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10 novembro, 2020

Taurus e CBC: consequências das eleições americanas, pandemia e distúrbios civis


*LRCA Defense Consulting - 10/11/2020

A aparente vitória de Joe Biden para a presidência dos EUA repercutiu ontem no valor das ações listadas nas bolsas de valores desse país, causando baixas generalizadas no segmento de armas e munições, que havia subido muito neste ano após recordes seguidos de vendas desde março. No entanto, tal movimento, após uma nova e mais racional análise da situação, permitiu que três da quatro ações listadas fechassem o pregão de hoje com altas.

O fato de ontem significou que muitos acionistas dessas empresas resolveram vender seus ativos por julgarem que:

1. A vacina da Pfizer para o novo coronavírus parece ser promissora, o que tende a diminuir o receio por perturbações da ordem causadas por um eventual desabastecimento, com ameaças às pessoas e às propriedades privadas, caso a pandemia prosseguisse sem controle.

2. A violência em massa, ou mesmo uma grande violência pós-eleitoral, não se materializou, até agora, com a aparente vitória do Partido Democrata, pois seus correligionários acreditam que este possa tomar medidas que viriam ao encontro das reivindicações dos "antifas", "black lives matter" e de outros grupos radicais, freando suas ameaças de distúrbios civis "antirracistas", contra a polícia, etc.

Assim, a predominância das vendas de ações ocorreu pelo fato de os investidores julgarem que a perspectiva imediata para a indústria de armas possa se traduzir por uma desaceleração das vendas, o que reduziria o lucro das empresas do setor e impactaria negativamente nos dividendos pagos futuramente por essas.

Neste quesito, é relevante observar que, diferentemente da cultura predominante no Brasil, o investidor americano caracteriza-se por pensar e investir a longo prazo, fazendo dos dividendos a sua poupança para o futuro, seja para a aposentadoria, seja para concretizar sonhos de consumo. Assim, qualquer ameaça aos planos futuros faz com que as estratégias de investimentos sejam revistas, pelo menos até que o horizonte se desanuvie.

Mas será tão simples assim? Provavelmente, não, por três motivos principais:

1. Apesar dos resultados iniciais promissores, ainda não há uma real garantia da eficiência, a longo prazo, da vacina da Pfizer ou de qualquer outra. Quando houver, ainda restará a questão logístico-temporal da produção e distribuição em massa da vacina para os mais de 328 milhões de americanos (que queiram tomá-la), algo que poderá se arrastar por todo o ano de 2021 ou mais.

2. O processo eleitoral pode ser judicializado pelo governo Trump, como parece ser a intenção, o que tenderá levar a indefinição eleitoral a perdurar por mais alguns meses. Este fato, especialmente se começarem a surgir provas de fraudes, poderá fazer com que ressurjam os violentos distúrbios civis ocorridos antes das eleições. Por um lado, seriam uma forma de pressão pela declaração da vitória de Biden a qualquer custo; por outro, seriam causados pela indignação dos partidários de Trump pela ocorrência das eventuais fraudes.

3. Em caso concreto da vitória de Biden, o povo americano - o mais armado do mundo e com o direito às armas previsto na Segunda Emenda à Constituição - perceberá que o governo federal e/ou o de vários estados planejam (como já afirmaram explicitamente durante a campanha democrata) adotar políticas mais rígidas de controle de armas, especialmente se houver uma predominância desse partido no Senado e na Câmara.  

Por outro lado, mesmo que os democratas conquistem maioria no Senado (o que ainda não está definido) e na Câmara (praticamente certo), vale lembrar que as restrições já propostas a nível federal dizem respeito, principalmente, às armas automáticas capazes de causar grandes estragos (fuzis e metralhadoras, que não são comercializadas pela Taurus nos EUA), bem como a uma maior burocratização do processo de verificação de antecedentes (NICS), tornando-o menos ágil. Mesmo assim, em questões constitucionais, a Suprema Corte americana é hoje dominada por republicanos, o que dificultaria, em tese, a aprovação de medidas mais restritivas que afrontassem o direito e a liberdade previstos na Segunda Emenda.

Além disso, os EUA não é um país de esquerda e não o será com a vitória dos democratas. A população é bastante consciente e vigilante sobre os valores maiores que embasam sua pátria, sendo um erro crasso confundir a imensa maioria dos democratas norte-americanos com esquerdistas do tipo que se encontra na América Latina.

Nova corrida às lojas de armas e munições?
Em qualquer uma, ou em mais de uma das três situações enumeradas no tópico anterior, a consequência imediata poderia se dar na forma de uma nova corrida às lojas de armas e munições, visando aumentar a proteção das pessoas e propriedades em face da ocorrência (ou possibilidade) de novos distúrbios civis, ou ainda para se antecipar às restrições e/ou maiores dificuldades para a aquisição desses produtos, a serem eventualmente impostas pelo governo federal e pelo de alguns estados com governo democrata.

A opinião de um especialista no mercado americano de armas e munições
Salesio Nuhs - Presidente da Associação Nacional de Armas e Munições (ANIAM), Presidente e CEO Global da Taurus Armas (Brasil e USA), e Vice-presidente Comercial e de Relações Institucionais da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) - é um executivo do setor que está no mercado de armas e munições há exatos 30 anos.

As duas empresas que dirige estão presentes nos Estados Unidos e interagem comercialmente com esse mercado em posição destacada, haja vista que a Taurus USA está lá há 39 anos e é hoje a quarta marca mais vendida em pistolas e a primeira em revólveres; a marca Taurus é também a segunda mais importada pelos americanos. A CBC/Magtech Ammunition é a maior importadora de munições dos EUA.

Essas robustas credenciais fazem com que Salesio Nuhs possa ser considerado como o maior especialista brasileiro no mercado americano do segmento de Small Arms & Ammunition (armas leves e munições).

Em uma recente live, o executivo não titubeou em traçar cenários positivos para os dois resultados possíveis nas eleições americanas:

"Se o Biden ganhar, a curto prazo nós teremos uma avalanche de pedidos. Hoje, a situação é muito é muito favorável a nós, porque temos uma carteira de pedidos com uma quantidade enorme de armas e munições para exportação. Se o Biden ganhar, vai aumentar ainda mais isso a curto prazo. Porém, a médio e longo prazo nós podemos sofrer por algumas decisões, mas eu não acredito em decisões radicais nos Estados Unidos porque a Segunda Emenda [à Constituição] garante o direito de aquisição. Agora, provavelmente terão algumas restrições pequenas com relação à posse e ao porte de armas nos Estados Unidos.

Se o Trump ganhar, nós não vamos ter essa correria a curto prazo, porque entende-se que o direito está garantido. Porém, a longo prazo, a gente não teria nenhuma desconfiança com relação ao futuro dos próximos quatro anos.

Independente disso, as indústrias brasileiras, tanto a CBC como a Taurus, que exportam para os Estados Unidos, têm uma posição extremamente sólida lá. Então, não é que nós vamos perder o mercado dos Estados Unidos a ponto de balançar a estrutura aqui no Brasil. Nós temos uma posição muito forte lá. Então, vai ter uma restrição, mas uma restrição com que nós já convivemos no passado [governos democratas] e hoje estamos muito mais fortes, porque tanto uma empresa quanto a outra se fortalecerem e aumentaram sobremaneira a capacidade de produção. A CBC é o maior importador americano de munição e a Taurus é a segunda marca mais importada pelos americanos. Ou seja, existe uma preferência pelas nossas marcas
".

 


Conclusões

A pandemia ainda não foi controlada nos EUA e não o será no curto prazo. A eficácia das vacinas ainda é incerta, bem como o tempo logístico que o produto levaria para atingir e imunizar a população americana.

Apesar do imenso esforço da mídia e dos grupos simpatizantes (nos EUA e no mundo), as eleições americanas também não estão conclusas, e todos os cenários ainda são possíveis. A judicialização do pleito poderá levar a novos e violentos distúrbios.

Os dois itens acima poderão se traduzir em novas aquisições de armamento e munição, visando à proteção pessoal e patrimonial.

As possíveis restrições a serem impostas por um eventual governo Biden não teriam grande impacto nos produtos vendidos pela Taurus nos EUA (pistolas e revólveres) e no desempenho geral da empresa, pelo menos até o final de 2021. No entanto, a possibilidade de que venham a ocorrer, poderá desencadear uma "avalanche" de novos pedidos.

Como a Taurus já tinha cinco meses à frente de pedidos em carteira no final de junho, os recordes de vendas que aconteceram no meses posteriores, aliados a um eventual aumento de aquisições preventivas, poderão levar a empresa a ter 10 meses ou mais de pedidos contabilizados, abarcando quase toda sua produção de 2021.

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