Pesquisar este portal

19 maio, 2020

Taurus Armas e CBC, duas brasileiras no centro do "big bang" de defesa indiano


*LRCA Defense Consulting - 19/05/2020 (atualizado em 20/05, às 08:40)

Em meados deste mês, como parte das grandes iniciativas para impulsionar a economia em um mundo pós-Covid-19, a Índia começou a implantar uma reforma histórica na produção e na aquisição de seu material de defesa.

Com um orçamento anual de defesa de cerca de US $ 70 bilhões, ficando atrás apenas dos EUA (US $ 732 bilhões) e da China (US $ 261 bilhões) em termos de gastos militares em todo o mundo, o gigante asiático é também o segundo maior comprador internacional de armas estrangeiras depois da Arábia Saudita, respondendo por 9,2% do total das importações mundiais durante o período 2015-2019.

No entanto, "isso não acontecerá mais", segundo declarou a Ministra das Finanças, Nirmala Sitharaman, no dia 16. As forças armadas terão agora que abandonar sua propensão a exigir sistemas e plataformas de armas estrangeiras de custo altíssimo, a menos que não possam ser fabricados na Índia por meio de joint ventures com armadores globais e empresas de aviação.

O "big bang" do setor de Defesa
Embora algumas armas de ponta continuem sendo importadas, a Índia interromperá a importação de armas que possam ser fabricadas de forma autônoma, a fim de reduzir a "enorme importação de defesa", com um impulso também na fabricação doméstica, mesmo nas peças caras das armas importadas. Além disso, haverá aumento dos limites do investimento direto estrangeiro (IDE), participação do setor privado em viagens no espaço e centros de exploração interplanetária, e de incubação de tecnologia para empresas privadas ligadas à pesquisa nuclear.

Um orçamento de capital separado, por sua vez, também será criado para comprar armas produzidas nacionalmente, disse ela, sem esclarecer se isso será adicional à alocação anual ou se será retirado do orçamento de capital das forças armadas.

As novas reformas significam um decisivo impulso governamental ao programa "Make in India" e estão sendo conhecidas como o "big bang" indiano do setor de Defesa, pois irão mudar radicalmente as relações de produção e de importação nessa delicada área da economia e da estratégia nacionais.




Taurus Armas e CBC estão aptas a participar do "big bang" indiano
Analistas do setor de defesa acreditam que as brasileiras Taurus Armas S.A. e CBC - Companhia Brasileira de Cartuchos estejam entre as empresas que mais podem se beneficiar da nova política, haja vista que ousaram firmar parcerias no país em momentos anteriores à pandemia e dominam dois setores congruentes em que há um alto índice de obsolescência no material fabricado na Índia: armas portáteis e munições.

Taurus Armas
A empresa gaúcha Taurus Armas firmou, em 27 de janeiro, uma joint venture na Índia com o Jindal Group visando a fabricação e a comercialização de armas portáteis em território indiano, no âmbito do programa "Make in India". O Jindal Group é o maior fabricante de aço da Índia e um dos dez maiores do mundo, detentor de um faturamento superior a US$ 24 bilhões e com 200 mil funcionários no mundo, sendo 45 mil deles somente na divisão de aço.

O aporte da empresa brasileira se dará por meio da transferência de tecnologia para o Jindal Group, ou seja, não haverá dispêndio financeiro por parte da Taurus.

O governo da Índia estava realizando uma milionária licitação internacional para adquirir uma grande quantidade de fuzis CQB (close-quarter-battle) para equipar suas forças policiais e militares. Com a nova política, o fuzil Taurus T4 (em suas três versões) a ser produzido no país, é o grande trunfo da empresa. Segundo a Taurus: “Existe uma expectativa de o governo comprar meio milhão de fuzis em cinco anos”.

A pistola padrão das forças armadas, paramilitares e policiais indianas é a Pistol Auto 9mm 1A, uma antiga e obsoleta pistola semiautomática de ação simples. Em virtude dessa obsolescência, a joint venture entre a Taurus Armas S.A. e o Jindal Group poderá também fabricar a nova pistola padrão para as forças armadas, paramilitares e policiais. Para estas áreas, a Taurus disponibiliza pistolas de última geração, como a TS9, por exemplo.

CBC
A paulista CBC estabeleceu, em 2018, uma joint venture com a empresa indiana Stumpp Schuele & Somappa Springs (SSS Springs) - maior produtora de molas de alta qualidade para o mercado automotivo e de defesa, dentro da iniciativa "Make in India". A nova empresa se chama Stumpp Schuele & Somappa Defense (SSS Defense) e sua futura fábrica será instalada na cidade de Anantapur, no estado de Andhra Pradesh, em área com mais de 100.000m2 já adquirida pela sociedade. A estimativa é iniciar a produção no final de 2021. Assim, a SSS Defense poderá se tornar a grande fornecedora de munições para armas portáteis de todos os principais calibres em uso pelas forças armadas e policiais do país, bem como para o mercado civil.

O fato de a SSS Defense vir a produzir munições (por meio da parceria com a CBC) será potencializado com a joint venture entre a Taurus Armas e o Jindal Group, pois esta última passará a produzir fuzis CQB (para uso a curta distância), pistolas, submetralhadoras, carabinas, espingardas e revólveres para as forças armadas, policiais e mercado civil, fechando um inédito círculo produtivo de alta tecnologia suficientemente forte para preencher o enorme hiato de obsolescência que há na Índia com relação a esses produtos.
 
Em consequência das joint ventures e do agora chamado "big bang" indiano, CBC e Taurus Armas já estão aptas a participar de um novo e promissor cenário no país asiático, podendo vir a assumir, no médio e longo prazos, uma posição de proeminência no mercado indiano de defesa/segurança ao oferecer soluções completas de alta tecnologia em termos de munições e armas portáteis, já que, apesar de as parcerias serem formadas com empresas distintas, o fato de a CBC ser a controladora da Taurus Armas tende a facilitar e potencializar os entendimentos entre ambas.

Logo da Taurus registrado na Índia em 11/05/2019


Taurus Armas poderá iniciar a produção na Índia em abril ou maio de 2021
Com previsão inicial de ter a produção iniciada em Set/Out de 2020, as consequências da pandemia fizeram com que a joint venture da empresa gaúcha na Índia alterasse seus planos.

Segundo o portal indiano especializado Defence Gyan, o início das atividades da empresa está previsto para março de 2021, com a produção entregando as primeiras armas em abril ou maio desse ano. (Atualização: após a publicação desta matéria, o portal tornou "privado" o vídeo.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque