a Forbes, maior influenciador brasileiro no LinkedIn e ganhador do Prêmio iBest de Economia e Negócios - divulgou recentemente a análise abaixo, em seu canal "AAA Inovação" no YouTube, onde mostra "Porque a Índia e não a China irá dominar metade do Século XXI":
Com relação ao armamento leve, à exceção de algumas unidades especiais, a maior parte das forças regulares e a quase totalidade das forças de segurança ainda usa submetralhadoras, pistolas e fuzis antiquados produzidos pelas fábricas estatais. Recentemente, houve uma grande importação de fuzis de assalto americanos e foi firmada uma joint venture com a Rússia para a produção local do fuzil de assalto AK-203. A partir daí, diversas iniciativas semelhantes estão sendo costuradas com empresas de outros países, sempre com transferência de tecnologia.
O Ministério da Defesa indiano estabeleceu uma meta de US$ 26 bilhões, incluindo a exportação de US$ 7 bilhões para a indústria de defesa até 2025-26, por meio de sua Política de Produção de Defesa 2018.
Segundo o embaixador indiano, a parceria Índia/Brasil será "uma das definidoras deste século"
O Presidente Bolsonaro, juntamente com alguns de seus mais importantes ministros e com uma grande comitiva de empresários
brasileiros, realizou uma visita diplomática ao país
asiático para as comemorações do Dia da República da Índia, no mesmo período da assinatura da joint venture pela
Taurus, em janeiro de 2020. A tradição diplomática indiana permite que apenas um governante estrangeiro seja convidado, tendo cabido ao Presidente Bolsonaro a honra do convite para o evento de 2020. Por trás desse convite, há sólidos e fundamentais interesses da Índia que poderão influenciar as negociações da Taurus e da CBC nesse país, como será visto mais adiante.
A aproximação brasileira se deveu ao fato de a
Índia ter um forte apelo comercial e oferecer oportunidade para
impulsionar objetivos estratégicos do Brasil na relação bilateral, tais
como a ampliação e diversificação da pauta exportadora para o mercado
indiano, a atração de investimentos indianos e o melhor aproveitamento
das potencialidades da cooperação bilateral em defesa, entre outras
áreas.
O êxito da parceria entre Brasil e Índia, dois países com políticas e interesses
alinhados, deverá gerar excelentes frutos para o Setor de Defesa de
ambos, beneficiando empresas como CBC, Embraer, Taurus Armas e WEG,
todas com grandes interesses nesse país asiático.
A
presença do Presidente brasileiro no evento foi considerada uma rara
homenagem e sinal da estreita relação entre Índia e Brasil, haja vista
que, pelo protocolo usual, geralmente os presidentes e
primeiros-ministros, especialmente de grandes países, não comparecem aos
eventos do Dia Nacional organizados por embaixadas.
E não só o
Presidente esteve presente; alguns dos mais importantes ministros do seu
gabinete também compareceram: Relações Exteriores, Economia, Defesa,
Minas e Energia, Infraestrutura, Educação, Justiça, Turismo, além dos
comandantes das três Forças Armadas e de diversos Senadores e Deputados
Federais, o que fez desse, o evento o mais concorrido dos últimos tempos
em Brasília.
Para se ter a exata noção de quão positivas e promissoras são as perspectivas para os dois países, o embaixador da Índia no Brasil, Suresh K. Reddy, em postagem no Twitter, afirmou que "esta será uma das parcerias definidoras deste século".
Destacando o Make in India como uma oportunidade
extraordinária, o embaixador do Brasil na Índia, André Aranha Correa do
Lago, afirmou que "A defesa e a segurança são componentes centrais do Plano
de Ação de nossa parceria estratégica com a Índia. Nossos dois países
são complementares nesta área". Ele estava se dirigindo a 150
participantes, incluindo funcionários e representantes da Índia e do
Brasil, durante o webinar “Extensão Global da Indústria de Defesa
Indiana para Parcerias Colaborativas: Webinar e Expo”, realizado no final de 2020.
Este Plano
de Ação para a parceria estratégica Brasil-Índia foi assinado no início
de 2020, ao final das negociações entre o Primeiro Ministro Narendra
Modi e o Presidente Jair Bolsonaro. Os dois países têm uma relação multifacetada
que se baseia em valores e na convergência de pontos de vista sobre
muitas questões globais. Ambos os países estão cooperando bilateral e
multilateralmente em várias foras, incluindo Nações Unidas, BRICS, IBAS,
G20 e ISA.
Apoiado pelas missões do Brasil e da Índia, o webinar
foi organizado pela Sociedade dos Fabricantes de Defesa da Índia (SIDM)
e pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e
Segurança (ABIMDE).
No evento, o foco do posicionamento do embaixador indiano no Brasil,
Suresh K Reddy, esteve na abordagem “Hélice Tripla”, que é seguida pelo Brasil e dá ênfase à inovação, pesquisa e desenvolvimento para seu
exército, marinha e força aérea.
O embaixador Reddy também pediu
às indústrias indianas que olhassem para o mercado divisionário do
Brasil em busca de parcerias tecnológicas e joint ventures. O Dr. Roberto
Gallo, Presidente da ABIMDE, afirmou que “a colaboração entre indústrias
indianas e brasileiras têm potencial para alcançar o mundo”.
Em
seu discurso, Anurag Bajpai, secretário-adjunto do Departamento de
Produção de Defesa indiano, falou sobre o teto de investimentos estrangeiros diretos (IED) de seu país, que foi aumentado para
74% por via automática e até 100% por via governamental no setor de
defesa.
“É hora de desenvolver laços mutuamente benéficos no
setor de defesa e o escopo para colaboração neste setor deve ser
explorado”, disse Rajat Gupta, presidente do Comitê de Exportações
Internacionais do SIDM.
Fuzil Taurus T4 |
Licitação de fuzis CQB - para além de fatores técnicos e financeiros
Além da megalicitação emergencial de 93.895
fuzis/carabinas CQB divulgada no dia 10 de fevereiro, recentemente a Índia solicitou 10
unidades do Fuzil T4 para submetê-los a testes, haja vista que pretende
fazer, em data ainda não definida, uma megalicitação ainda maior, que
poderá variar entre 350.000 e 500.000 fuzis/carabinas CQB para suas
unidades de Infantaria, especialmente as que atuam nas regiões de
fronteira, onde há a possibilidade de serem travados combates
aproximados.
Como comprovou a
licitação para o Exército Filipino, vencida recentemente pelo Fuzil T4, a
Taurus tem nele uma arma moderna, de altíssima qualidade e com a melhor
relação custo/benefício do mercado, sendo perfeitamente adequada às
necessidades e exigências do Exército Indiano, haja vista que suas diversas versões permitem que seja empregado tanto como fuzil de assalto como fuzil/carabina CQB.
Para além dos quesitos técnicos e financeiros, que são fundamentais num
primeiro momento do certame, há também outros fatores importantes a
considerar, pois podem ser decisivos no desenrolar das negociações.
O primeiro deles é o pioneirismo da
Taurus e da CBC, sendo parceiras de primeira hora do Primeiro-ministro
indiano Narendra Modi em seu Programa Make in India, concretizado por meio das primeiras joint ventures (JV) firmadas dentro desse programa, com a Jindal Defence & Aerospace e com a SSS Defence, respectivamente.
Junto a este fato, está o de que Grupo CBC/Taurus passará a fabricar armas e munições na Índia, criando um ecossistema facilitador completo para o Exército Indiano e para as demais forças militares, paramilitares e de segurança do país.
A poderosa
parceria com o Jindal Group, maior fabricante de aço da Índia e um dos
dez maiores do mundo, também é um fator muito positivo, pois fornece a
segurança política e os respaldos financeiro e de infraestrutura necessários para as operações
da JV da Taurus nesse país.
Além desses fatores, poderão também
pesar no negócio:
- a afinidade ideológica e os interesses comerciais
mútuos entre o Primeiro-ministro Narendra Modi e o Presidente Jair
Bolsonaro;
- a futura necessidade do gigante asiático de dispor de grandes fontes de matérias primas para abastecer suas indústrias, e de produtos agropecuários para alimentar sua crescente população, itens onde o Brasil é farto;
- a ambição geopolítica da Índia de firmar sua
presença nas Américas, tendo o Brasil como centro irradiador.
Correndo
por fora, há ainda o fato (noticiado pela imprensa indiana) de o
governo desse país asiático ter grande interesse em firmar uma parceria
com a Embraer, visando sua divisão de jatos comerciais que havia sido
vendida à Boeing e teve o negócio desfeito por esta.
Como novidade mais recente e possível handcap,
o Fuzil T4 foi testado, aprovado e adquirido pelo Exército das
Filipinas, após provas consideradas das mais exigentes do mundo. Esta
aquisição totalizou 12.412 fuzis, sendo a primeira vez que o Exército
Filipino adquiriu fuzis de um país diferente dos Estados Unidos. Após a
entrega, será também a estreia do Fuzil T4 na dotação regular de um
exército.
Objetivo: tornar-se a maior empresa de armamento leve do mundo
Em síntese, a forte presença da Taurus Armas na Índia se insere na estratégia da empresa de avançar no mercado internacional,
principalmente em países com expressivo crescimento, ampliando assim a
diversificação geográfica de suas vendas, diminuindo sua dependência do mercado americano e passando a ter uma
posição de proeminência em mercados com grande potencial, onde seu
diferencial é oferecer soluções completas de alta tecnologia.
As profundas transformações efetuadas na empresa a partir de 2017, o ramp-up
da nova fábrica nos Estados Unidos, a ampliação e modernização da
unidade brasileira, o estabelecimento de uma fábrica em JV na Índia e a
agressiva conquista de alguns dos mais importantes e promissores
mercados internacionais são fatores que evidenciam o excepcional turnaround da Taurus Armas. Tais
fatores têm tudo para proporcionar um futuro bastante promissor
para a companhia e para seus acionistas, tornando cada vez mais possível
a concretização de seu objetivo de médio e longo prazo: tornar-se a maior e mais
poderosa empresa de armamento leve do mundo.
Saiba mais sobre a parceria Brasil & Índia:
- Comunicado Conjunto Brasil-Índia: Setor de Defesa é um dos focos
- Na viagem presidencial à Índia, Brasil espera grandes resultados
Nota do Editor: algumas informações constantes desta matéria foram escritas e vem sendo atualizadas desde que, em 06/07/2019, esta editoria postou sua primeira análise: "A nova Taurus Armas", quando a JV na Índia ainda era apenas uma possibilidade.
Na presente análise, as informações, além de revisadas e atualizadas, foram complementadas por outras absolutamente novas.
Não acredito Embraer venda sua divisão jatos comerciais para a Índia
ResponderExcluirGoverno indiano estuda aquisição da divisão de aeronaves comerciais da Embraer
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