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02 abril, 2020

Procura por armas de fogo aumenta nos EUA em meio à pandemia de coronavírus



O FBI, espécie de polícia federal dos Estados Unidos, relatou um aumento de 41% nas checagens de antecedentes por pessoas interessadas em comprar armas de fogo no mês de março em comparação com o mesmo mês do ano passado.

Os dados divulgados pela agência indicam que 3,7 milhões de checagens de antecendentes para compra de armas foram conduzidas em março, o maior número de verificações em um único mês desde que o FBI lançou o Sistema Nacional de Verificação Instantânea de Antecedentes Criminais (NICS) em 1998.

O estado que liderou essas verificações, com ampla vantagem, foi Illinois, com mais de meio milhão de checagens de antecedentes, seguido por Texas, Kentucky, Flórida e Califórnia.

De acordo com a lei dos EUA, os revendedores de armas licenciados pelo governo federal devem verificar os antecedentes de todos os compradores, independentemente de a compra ser feita em uma loja ou em uma feira de armas. Esse processo é feito em duas etapas.

Primeiro, o comprador apresenta seu documento de identidade ao vendedor e preenche um formulário do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos dos EUA (ATF, em inglês), que lista a idade, endereço, raça e qualquer histórico criminal do comprador.

Então, o vendedor envia as informações ao FBI e a agência verifica as informações do solicitante nos bancos de dados para garantir que um registro criminal não impeça a compra.

O aumento drástico na tentativa de compra de armas de fogo nos EUA ocorre ao mesmo tempo em que o país luta com a disseminação do novo coronavírus. Em meados de março, o presidente Donald Trump anunciou diversas diretrizes, incluindo uma recomendação de que os americanos fiquem em casa e evitem reuniões públicas e viagens não essenciais.

"Muitas vezes vemos picos sazonais nas vendas de armas de fogo, mas não é incomum ver um aumento nas vendas de armas com base em eventos e atitudes políticas ou sociais", disse Cara Herman, porta-voz da ATF. "Verificações de antecedentes e outras salvaguardas regulatórias estão em vigor para garantir que apenas pessoas elegíveis sob a lei federal possam obter e possuir armas de fogo", completou.

As estatísticas do FBI mostram que o número de verificações de antecedentes realizadas em todo o país aumentou constantemente desde que o sistema foi lançado há mais de duas décadas. As compras de armas também aumentaram historicamente após tragédias nacionais – ocorrência que alguns especialistas atribuem à necessidade de as pessoas se sentirem seguras.

"O aumento nas vendas de armas e munições durante esta crise é compreensível, pois o medo do desconhecido pode fazer com que as pessoas comprem coisas além do habitual", disse Jonathan Wackrow, analista em leis da CNN e ex-agente especial do Serviço Secreto dos EUA.

"Pesquisas mostram que, durante uma crise, se os indivíduos deixarem o medo, a ansiedade e a confusão se espalharem, provavelmente começarão a se sentir desamparados. Para muitos, a compra de uma arma resolve esse sentimento de desamparo", completou Wackrow.

Um porta-voz da Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês), uma das maiores organizações de lobby a favor das armas nos EUA, sugeriu que a preocupação com a segurança pessoal durante a pandemia de coronavírus é provavelmente o principal motivador para o aumento das verificações de antecedentes pelo FBI.

"As vendas de armas de fogo aumentam em tempos de incerteza porque os americanos sabem que sua segurança está em suas próprias mãos", disse Amy Hunter, porta-voz da NRA. "As manchetes nos mostram presos sendo soltos e socorristas serem instruídos a aplicar seletivamente as leis. Agora, mais do que nunca, é importante que as famílias tenham a capacidade e as ferramentas necessárias para se sentirem seguras e capazes de defender si mesmas."

Por outro lado, grupos a favor de um controle mais rígido das armas também alertam sobre o aumento das vendas de armas durante o que muitos consideram um período de medo e ansiedade nacionais sem precedentes.

"Adicionar mais armas ao cenário durante uma pandemia não tornará ninguém mais seguro, mas tornará o lobby das armas mais rico", disse Shannon Watts, fundador da Moms Demand Action, movimento que trabalha a favor de medidas que impeçam violência com armas de fogo.

"Esse aumento nas vendas de armas é profundamente preocupante, principalmente para milhões de crianças que agora estão em casa com armas guardadas de forma insegura, para mulheres que moram com agressores e para qualquer pessoa que esteja lutando econômica e psicologicamente [contra os efeitos da crise]", disse.

As questões levantadas por Watts foram repetidas por outros ex-funcionários da área de segurança, que veem o aumento de armas de fogo como uma adição desnecessária a uma situação já volátil.

"Minha maior preocupação envolve o número potencial de pessoas que compram armas pela primeira vez. Pessoas que, antes de março, não achavam que precisavam de uma arma", disse David Chipman, um agente especial aposentado da ATF e consultor sênior da organização Giffords que combate a violência armada.

"Agora, em um momento de pânico, eles estão correndo para uma loja e comprando uma arma letal que não sabem usar e não sabem armazenar com segurança. Infelizmente, milhares de americanos colocam suas famílias em risco em um momento em que eles simplesmente querem estar seguros."

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