Pesquisar este portal

15 novembro, 2020

Taurus planeja ser a maior empresa de armas leves do mundo

Suno Research

 *LRCA Defense Consulting, com a colaboração de Christian Lima - 16/11/2020

Na história recente da Taurus Armas, figuras de retórica são adequadas para explicar seu turnaround (volta por cima). Em 2014, o "navio" da empresa fazia água por todos os lados e o naufrágio (recuperação judicial) era iminente.

Após a CBC adquirir a companhia em 2015, agregando-lhe um novo e competente time de executivos liderados pelo dinâmico CEO Salesio Nuhs, estes promoveram uma completa reengenharia na filosofia empresarial e nos processos tecnológicos, operacionais e administrativos da então Forjas Taurus, sob a orientação da Galeazzi & Associados (a partir do final de 2017), transformando radicalmente a companhia.

Assim, a partir de 2018, com o "barco" já consertado e remodelado, os resultados positivos começaram a aparecer. Em 2019, a agora Taurus Armas já estava transformada. O "velho barco à beira do naufrágio" passou a ser um ultramoderno "navio lança-mísseis", que já "disparava" suas armas em direção aos objetivos que traçou.

Nesse mesmo ano, veio a liberação das armas no Brasil e a conquista de 15% do mercado americano de pistolas e revólveres, além de a empresa ter se tornado a quarta marca mais desejada nos EUA e a segunda mais importada pelos consumidores desse país. A questão eleitoral, a pandemia e os distúrbios civis nos EUA (mercado para onde exporta mais de 80% de sua produção), apenas potencializaram a situação, encontrando a Taurus preparada para enfrentar a alta e consequente demanda. Como resultado, a empresa, em plena pandemia, passou a bater recordes após recordes de produção, de vendas, de lucros e de desalavancagem, como evidenciam os fantásticos números do 3T20.

Mas engana-se quem possa pensar que essa fase é apenas uma bolha ou uma onda passageira. Durante três anos, o time de executivos planejou detalhadamente a expansão e a consolidação da empresa, com base nos pilares fundamentais que apoiam sua estratégia: rentabilidade sustentável a longo prazo, alta qualidade dos produtos, inovação tecnológica com foco no cliente, e melhora dos indicadores operacionais e financeiros, que hoje são como um “mantra” na Taurus. 

Para se ter uma ideia da robustez do último balanço, a empresa se orgulha de ter passado a Ruger (referência no mundo) em números.

Como afirmou a analista Luise Barsi, em vídeo publicado nos stories do perfil Ações Garantem no Instagram (ao comentar os números do 3T20), a empresa "chegou a quase 500 milhões de receita no trimestre; a gente acredita, que para o ano que vem, projeções nossas aqui, pode chegar até 3 bi" [3 bilhões de reais]. Louise comentou ainda que o resultado do 3T20 não foi bom devido a eventos não recorrentes, mas sim devido justamente aos recorrentes atrelados à melhora drástica nos indicadores operacionais.

O otimismo com a empresa foi corroborado pelo analista Alex André, da SaraInvest, em uma live no canal YouTube de Alexandre Cabral, onde realizou uma detida análise sobre o atual momento da empresa e deixou pública a visão positiva de sua casa de análises.

Em oportunas e produtivas lives com as casas de análise Eleven Financial e Suno Research, ocorridas após a divulgação dos resultados do 3T20, o CEO e o CFO da Taurus Armas discorreram sobre o assunto e trouxeram novas e importantes informações sobre as perspectivas e o futuro da empresa.

Crescimento no Brasil e nos EUA
O grande crescimento das vendas no mercado nacional se deve à flexibilização da política de armas e munições implantada pelo Governo, possibilitando que a empresa ofereça aqui todo o moderno portfólio que tem ampla aceitação nos EUA e no mundo.

O grande mercado da Taurus no mundo inteiro são os consumidores civis (como os CACs brasileiros), pois traz estabilidade e permite planejar a longo prazo. Os consumidores institucionais (licitações governamentais) são importantes, mas eventuais.

A participação da empresa está crescendo acentuadamente nos mercados americano e brasileiro. Nos EUA, há estudos técnicos que indicam que, nos próximos cinco anos, 24 milhões de americanos vão comprar sua primeira arma. O Brasil, em virtude das restrições anteriores, tem um dos maiores potenciais de venda do mundo e o mercado está muito aquecido; as vendas dos nove meses de 2020 foram 132,7% acima do mesmo período de 2019.

A Taurus está com backorders (pedidos em carteira) fortes, de mais de um milhão de armas nos EUA e de 128 mil armas no Brasil, ou seja, cerca de 2,5 vezes o que foi vendido no 3T20, garantindo assim seu desempenho nos próximos trimestres.

A empresa está produzindo 6900 armas/dia e deverá chegar a mais de 8000 em 2021.

A agilidade, a integração e a inovação do Centro Integrado de Engenharia BR/EUA é uma das chaves de sucesso para a vantagem competitiva que a empresa tem nos EUA, o que faz com que seus produtos tenham a melhor relação custo/benefício entre os fabricantes americanos. A empresa gasta entre 10 e 15 milhões de dólares anualmente em P&D.

Salesio exemplificou dizendo que 50% do faturamento da empresa se dá sobre produtos desenvolvidos nos últimos dois anos, o que traz maior margem e maior interação com o consumidor.

Gráfico produzido por Christian Lima

Joint venture na Índia será um divisor de águas
A Índia é o maior e mais inexplorado mercado consumidor do mundo para o setor de armamentos leves. Suas forças de segurança (militares e policiais) somam mais de três milhões de homens e mulheres, além de ter o maior efetivo do mundo em segurança privada.

A Taurus e a CBC são pioneiras em joint ventures dentro do Programa Make in India. No entender desta Consultoria, este fato, aliado ao alinhamento ideológico entre os governos dos dois países, traz uma vantagem ímpar às duas empresas. 

Segundo o CEO da Taurus, "o mais importante é estar na Índia nesse momento em que ela prevê grandes aquisições de defesa via Programa Make in India, sendo que a empresa irá participar de todas as licitações militares que envolvam seu portfólio". Salesio ainda afirmou que "o mercado civil indiano está começando a ser liberado pelo governo, já com projetos em curso". A demanda reprimida é imensa e as armas civis produzidas localmente são poucas e usam projetos antigos.

Além disso, o armamento leve militar e policial (pistolas e fuzis) desse país é predominantemente antiquado, necessitando ser urgentemente modernizado.

O CFO, também gerente do projeto na Índia, revelou que a empresa já tem projeções para esse país, mas ainda não as pode divulgar.

Recentemente, o governo da Índia solicitou à Taurus 10 unidades de seu Fuzil T4, a fim de que sejam testadas pelas Forças Armadas do país. 

Esta Consultoria lembra que há a expectativa de o governo da Índia vir a adquirir meio milhão de fuzis T4 ao longo dos próximos cinco anos, conforme informou a empresa em janeiro após a assinatura do contrato de joint venture, fato confirmado novamente pelo CEO em uma live recente. Esta licitação se arrasta desde 2018 e, recentemente, a Caracal havia oferecido o menor lance. No entanto o governo indiano não levou o processo à frente, aguardando para concluí-lo dentro do Programa Make in India.

Grandes lançamentos estão previstos
A pistola GX4, mais recente evolução da Família G produzida pela Taurus nos Estados Unidos, a ser lançada no primeiro trimestre de 2021, será uma pistola "microcompacta" no calibre 9mm, com carregador de 12 tiros, tendo menos de 50 peças e sendo de tamanho menor que a G2c.

GX4 (protótipo)

O CEO da Taurus revelou que o grande diferencial da arma é que, apesar de ser da Família G, ela competirá em um mercado não disputado pelos modelos anteriores, abrindo acesso a um novo nicho de mercado (microcompactas), que representa 40% do mercado de pistolas. Além disso, a arma terá um maior valor agregado. Nesse quesito, afirmou que poucas empresas conseguem lançar um produto novo com custo igual ou menor do que o anterior, e que essa preocupação tornou-se parte integrante da filosofia da empresa, tendo origem já nos projetos desenvolvidos pelo Centro Integrado de Engenharia BR/EUA.

Há a previsão de o lançamento da GX4 ser feito de forma simultânea no Brasil e nos Estados Unidos.

Em termos de conquista de um outro novo nicho de mercado, o CEO afirmou que a empresa também lançará o primeiro revólver com munição 5,56mm (de fuzil, tipo "garrafinha") com cano de 14,5 polegadas (mesmo tamanho do cano da versão semiautomática do Fuzil T4), arma que deverá se constituir em um grande sucesso, especialmente entre caçadores brasileiros e americanos.

Com foco no mesmo público, o executivo comentou que os revólveres Taurus de grosso calibre (que são conhecidos como os "canhões" da Taurus) estão vendendo muito nos dois países, tanto como arma principal para a caça, como para arma de backup, a ser usada em caso de necessidade.

Revólver Raging Hunter ("canhão da Taurus")
 

Projeto Estratégico Condomínio
Salesio Nuhs (visivelmente sem intenção de fazê-lo) revelou que a empresa está desenvolvendo o Projeto Estratégico Condomínio, que vai trazer, a partir de janeiro de 2022, seis grandes fornecedores de peças estratégicas de armas para dentro da empresa, de acordo com parâmetros estabelecidos pela Taurus, sendo a Joalmi (joint venture para produzir carregadores carregadores) um deles. Os prédios para abrigar as empresas condôminas já estão sendo construídos. Esta Consultoria acredita que o projeto deva funcionar à semelhança de uma montadora de automóveis, como a GM em Gravataí, por exemplo.

Joint venture com a Joalmi trará 50% de redução de custos em carregadores
Segundo a Taurus, o custo do carregador produzido no Brasil cairá em 50%, sendo possível produzir uma arma nos EUA com a mesma margem bruta com que seria produzida no Brasil.

Há a previsão de a companhia arrecadar, em cinco anos, cerca de 100 milhões de reais com os novos carregadores.

Pistola G3c com dois carregadores e com munição CBC/Magtech

Mercado acionário: vendas do controlador e ações muito descontadas
Salésio e Sgrillo afirmaram que o controlador acredita totalmente na empresa. Por este motivo, subscreve e vende para criar liquidez para as ações preferenciais, já tendo exercido R$ 85 milhões. Sua intenção é ser o market maker do mercado. Com essa estratégia, a base de acionistas teve um crescimento exponencial nos últimos anos.

Afirmaram ainda que o valor de suas ações está muito descontado, principalmente com relação ao Ebtida. Como exemplo, Sgrillo citou que esta relação é de 12 vezes nos EUA, contra apenas duas vezes na Taurus.

A propósito deste assunto, a casa de análises Eleven Financial Research, que cobre a Taurus, aumentou o preço-alvo das ações preferenciais de emissão desta empresa, passando-o de 10,50 para 12 reais.

Evolução no número de acionistas - 2015 (TradeMap)



Evolução no número de acionistas - 2020 (TradeMap)

Dividendos poderão chegar mais cedo do que o previsto
Afirmando que a empresa tem uma política agressiva de dividendos, de 35% do lucro líquido, o CFO revelou que esse processo será "a cereja do bolo do turnaround". Antes previsto apenas para médio prazo, a reversão rápida do patrimônio negativo poderá levar a que, no próximo trimestre, talvez já se esteja discutindo o assunto na Taurus.

Plano Estratégico para 5 anos
Salesio e Sgrillo afirmaram que a Taurus já é uma empresa estabilizada e que está trabalhando no Plano Estratégico para os próximos 5 anos.

Como seu CEO tem afirmado seguidamente que a companhia é produtora de um portfólio de armas leves (não apenas de pistolas) e que quer transformá-la na maior empresa do mundo deste segmento, esta Consultoria acredita que o Plano possa englobar este objetivo (mormente após entrar no imenso mercado asiático por meio da unidade na Índia), seja por crescimento orgânico, seja por aquisições estratégicas.

Como afirmou Salesio no release do 3T20, a Taurus está "sempre buscando oportunidades que continuem dando sustentação a esse crescimento, seja de forma orgânica, seja por meio de aquisições que venham a agregar valor à Companhia e, portanto, a seus acionistas".

Dívida e desalavancagem
A Taurus fechou o 3T20 com 320 milhões de reais em contas a receber. Está com muito dinheiro em caixa sem ter necessitado antecipar recebíveis.

Como se mostrou uma forte geradora de caixa, seus executivos assumiram publicamente o compromisso de desalavancar a empresa com recursos próprios. Em 2020, por exemplo, já houve uma desalavancagem de 46 milhões de dólares.

A alavancagem está hoje em apenas 3,1 (já foi mais de 11), considerando o índice dívida líquida / Ebitda. Se for somado o total a ser havido com as subscrições dos bônus e com a venda dos ativos non-core (fábrica de capacetes e terreno), esse índice cairia para apenas 2,1 vezes.

Essa redução e a grande capacidade de a empresa gerar caixa, faz com que a Taurus tenha deixado de ser um risco, especialmente para os bancos, que hoje não se preocupam mais com a companhia.

A propósito, a fábrica de capacetes teve um desempenho também recorde no 3T20, com aumento de mais de 260%, haja vista ter vendido mais de 200 mil capacetes por mês. Segundo Salesio, essa é uma operação muito lucrativa e separada da de armas, que deverá ser alienada por um grande valor.

Outras informações
- O novo e moderno Plano de Remuneração de Executivos visou reter na empresa as principais cabeças que fizeram acontecer o turnaround e que são agora fundamentais para a implementação do Plano Estratégico de 5 anos.

- As armas preferidas no Brasil são as pistolas G2c e TS9 para o público em geral. Para os CACs, são o fuzil T4 e a pistola TS9. Já para os caçadores de javali, são o fuzil T4 e os revólveres ("canhões") no calibre 454.

- As principais preocupações que balizam o trabalho da Taurus são: qualidade e custos.

Reunião da APIMEC deverá trazer mais novidades
As lives foram finalizadas com o convite para a reunião na APIMEC no dia 03 de dezembro, quando a empresa prometeu anunciar mais novidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque