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11 dezembro, 2020

Salesio Nuhs: isenção do imposto não prejudica a Taurus


*LRCA Defense Consulting com Investing.com - 11/12/2020

A Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou o imposto na importação de revólveres e pistolas a partir de 2021, segundo resolução publicada na última quarta-feira (9). Até então, a alíquota sobre estes produtos era de 20%.

A notícia foi apressadamente comemorada por membros do governo e  por muitos brasileiros interessados em adquirir uma arma a preços razoáveis, especialmente aqueles que acreditavam que os produtos nacionais têm preços muito caros.

Ao mesmo tempo, na Bolsa de Valores, as ações da maior fabricante nacional de armas leves despencaram, pelo fato de muitos investidores, especialmente os mais inexperientes, terem julgado que a empresa seria fortemente impactada pela nova resolução.

Passada a euforia inicial, para uns, e a preocupação com seu investimento, para outros, a realidade voltou a se impor.

A redução a zero do imposto de importação não beneficiará 99% dos consumidores, pois estes importam pelo regime simplificado, que continuará mais barato que o formal (foco da isenção e mesmo com ela). Ou seja, só uma elite de alto poder aquisitivo que já tinha acesso a qualquer tipo de arma (1% dos consumidores) será beneficiada. 

Assim, pistolas das principais marcas estrangeiras, como Glock, Ruger ou S&W em tamanho full e no calibre 9mm, custam hoje (grosso modo) entre 13 e 15 mil reais no mercado brasileiro. Mesmo que se deduza os 20% (somente no caso de uma importação pelo regime formal), ainda custarão entre 10,4 e 12 mil. Enquanto isso, uma Taurus full 9mm custa entre R$ 4 e 5 mil, preço em que também deve chegar a G3 quando de seu lançamento no Brasil.

Com relação aos temores dos investidores de que a empresa Taurus Armas fosse impactada negativamente, ainda no mesmo dia 09, a Investing.com Brasil realizou uma oportuna e esclarecedora entrevista com Salesio Nuhs, Presidente e CEO Global da Taurus Armas, onde este deixou claro que isso não acontecerá, pois considera que o mercado brasileiro representa uma fatia relativamente pequena dos negócios da companhia e que as margens dos produtos exportados são maiores. Além disso, as fábricas da Taurus nos Estados Unidos e na Índia permitem que a companhia exporte armas para o Brasil.

Posteriormente, diversas matérias foram publicadas dando conta de que, tanto a medida do governo não tornará as armas importadas mais acessíveis para a maioria dos consumidores, como suas consequências não irão afetar as operações e o desempenho da Taurus, como pode ser visto abaixo:

- Armas: quem perde e quem ganha com a isenção do imposto de importação? Tiro no pé?

- Com 8 meses de pedidos em carteira e preços mais competitivos, Taurus também será beneficiada pela isenção do imposto de importação

- Novo complexo da Taurus no RS está mantido, mas outros R$ 400 milhões irão para EUA e Índia | GZH

- Distribuidores preveem armas importadas caras mesmo após queda de imposto - Folha 

- Armas imposto zero - a análise de um importador e CAC - YouTube

- Consumidor é maior prejudicado com imposto zero de armas, diz Taurus - VEJA 

Ontem, a fabricante brasileira de armas informou aos seus acionistas e ao mercado que após rigorosos testes de validação, iniciou a produção de carregadores de armas leves para o mercado nacional e internacional, por meio da joint venture no parque industrial da Joalmi, estimando que, entre resultados operacionais e redução de custo, o projeto poderá gerar mais de R$ 100 milhões nos próximos 5 anos.

Leia abaixo a entrevista da Investing.com Brasil com o CEO Global da Taurus, Salesio Nuhs.

Investing.com - Sobre a resolução da Camex: como isso impacta a Taurus?

Salesio Nuhs - O comunicado da Camex isenta de imposto de importação as armas que serão exportadas para o Brasil. Em um primeiro momento, é possível entender que isso prejudica a Taurus. Mas na verdade não, em hipótese alguma. Isso não prejudica a Taurus, mas prejudica o país enquanto geração de emprego, geração de riqueza, arrecadação de impostos. E prejudica os consumidores brasileiros, que vão ter que importar uma arma da Taurus dos Estados Unidos. Já é complicado adquirir uma arma comprada aqui no Brasil. Agora, vai ser preciso fazer um processo de importação para adquirir uma arma da Taurus, porque nós vamos ter que produzir nos Estados Unidos e na Índia para ter o mesmo benefício das empresas concorrentes. Essa resolução é um equívoco sem tamanho.

Tem também a questão da cadeia. O que eu penso é que o maior risco nessa operação toda é para quem vive desse segmento e que não é uma multinacional como a Taurus. E hoje 80% do movimento das lojas brasileiras é de venda de armas Taurus.

Inv.com - Isso não impactaria as vendas da Taurus, na sua visão?

SN - Não, pelo seguinte. Primeiro, porque o mercado brasileiro é menos de 15% do negócio da Taurus. As margens, quando nós vendemos para o Brasil hoje, são inferiores às margens de quando exportamos, porque a carga tributária no Brasil é muito alta. Agora os exportadores ainda têm mais a vantagem do imposto de importação. Segundo, nós temos fábricas nos Estados Unidos e na Índia. Para ter a mesma vantagem dos concorrentes, vamos exportar de lá para o Brasil: ou seja, não vamos perder margem e não vamos perder venda. O resultado da companhia não vai ser abalado. 

Inv.com - Mudando de assunto: como a pandemia impactou os negócios da Taurus? 

SN - Nós somos uma empresa estratégica de defesa, portanto uma atividade essencial. Então, a rigor, a Taurus não foi afetada pelos decretos. 

Porém, não adianta ser uma atividade essencial e não cuidar da saúde dos funcionários. A Taurus investiu mais de R$ 15 milhões. No dia 5 de março criamos um comitê especial para tratar da Covid aqui e adotamos todos os protocolos, até além dos necessários. Além disso, doamos 15 UTIs para São Leopoldo, a nossa cidade, e testes rápidos. Também fabricamos e doamos protetores faciais para as áreas de saúde e segurança pública no Brasil inteiro. Foi uma série de coisas que somou ao todo mais de R$ 15 milhões. 

Na questão do negócio em si, houve aumento de vendas com relação à pandemia nos Estados Unidos. No terceiro trimestre tivemos uma produção recorde de mais de 1,1 milhão de unidades.

Inv.com - Como vocês avaliam o resultado do terceiro trimestre?

SN - Nós tivemos uma produção e um volume de vendas recordes. Crescemos 28% nas vendas em relação ao igual período de 2019. A receita operacional líquida da companhia foi 21% superior, também recorde, e 66% maior do que a registrada nos 9 meses do ano anterior. O resultado bruto também foi recorde, com margem bruta de 46%. Tivemos Ebitda recorde de 31%.

Em outra ponta, nosso modelo de gestão é produzir sempre mais por menos. As nossas despesas líquidas foram 35% inferiores ao mesmo período do ano passado. Isso porque tivemos uma forte geração de caixa, então não precisamos financiar nossas contas a receber.

O nosso lucro líquido foi recorde, em R$ 112 milhões, o que deixa a companhia em uma situação bastante confortável no quesito dívida/lucro líquido. Nossas vendas são muito impactadas pelo dólar e a dívida é dolarizada. Por um lado isso por um lado nos dá um hedge natural, mas, por outro lado, quando o dólar aumenta a dívida aumenta e o lucro líquido fica ameaçado. Mesmo assim tivemos R$ 112 milhões de lucro. 

Por último, o que muda o perfil da companhia é a redução da alavancagem financeira. No fim de 2018, a dívida era 11,2x o Ebitda. Agora, no terceiro trimestre de 2020, essa relação é 3,1x. Nós temos também um terreno em Porto Alegre e uma fábrica de capacetes, dois ativos que estão disponíveis para venda. Nós não vendemos porque tivemos geração de caixa suficiente para quitar as dívidas. O mercado nessa pandemia caiu muito, e não vamos vender o ativo por menos do que achamos que ele vale. Não precisamos vender para fazer frente aos nossos compromissos com a dívida. Hoje, se vendermos os ativos, teríamos dívida/Ebitda de 1,9x. Ou seja, a companhia está resolvida sob todos os aspectos. Agora temos que pensar no futuro.

Inv.com - Nesses meses do quarto trimestre vocês já conseguiram sentir alguma tendência?

SN - Eu não posso antecipar resultados, mas eu posso te dizer uma realidade: temos pedidos que nos dão condição de alcançar um resultado 2,5 vezes maior do que o do último trimestre, considerando que temos mais de 1,2 milhão de armas vendidas para os mercados americano e brasileiro juntos. Eu costumo dizer que a Taurus vive um momento especial.

Inv.com - Quais são as principais avenidas de crescimento?

SN - A primeira é investimento. Anunciamos um condomínio de fornecedores no nosso parque industrial. Ou seja, todas as peças estratégicas para o nosso negócio serão produzidas dentro do nosso complexo industrial, sob a nossa supervisão de engenharia e de processos. 

Um segundo ponto são as duas joint ventures que criamos, que também foram estratégicas. Estamos montando uma fábrica na Índia sem nenhum investimento financeiro, só com investimento de tecnologia. Tudo aquilo que aportamos em tecnologia o parceiro tem que aportar em dinheiro para fazer a empresa funcionar. Essa joint venture vai começar a produzir no primeiro semestre do ano que vem. Tem também a joint venture de carregadores que, além de, daqui a cinco anos, agregar R$ 100 milhões na receita da companhia, acaba com a dependência. 

Anunciamos em novembro o marketplace, ou seja, vamos trabalhar com vários produtos que não são da marca Taurus, seja de empresas de armas, acessórios e tudo o que está relacionado a esse universo. Também anunciamos a abertura de uma loja própria, que no futuro pode se transformar em uma franquia.

Inv.com - A nova resolução muda alguma coisa na estratégia da Taurus?

SN - Muda do ponto de vista da estratégia de investimentos. Nós anunciamos nesta semana um plano de investimento a médio prazo de mais ou menos R$ 500 milhões, e certamente isso vai mudar o destino desse dinheiro. Se estivéssemos pensando em colocar no Brasil, agora colocaríamos nos Estados Unidos ou na Índia, porque diante desse cenário não vale a pena.

Inv.com - Em termos de mercado, como vocês veem a demanda no ano que vem?

SN - O nosso maior mercado é o americano. Esse ano é mágico, porque isso é histórico: sempre que tem eleição nos Estados Unidos, os americanos, na dúvida se os republicanos ou democratas vão ganhar o próximo governo, antecipam suas compras de armas. Além disso, as estatísticas mostram que, sempre que o governo muda de republicano para democrata, a venda aumenta nos quatro anos seguintes, porque os democratas são favoráveis às restrições ao uso de arma, então os americanos se preparam. Poderíamos pensar que isso antecipa um problema de futuro, porque se os próximos quatro anos vão ser de restrição ao mercado, poderíamos perder com isso. Mas eu digo que não, porque o plano de governo do Biden está preocupado com as armas automáticas e com grande capacidade de tiros, enquanto o mercado da Taurus é de armas leves. Então o americano vai buscar outra opção, que pode ser a Taurus. Assim, sob todos os pontos de vista, eu entendo que o futuro da Taurus não vai sofrer nenhum percalço com relação às vendas.

 

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