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Nova fábrica da Taurus em Baimbridge, Georgia (USA)
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*LRCA Defense Consulting, com a colaboração de Christian Lima - 29/11/2020 (atualizada às 19:17)
A "saúde" de uma empresa de capital aberto com ações negociadas em bolsa de valores, via de regra é refletida no valor dessas ações. Ao analisar as realidades e as perspectivas da empresa, os investidores decidem pagar o preço que julgam justo para se tornarem sócios dela e poderem auferir os benefícios da valorização futura dos papéis e/ou do recebimento de dividendos.
Assim, em virtude do interesse que as ações da companhia Taurus Armas S.A., uma Empresa Estratégica de Defesa brasileira, têm despertado, esta editoria resolveu sair de sua zona de conforto e realizar uma incursão nessa área, trazendo aos seus leitores algumas informações passadas e presentes, tendo por base uma estimativa de valor justo divulgado pela casa internacional de análises Simply Wall St.
No entanto, voltamos a enfatizar que o mercado de ações não faz parte de
nossa expertise e tampouco recomendamos a observância das análises citadas,
cabendo-nos apenas, neste caso, noticiar e comentar fatos sobre as
empresas do Setor de Defesa que estejam publicados nas mídias nacional e
internacional. Assim, compete aos participantes desse mercado analisar
cuidadosamente estas e outras informações divulgadas antes de tomar suas
próprias decisões.
A Simply Wall St
Desde 2014, a casa de análises australiana Simply Wall St se dedica a analisar empresas listadas em 41 bolsas de valores em 27 mercados mundiais. A companhia é sediada na cidade de Sydney (AU) e afirma ter uma base de mais de um milhão de clientes no mundo todo, especialmente nos Estados Unidos.
Sua proposta é "auxiliar as pessoas a se tornarem melhores investidores, transformando dados financeiros complicados em infográficos fáceis de entender" e "capacitar os investidores de varejo a tomar decisões de investimento lucrativas e não emocionais, a longo prazo e com base em fundamentos".
A plataforma analisa 75.000 ações a cada seis horas e apresenta os resultados em infográficos. Os usuários podem pesquisar qualquer uma dessas ações por meio de um sistema de filtragem avançado.
Segundo a Simply Wall St, "Tudo se resume a como o cérebro processa as informações. Na verdade, processamos imagens 60.000 vezes mais rápido do que texto e, por isso, quando as informações são apresentadas como um infográfico, é 30 vezes mais provável que sejam lidas do que um artigo de texto puro".
Atualização de dados
Após a publicação dos robustos dados relativos ao terceiro trimestre pela Taurus, a empresa de análises australiana refez seus cálculos e passou a divulgar novas estimativas.
Agora, com dados do dia 27 de novembro, a startup prevê um valor justo de R$ 113,33 (15 Set: R$ 75,30; 06 Jun: R$ 22,00) para as ações preferenciais da companhia (TASA4 - PN), o que representaria um potencial de valorização de 760% para a ação em relação aos valores de fechamento do último pregão da B3. (tópico atualizado às 19:17)
A startup se vale de um método de análise conhecido como "Fluxo de Caixa Descontado", muito utilizado por investidores internacionais por ser, segundo ela, o método mais amplamente aceito para calcular o valor justo de uma empresa. Nele, parte-se da premissa de que este valor justo é o valor total do seu fluxo de caixa de entrada menos suas despesas, tecnicamente denominado Fluxo de Caixa Livre (FCF), descontado ao valor de hoje. O método é explicado pela empresa neste link.
Segundo dados disponíveis na Internet, o pico histórico nominal de valorização das ações PN da Taurus (TASA4) aconteceu em 15/10/2007 (valor de fechamento), quando atingiu a cotação de R$ 58,88, equivalente, na época, a cerca de 32 dólares.
Síntese da evolução do valor das ações a partir de 2006
Em 02/01/2006, a ação PN da Taurus Armas fechou com um valor de R$ 5,60. A valorização foi constante durante todo esse ano, pois a empresa se encontrava em uma ótima fase, produzindo e exportando muito.
Um trecho do Relatório Anual da Taurus refrente a 2006 exemplifica bem o momento então vivido: "No consolidado, as Empresas Taurus alcançaram em 2006, o melhor desempenho comercial de sua história, excedendo, com larga margem, os recordes de vendas em todos os segmentos em que atuam. A receita bruta consolidada das vendas alcançou R$ 519,4 milhões, indicando um crescimento de 31,1% em relação aos R$ 396 milhões obtidos em 2005. Já a receita líquida consolidada das vendas em 2006 foi de R$ 408,9 milhões, 22,7% acima dos R$ 333,2 milhões alcançados no ano anterior enquanto o lucro líquido foi de R$ 30,4 milhões, superior em 67% aos R$ 18,2milhões registrados em 2005. O EBITDA/LAJIDA consolidado em 2006 foi de R$ 56,2 milhões, 30% acima dos R$ 43,2 milhões apurados no exercício anterior, equivalentes a 13,7% e 13% da receita líquida de 2006 e 2005, respectivamente".
No primeiro pregão de 2007 (02/01), a ação fechou a R$ 15,44 e, a partir daí, começou a experimentar uma forte valorização, até atingir o pico histórico de 58,88 em 15/10. Segundo dados fornecidos pelo RI da Taurus, o maior valor de mercado anterior da empresa se deu em 31/03/2008, quando atingiu R$ 1.042.223.600,00, que foi batido agora com a forte valorização das ações, chegando a R$ 1.135.699.548,00.
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Valor de mercado da Taurus Armas (final de exercício financeiro, exceto 2020), por Christian Lima
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No entanto, em 2008, a Taurus começou o seu "inferno astral", que se estenderia até 2014/2015, quando, em meio a escândalos administrativos e em vias de pedir recuperação judicial, foi vendida para a CBC.
É relevante lembrar que no final de 2007 e, principalmente, em 2008, aconteceu uma das maiores crises financeiras internacionais desde o crash da bolsa em 1929, atingindo em cheio os Estados Unidos e impactando duramente as vendas da Taurus naquele país, seu maior cliente, causando também grandes perdas nas principais ações brasileiras.
Junto com um cenário internacional totalmente adverso e com grande retração nas vendas nos EUA, a empresa passou a sofrer também problemas administrativos diversos que causaram repercussões na imprensa e fizeram com que as ações fossem desvalorizadas até atingir R$ 13,00 em 10/10/2008. Com a paulatina recuperação dos EUA, as ações foram se recuperando e atingiram uma máxima de R$ 39,15 em 05/10/2009. A partir de 28/04/2010, a ação foi alvo de alguns desdobramentos (splits) e grupamentos (inplits), alterando seu valor nominal.
Após isso, outros graves problemas administrativos vieram à tona e, entre altas e baixas, as ações atingiram um valor mínimo de apenas R$ 1,00 em 09/12/2015, permanecendo na faixa de R$ 1,xx - 2,xx até Set/18.
Após a aquisição pela CBC, houve uma reengenharia completa na empresa, realizada pela competente administração de Salesio Nuhs e de sua equipe, dando início ao turnaround da companhia no Brasil e nos EUA.
Em Set/18, quando se vislumbrou a possibilidade de Bolsonaro ser eleito Presidente
do Brasil e os primeiros resultados da reengenharia já eram visíveis, o valor dos papéis teve um grande repique, chegando a R$ 10,35 (sempre valores de fechamento) em 22/10/2018. No entanto, uma venda expressiva realizada pelo controlador reacendeu a não tão antiga desconfiança do mercado para com a empresa e, a partir de março de 2019, os preços voltaram para a faixa dos 3,xx até o dia 08/12.
Com a forte recuperação dos números da Taurus, com as evidências de uma administração de excelência e com o retorno da confiança no controlador, suas ações tiveram boa reação a partir de 09/12/2019, chegando a mais de R$ 6,00 no início de 2020, com a assinatura da joint venture na Índia. Porém, devido à crise mundial dos mercados de ações causada pela pandemia, os preços desabaram até atingir um mínimo de R$ 2,17 em 19/03 deste ano.
Posteriormente, passado o pânico nos mercados e com os robustos resultados apresentados pela empresa, mostrando seguidas quebras de recordes em seus números, o valor das ações passou a refletir as expectativas do mercado para com o presente e, principalmente, para com o futuro da companhia, crescendo em ritmo forte até atingir a marca de R$ 13,17 em 27/11.
A propósito, conforme declarações recentes do CEO e do CFO da Taurus, o controlador acredita totalmente na empresa. Por este motivo, subscreve e vende ações PN para criar liquidez para estas, já tendo exercido cerca de R$ 85 milhões. Sua intenção é ser o market maker do mercado. Com essa estratégia, a base de acionistas teve um crescimento exponencial nos últimos anos, passando de 2.997 em 2017 para mais de 20.000 em Set/2020, o que gera maior confiança aos investidores e estabilidade aos preços, dificultando movimentos especulativos erráticos, ascendentes ou descendentes.
O presente alicerçando o futuro
Os excepcionais resultados da companhia (e a consequente valorização de suas ações) são fruto da reengenharia completa realizada por uma competente, proativa e ímpar equipe de executivos que, liderando e balizando o processo, soube conduzir o produtivo trabalho de seus mais de 2.300 funcionários em direção a um novo patamar, transformando a antiga Forjas Taurus na moderna Taurus Armas e fazendo-a ser alvo de um dos mais espetaculares turnarounds já visto no meio empresarial brasileiro neste século.
Ainda no bojo da reengenharia realizada, a visão de futuro e de mercado de seus executivos levaram a empresa a planejar minunciosamente sua expansão no Brasil, nos Estados Unidos e na Índia. Assim, durante os últimos três anos, essa equipe planejou detalhadamente a expansão e a consolidação da empresa, com base nos pilares fundamentais que apoiam sua estratégia: rentabilidade sustentável a longo prazo, alta qualidade dos produtos, inovação tecnológica com foco no cliente, e melhora dos indicadores operacionais e financeiros, que hoje são como um “mantra” na Taurus.
Com isso, a empresa pode encarar com tranquilidade a explosão de vendas havida nos EUA com a pandemia, com os distúrbios civis e com as eleições presidenciais, bem como com o aumento significativo de vendas no mercado interno ocasionado pela flexibilização das normas legais, fatores estes que fizeram com que tenha, hoje, pedidos em carteira (backorders) de mais de um milhão de armas nos EUA e de 128 mil armas no Brasil, ou seja, cerca de 2,5 vezes o que foi vendido no 3T20, garantindo assim seu desempenho nos próximos trimestres.
Com a joint venture na Índia abrindo o imenso mercado civil e militar desse país e do restante da Ásia, com os temores das restrições às armas nos anos iniciais do governo de Joe Biden, com o funcionamento a pleno da fábrica na Georgia, com a fabricação própria de carregadores (joint venture com a Joalmi) e com o Projeto Estratégico Condomínio, a Taurus tende a ter um futuro bastante promissor nos próximos anos.
Dentro desse espectro futuro está o equacionamento total do endividamento, fazendo com que a empresa volte a ter patrimônio líquido positivo, com todas as importantes e consequentes implicações deste fato: pagamento de dividendos aos acionistas (35% pelo Estatuto); acesso a financiamentos nacionais e internacionais em condições vantajosas; eventuais aquisições e/ou novas joint ventures estratégicas; possibilidade de investimento por grandes gestoras de capital nacionais e internacionais, hoje impedidas de fazê-lo; e, por que não, listagem de suas ações em bolsas internacionais.
Assim, as constantes afirmações de Salesio Nuhs, enfatizando que a companhia é produtora de um
portfólio de armas leves (não apenas de pistolas) e que quer
transformá-la na maior empresa do mundo deste segmento, já não parecem tão distantes.
Em síntese, a Taurus Armas é hoje uma empresa estabilizada que pode mirar o futuro com tranquilidade. Para tanto, está trabalhando em um Plano Estratégico para os próximos 5 anos, cujas linhas mestras poderão ser divulgadas em breve, talvez até na Reunião APIMEC do próximo dia 03 de dezembro.
Ao fim e ao cabo, tais considerações permitem supor que, se forem mantidos ou melhorados os robustos resultados que a
empresa vem apresentando, especialmente com relação à geração de caixa, o
valor projetado pela casa de análises Simply Wall St é, teoricamente, passível de ser
alcançado em um horizonte de médio ou longo prazo, como propõe seu método de análise.