Entraves regulatórios e tributários forçam a empresa a priorizar produção nos EUA e a deixar de aumentar a capacidade da unidade brasileira localizada em São Leopoldo (RS)
*LRCA Defense Consulting - 25/08/2020
Conforme a Taurus vem denunciando há tempos, a falta de isonomia nas questões regulatórias e tributárias vem prejudicando sistematicamente a indústria nacional de armamentos leves. Em um período crítico de desemprego e de pronunciada crise econômica mundial, a burocracia brasileira mais uma vez vira as costas ao País e dá larga vantagem à indústria estrangeira, contribuindo para aumentar a crise no Brasil.
Recentemente, o Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP, reativou um edital de compra de pistolas que estava a mais de oito meses parado, dando apenas oito dias para as empresas se habilitarem.
Conforme a Taurus, não bastasse o prazo exíguo, as especificações técnicas das pistolas são diferentes daquelas especificadas pela própria SENASP, resultantes que foram de audiência pública realizada exatamente com esse propósito. O edital acrescentou, nas características técnicas, dois detalhes que não constavam das especificações anteriores, detalhes estes que a Taurus vem tentando homologar junto ao Exército desde 24/05/2019, e que ainda não foram sequer testados. Este fato, causado por uma demora burocrática alheia a sua vontade, impede a empresa de participar desse certame. O contrassenso é que tal homologação não é uma exigência para as indústrias estrangeiras, bastando que as armas sejam liberadas no país de origem de acordo com a própria legislação deste.
A empresa gaúcha afirma que, apesar de terem sido divulgados na imprensa números mirabolantes e exponenciais sobre essa licitação, na prática o edital visa à aquisição de 6,5 mil armas, um pouco mais do que a produção de um dia de sua unidade no Brasil. Portanto, esse não seria o “x” da questão.
Empresa irá priorizar a produção nos EUA
Enquanto a Índia e outros países fomentam e priorizam a respectiva indústria nacional de defesa (vide o Make in India), fatos como este, conforme a empresa, incentivam e impelem a Taurus Armas a sair do Brasil. Lamentavelmente, quem poderá perder com isso é o nosso País, pois significará aumento do desemprego e diminuição da arrecadação.
Em virtude de tais empecilhos, a Taurus está transferindo linhas de produção para sua fábrica nos Estados Unidos, já tendo enviado duas delas para a unidade americana. É uma situação e uma decisão que a empresa, orgulhosa de ser brasileira, de estar no mercado há 80 anos e de ser uma líder mundial no setor, lamenta profundamente. Porém, a atual regulamentação e a lentidão da máquina pública lhe impõem essa nova realidade: produzir nos Estados Unidos e exportar para o Brasil.
Segundo seu Presidente e CEO Global, Salesio Nuhs, "a Taurus não irá abandonar o Brasil, mas não vai investir mais em aumento de capacidade no País. Sempre que houver um cenário semelhante ou também um cenário institucional, vamos produzir nos EUA e vender para cá, pois assim não sofreremos essa barreiras tributárias e regulatórias. Se houver aumento de demanda no mercado civil, produziremos também nos EUA e exportaremos para o Brasil, pelos mesmos motivos".
Quanto à licitação de pistolas que está sendo feita pela SENASP, o executivo afirmou que ela "não atrapalha os resultados financeiros da empresa no momento, a qual seguirá com sua gestão forte, garantindo resultados crescentes e consistentes, conforme os recentemente publicados".
No entanto, Salesio lamenta o fato de a empresa ser levada a "ter que gerar empregos e riquezas em outro país, em virtude de uma legislação que hoje beneficia somente as indústrias estrangeiras a exportarem para o Brasil, sem que nenhuma dessas tenha compromisso com o bem-estar e com o progresso do nosso povo, pelo contrário, em especial neste momento de grave crise econômica".
Momento positivo e sólidos pedidos em carteira
De acordo com seus últimos resultados, a Taurus vive
um momento muito positivo, com recordes de vendas, de produção, de receita, de lucro bruto e de Ebtida, sendo que deverá conviver com esses números por
algum tempo, já que informa possuir pedidos “Back Order” de 852 mil armas,
equivalente a mais de um bilhão de reais só em armas produzidas no
Brasil, mais 208 mil armas em carteira na fábrica americana,
equivalente a mais de 162 milhões de reais, além de uma carteira
superior a 130 mil armas no Brasil.
Lamentável esta discriminação com a fabricação de armas no Brasil !
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