Na Área de Defesa, empresas como CBC, Embraer, Taurus e WEG poderão ser fortemente beneficiadas
*LRCA Defense Consulting - 30/01/2021
No novo status quo mundial que está sendo estabelecido após a posse do presidente dos EUA e a ascensão decisiva da China como uma das maiores potências do planeta, a parceria entre Brasil e Índia, dois países com políticas e interesses alinhados, deverá gerar excelentes frutos para o Setor de Defesa de ambos, beneficiando empresas como CBC, Embraer, Taurus Armas e WEG, todas com grandes interesses nesse país asiático.
Segundo o embaixador da Índia no Brasil, em postagem recente no Twitter, essa parceria será "uma das definidoras deste século".
CNN destaca a parceria brasileira com a Índia
A presença do Presidente brasileiro no evento foi considerada uma rara homenagem e sinal da estreita relação entre Índia e Brasil, haja vista que, pelo protocolo usual, geralmente os presidentes e primeiros-ministros, especialmente de grandes países, não comparecem aos eventos do Dia Nacional organizados por embaixadas.
E não só o Presidente esteve presente; alguns dos mais importantes ministros do seu gabinete também compareceram: Relações Exteriores, Economia, Defesa, Minas e Energia, Infraestrutura, Educação, Justiça, Turismo, além dos comandantes das três Forças Armadas e de diversos Senadores e Deputados Federais, o que fez desse, o evento o mais concorrido dos últimos tempos em Brasília.
Entrevista do Cônsul Geral da Índia em São Paulo |
Taurus foi uma das convidadas especiais
Dois dos convidados especiais do Embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, foram Salesio Nuhs, CEO Global da Taurus Armas e Vice-presidente da CBC, e Sérgio Sgrillo Filho, Diretor Financeiro e de Relações com Investidores (também gerente do projeto da joint venture na Índia com a Jindal Defense) da empresa gaúcha.
Recentemente a Índia solicitou 10 unidades do Fuzil T4 para submetê-los a
testes, haja vista que pretende fazer uma megalicitação que poderá variar
entre 350.000 e 500.000 fuzis CQB (Close Quarters Battle - arma mais
curta que o fuzil de assalto, destinada ao combate aproximado) para suas
unidades de Infantaria, especialmente as que atuam nas regiões da
fronteira com o Paquistão.
O pioneirismo da Taurus e da CBC,
sendo parceiras de primeira hora do Primeiro-ministro indiano Narendra
Modi em seu Programa Make in India (concretizado por meio das joint
ventures já firmadas com a Jindal Defence e com a SSS Defence,
respectivamente), poderá pesar favoravelmente na balança das negociações
para a escolha do novo fuzil CQB indiano.
Além desse fator,
poderão também pesar no negócio a afinidade ideológica e os
interesses comerciais mútuos entre o PM Modi e o Presidente Jair
Bolsonaro, bem como a ambição geopolítica da Índia nas Américas, tendo o
Brasil como epicentro. Correndo por fora, há ainda o fato (noticiado
pela imprensa indiana) de o governo desse país asiático ter grande
interesse em firmar uma parceria com a Embraer, visando sua divisão de
jatos comerciais.
Há indícios de que essa megalicitação de fuzis CQB seja lançada já no início do segundo trimestre deste ano, o que daria um prazo bastante hábil para que os fuzis T4 da Taurus sejam testados pelo Exército indiano, já tendo agora o handcap de terem sido testados, aprovados e adquiridos pelo Exército das Filipinas, após testes considerados dos mais exigentes do mundo.
Salesio Nuhs e Sérgio Sgrillo Filho |
Antes de ser iniciado o jantar comemorativo ao 72º Dia da República da Índia, o CEO da Taurus foi agraciado com o Diploma Mérito Comunitário SINDEPOL (Sindicato dos Delegados de Policia Federal), que lhe foi entregue pelo Dep. Federal Alberto Fraga.
CEO da Taurus recebe o Diploma Mérito Comunitário SINDEPOL |
Cooperação Brasil-Índia na Área de Defesa
De acordo com relatório do Fundo Monetário Internacional, a perspectiva de crescimento econômico da Índia é de 7,1%, superior ao da China que é de 5,9%. O segundo país mais populoso do mundo (1,37 bilhão de pessoas), que deve ultrapassar a China nos próximos 10 anos, é considerado também uma das maiores potências militares do planeta, atrás apenas dos EUA, Rússia e China.
Com mais de 1,3 milhão de homens e mulheres a serviço da nação, a Índia possui a quarta maior força militar do mundo em termos de efetivo, segundo levantamento da Global Firepower. Na área de segurança pública, o número de agentes e policiais armados impressiona. A Índia possui 1,4 milhão de policiais e cerca de 7 milhões de agentes de segurança particulares.
O governo e empresários brasileiros, inclusive, realizaram uma visita diplomática ao país asiático, no mesmo período da assinatura da joint venture pela Taurus, em janeiro de 2020. A aproximação brasileira se deve ao fato da Índia ter um forte apelo comercial e oferecer oportunidade para impulsionar objetivos estratégicos do Brasil na relação bilateral, tais como a ampliação e diversificação da pauta exportadora para o mercado indiano, a atração de investimentos indianos e o melhor aproveitamento das potencialidades da cooperação bilateral em defesa, entre outras áreas.
As empresas de defesa brasileiras CBC e Taurus Armas foram pioneiras em estabelecer joint venture com empresas indianas dentro do Programa Make in India (Taurus Jindal e SSS Defence). Pela coragem de empreender com pioneirismo nesse país, é bastante plausível que as duas empresas venham a merecer uma atenção especial do governo indiano em seus respectivos negócios: munições e armas leves.
A Embraer, partícipe antiga em edições anteriores da Aero India, deverá se fazer presente novamente no evento deste ano, expondo seus E-Jet e, principalmente, suas mais badaladas aeronaves militares: o avião de treinamento e ataque ao solo A-29 Super Tucano e o avião de transporte multipropósito KC-390 Millennium. Vale lembrar que a Índia demonstrou interesse em adquirir a área comercial da Embraer ou, até mesmo, estabelecer uma parceria com a empresa nessa área, algo que poderá interessar à Embraer.
Sob o nome empresarial de WEG Industries Private Limited, a multinacional catarinense atua na Índia desde 2011 e está localizada em Bangalore, Karnataka. A empresa está em contínua expansão e participa ativamente do processo de modernização acelerada da infraestrutura do país, fabricando motores e geradores de tensão. Em outubro de 2020, a WEG anunciou que irá fornecer motores para dois megaprojetos de irrigação nesse país, que irão se constituir no maior empreendimento de irrigação do mundo.
Embaixador indiano: "cooperação em defesa é um dos principais pilares da parceria estratégica"
Durante uma entrevista ao site "O Petróleo", publicada em 09/11/2020, o Embaixador da Índia, Suresh K Reddy, assim se referiu à cooperação dos dois países no Setor de Defesa:
"A cooperação em defesa é um dos principais pilares de nossa parceria estratégica com o Brasil. Como ambos os lados possuem capacidades industriais de defesa robustas, identificamos a cooperação industrial de defesa como uma área de impulso para a cooperação. Uma grande delegação de representantes da indústria de defesa também visitou a Índia durante a visita de Estado do Presidente brasileiro à Índia.
A nova Política de Fabricação de Defesa anunciada pelo governo no início deste ano certamente trouxe essa área de cooperação para o foco. No passado recente, duas grandes empresas de defesa brasileiras firmaram joint ventures com empresas indianas; a primeira, CBC, é a maior fabricante de munições de pequeno e médio calibre do Brasil e agora possui uma Joint Venture com a SSS Defense (Stumpp Schuele & Somappa) da Índia, e esta Joint Venture produzirá munições na Índia. A outra é uma Joint Venture entre a Taurus Armas, maior fabricante de armas leves do Brasil, e a Jindal Steel. Esses dois projetos contribuirão significativamente para a iniciativa Make in India sob a nova Política de Fabricação de Defesa.
Também estamos trabalhando para finalizar um MoU sobre cooperação industrial de defesa que, eventualmente, também promoveria P&D conjunto. Paralelamente, a SIDM (Sociedade Indiana de Fabricantes de Defesa) e a ABIMDE (Associação Brasileira dos Fabricantes de Defesa e Segurança) também assinaram um MoU para cooperação industrial de defesa recentemente. O esforço é promover oportunidades para fabricantes de defesa nas respectivas regiões.
Nosso foco também está na participação em larga escala das indústrias de defesa de ambos os países nas exposições regionais de defesa, Aero India e LAAD (Aero Defense da América Latina), o que certamente proporcionará excelentes oportunidades aos respectivos stakeholders para levar a iniciativa adiante".
Destacando o Make in India como uma oportunidade extraordinária, o embaixador do Brasil na Índia, André Aranha Correa do Lago, afirmou que "A defesa e a segurança são componentes centrais do Plano de Ação de nossa parceria estratégica com a Índia. Nossos dois países são complementares nesta área".
Ele estava se dirigindo a 150 participantes, incluindo funcionários e representantes da Índia e do Brasil, durante o webinar “Extensão Global da Indústria de Defesa Indiana para Parcerias Colaborativas: Webinar e Expo”, ocorrido no final de 2020.
Este Plano de Ação para a parceria estratégica Brasil-Índia foi assinado no início de 2020, ao final das negociações entre o Primeiro Ministro Narendra Modi e o Presidente Jair Bolsonaro, que foi o Convidado Principal da Parada do Dia da República. Os dois países têm uma relação multifacetada que se baseia em valores e na convergência de pontos de vista sobre muitas questões globais. Ambos os países estão cooperando bilateral e multilateralmente em várias fóruns, incluindo Nações Unidas, BRICS, IBAS, G20 e ISA.
Apoiado pelas missões do Brasil e da Índia, o webinar foi organizado pela Sociedade dos Fabricantes de Defesa da Índia (SIDM) e pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE). O pronunciamento do embaixador indiano no Brasil, Suresh K Reddy, foi focado na abordagem “Hélice Tripla”, que é seguida pelo Brasil e que dá ênfase à inovação e P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) para seu Exército, Marinha e Força Aérea.
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