*Leonardo RC Araujo, antigo aluno e historiador do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Um dos maiores mistérios no Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) é a origem do "Zum Zaravalho", saudação escolar ou "brado de guerra" dos Colégios Militares. Iniciado no CMRJ em época imprecisa, foi estendido a todos os demais Colégios na década de 90, sem que ninguém ainda tenha descoberto seu real significado.
A partir de 2004, com o surgimento das mídias sociais e, em particular do Orkut, passou a haver uma grande interação entre alunos e antigos alunos dos CM em todo o Brasil, com temas variados. Um deles, foi a origem do Zum Zaravalho.
Entre 2006 e 2008, foi criada uma estória a respeito que, rapidamente, foi difundida pelo Orkut e por e-mail. A estória de Henrique Zaravalho, um pretenso soldado gaúcho que, durante a Guerra do Paraguai, teria morto milhares de índios paraguaios de maneira bárbara.
Em síntese, para não cansar quem está lendo, recuperei a estória original ainda de uma postagem no Orkut em 2008, que está na foto abaixo. Ela não deixa dúvidas sobre a brincadeira que foi feita por alguém com muita criatividade.
Início da brincadeira em 2008, ainda no Orkut |
Por volta de 2015, um antigo aluno do CMRJ teria feito uma “bela” ilustração sobre o caso do "Soldado Henrique Zaravalho", que está sendo repassada e tomada como verdade, confundindo muitos alunos e antigos alunos que desconhecem a origem da estória.
Assim, é preciso deixar clara a sua origem: trata-se de um verdadeiro hoax (pulha, enganação, boato) de Internet! Não tem nada de real!
Ilustração fake sobre a origem do Zum Zaravalho |
O Cel Francisco José Mineiro Junior, antigo professor no CMCG e historiador, nos escreveu apresentando uma versão para a origem do mistério:
"Recebi um documento da DEPA no final do ano passado que explicava a seguinte origem para o grito de guerra:
'O grito de guerra foi criado a partir da proposta de um certo Tenente Japyr, que em 1928 era professor de Educação Física do CMRJ, e treinava as equipes desportivas. Por ocasião do treinamento da equipe de futebol para o campeonato colegial daquele ano, pediu aos alunos para criarem um grito de guerra. E saiu o “Zum Zaravalho”, sem métrica, sem rima e totalmente sem significado. São sílabas soltas, um símbolo criado apenas para animar a torcida. Com o tempo, o CMRJ adotou oficialmente o grito de guerra, que se espalhou pelo sistema. Hoje está firmemente incrustado nas tradições dos Colégios Militares'.
Acho bastante crível esta versão, e já vi referências ao grito em textos de ex-alunos da década de 1940.
Espero ter contribuído.
Zum zaravalho"
Apesar dessa versão, restam ainda sérias controvérsias, não só quanto ao significado, mas principalmente sobre a época de início do brado no CMRJ. Por exemplo, quando o General e historiador Nélson Werneck Sodré lá estudou (1924-1930), não havia esse brado. Comentando sobre o tema, relatou que a manifestação existente era o "zum", feito de boca fechada quando era proibido falar.
Portanto, por esse testemunho histórico, a tese sobre o Ten Japyr ter iniciado o brado em 1928 é posta em dúvida, a não ser que tenha ficado adormecido por alguns anos e, que alguém, posterior ao tempo do Gen Nélson Werneck Sodré, tenha o recuperado e disseminado no CMRJ nos anos seguintes.
A única coisa "concreta" que se sabe sobre o "Zum Zaravalho" é que um dos feitiços de Harry Potter tem esse nome, servindo para "levantar o moral e eliminar medo e cansaço".
Enfim, o mistério continua, mas o que não pode ser aceito e propagado como verdade é a versão fantasiosa que está circulando desde 2008, pois, além de ter nascido como uma brincadeira, foi reforçada em 2015 por outra de cunho depreciativo e ofensivo aos Colégios Militares, já que exaltaria um matador sanguinário.
Zum Zaravalho!
Não sei nada a respeito, mas ao ler a postagem, quando se refere ao feitiço de Harry Potter, que serviria para levantar o moral e eliminar o medo e o cansaço, tem tudo a ver com as aulas de Educação Física, especialmente com equipes. Se a autora de Harry Potter utilizou em seu livro, tal expressão pode ser antiga e ter sido captada pelo Professor naquela época. Talvez, por se tratar apwnas do brado de guerra da equipe de futebol, o General Nelson, à época, pode não ter tido contato.
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