Pesquisar este portal

15 agosto, 2019

Taurus tem 11.000 pedidos em carteira aguardando a liberação

Fabricante de armas e munições reverteu prejuízo com novos modelos e reestruturação de dívida

Por Weruska Goeking, Valor Investe — São Paulo (Com Camila Maia, do Valor)
15/08/2019


O lançamento de cinco modelos de revólveres e pistolas no mercado brasileiro de abril a junho foi uma das principais estratégias da Taurus Armas (FJTA3; FJTA4) para reverter o prejuízo de R$ 93,8 milhões do segundo trimestre de 2018 para um lucro de R$ 43,6 milhões no mesmo período deste ano.

A relevância dos lançamentos da fabricante de armas e munições fica mais evidente ao constatar que, no primeiro semestre de 2019, a venda de novos produtos foi responsável por 57% da receita líquida da companhia, que também atende o mercado internacional.

Diante desses dados de retrovisor positivos, é compreensível o otimismo de Salesio Nuhs, presidente da Taurus, com os trimestres vindouros.

Embora não possa traçar estimativas, por se tratar de uma empresa de capital aberto listada em bolsa, Nuhs acredita que a regulamentação de três decretos publicados pelo governo em junho sobre porte de armas de fogo deve permitir um “crescimento importante” da Taurus.

Após polêmica com dois decretos de maio, o presidente Jair Bolsonaro editou três novos decretos em junho, que ampliaram a potência das armas que podem ser liberadas para o cidadão comum, com a determinação de que o Exército regulamente as regras em um prazo de 60 dias — que vence em 25 de agosto.

As mudanças incluem a liberação de armas de calibres que antes eram de uso apenas de forças de segurança, como o Exército e a Polícia Rodoviária Federal.

Com isso, a procura por revólveres e pistolas ainda não autorizados para comercialização no país, que podem ser liberados após o Exército regulamentar o decreto, já forma uma fila de 11 mil pedidos de armas à Taurus.

Após a entrega da documentação necessária, as armas levam três dias para chegar às mãos dos compradores, no máximo.

Entre os pedidos da Taurus estavam pelo menos dois mil fuzis modelo T4. Isto porque Salesio Nuhs contou ao Valor Investe sobre a existência dessa "fila de espera" em maio deste ano. A empresa preferiu não detalhar a quantidade de fuzis já solicitados até hoje.

Segundo Nuhs, os pedidos de fuzis foram feitos, majoritariamente, por colecionadores e atiradores esportivos.

No site da Taurus, a descrição do fuzil T4 informa que o armamento é "ideal para o uso militar e policial". O fuzil custa entre R$ 8 mil e R$ 10 mil, dependendo do ICMS do estado.

Achou caro? Salesio Nuhs explica os impostos envolvidos nos preços das armas nesta entrevista.

"A liberação dessa arma é um desejo dos atiradores brasileiros, e junto com isso [o fuzil] vem outros calibres, o que deixa a Taurus muito feliz. Pela primeira vez vamos poder oferecer todos os portfólios de produtos", conta o executivo em entrevista feita ontem (14).

Hoje (15) o "desejo dos atiradores brasileiros" ficou mais distante. Uma portaria do Comando do Exército publicada mais cedo no Diário Oficial listou as armas que terão uso permitido e restrito, conforme classificação técnica. Os fuzis T4, de calibre, 5.56x45 mm, foi liberado apenas para profissionais da área de segurança.

Além da fila de armamento já existente e que está sendo liberado no país com o decreto de Bolsonaro, a Taurus tem 183 novos modelos de armas esperando por homologação para entrar no mercado brasileiro. Segundo Nuhs, esse processo leva de 18 a 24 meses.

Operação no exterior
Além da expectativa de avanço no mercado brasileiro, a Taurus inaugura hoje (15) sua fábrica na Geórgia, EUA, o que deve dobrar sua capacidade de produção americana.

Atualmente, a Taurus produz 4.173 armas por dia no Brasil e 5 mil somando com sua unidade nos Estados Unidos.

O armamento é feito aqui, mas 80% da receita da companhia vem de exportações.

Pagando os boletos
Além do lançamento de produtos, a reorganização das dívidas é apontada por Salesio Nuhs como um dos pilares da reestruturação da empresa desde que assumiu o negócio, em janeiro de 2018.

Em junho, a Taurus realizou o pagamento da primeira parcela do valor principal da dívida, de R$ 58,7 milhões, após a renegociação firmada há cerca de um ano com o sindicato de bancos.

Segundo Nuhs, esse pagamento foi possível devido ao aumento da geração operacional de caixa nos últimos trimestres e a estratégia de aumentar o capital da companhia.

“Grande parte dos recursos usados para pagamento da dívida veio da nossa operação. Hoje a companhia é geradora de caixa, com operação muito eficiente”, disse Nuhs.

A Taurus ainda tem mais três etapas da dívida a vencer - em julho e outubro de 2021 e em outubro de 2022.

Para o pagamento de julho de 2021, a companhia prepara a venda do terreno da antiga sede em Porto Alegre e de sua operação de capacetes.

“Temos interessados nos dois ativos, estamos sendo bastante exigentes na negociação”, disse o presidente da companhia, destacando que aguarda “melhores ofertas”. O terreno e a fábrica têm valor contábil de cerca de R$ 250 milhões no total.

Polêmicas
Um dos desafios da gestão de Salesio Nuhs é restaurar a imagem e a credibilidade da marca Taurus junto aos consumidores após acidentes com armas que dispararam sozinhas.

Os primeiros relatos de disparos acidentais com pistolas da empresa começaram a circular em 2012 e rendem processos, inclusive nos EUA, até hoje.

O executivo conta que vem aprimorando sua produção e automatizando os processos desde 2016 para evitar que esses episódios se repitam.

“Minha linha de montagem não tem ferramentas, só tem dispositivos que permitem que o funcionário monte o conjunto, como se fosse um Lego”, disse.

Recentemente, notícias sobre falhas em suas armas voltaram a ameaçar sua reputação. Em 24 de julho, uma decisão publicada Diário Oficial do Estado de São Paulo suspendia a companhia de participar de processos de licitação do governo estadual por dois anos.

O motivo? Falhas no funcionamento de armas de fogo do tipo carabina, modelo Taurus FAMAE CT30, calibre 30.

Em nota, a Taurus afirma que o processo administrativo foi instaurado em 2014 e trata de aquisição de carabinas dos anos de 2007 e 2011, portanto, muito antes da gestão atual.

"Estranhamente esse processo ficou parado por mais de 2 anos sem qualquer movimentação até que, coincidentemente, a punição indevida ocorre no momento em que está em curso processo de licitação internacional n. CMB-340/0006/19 da Polícia Militar para aquisição de 40.000 pistolas", informou a companhia.

Em novo episódio, em 29 de julho, a Polícia Militar do Distrito Federal determinou o recolhimento imediato de 12.438 pistolas da marca compradas entre 2006 e 2011. Uma inspeção em 172 armas apontou defeitos em 100% delas.

"Isso é mais uma daquelas coisas curiosas que acontecem contra a Taurus. Num dia dá punição para a Taurus sem ouvir a empresa. Mas a punição não está efetiva, as armas não foram recolhidas. A polícia do Distrito Federal usa armas Taurus", afirma Salesio Nuhs.

O executivo defende ainda que não existe nenhum fato novo envolvendo as armas produzidas pela Taurus e que vem realizando manutenção preventiva no armamento desde o início de sua gestão.

"É uma coisa requentada de forma absurda e sem que a Taurus tome conhecimento. Não temos nessa nova gestão nenhum fato novo. Não significa que não resolvemos o problema do passado, mas fizemos revisão de forma proativa", responde o executivo.

(Com Camila Maia, do Valor)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque