Plataforma de pistolas T Series, com 12 modelos nas versões TS e TH |
Em
fevereiro deste ano, a Taurus assinou um memorando de entendimentos, não
vinculante, para permitir o estudo de viabilidade da constituição de uma joint venture na Índia, com uma grande
empresa do ramo siderúrgico local. O objetivo, se obtidas todas as autorizações
estatutárias e legais, será a fabricação e a comercialização de armas no
território indiano, de acordo com programa denominado "Make in India", que visa
desenvolver a indústria local, gerando empregos, divisas e tecnologia para o
país.
A
partir da assinatura do memorando do documento, as partes teriam até 180 dias
para concluir os estudos de criação da joint
venture e o plano de negócios a ser desenvolvido. Durante este período, a
empresa local participaria das licitações com os produtos Taurus para as Forças
Armadas e Policiais e seria estabelecida a participação de cada uma das partes
envolvidas, bem como as demais condições para efetivação da joint venture.
Através
de um Fato Relevante enviado à B3 (Bolsa de Valores) após o fechamento do
pregão de 22 de agosto, a empresa comunicou ao mercado que "foi
assinado um adendo ao Memorando de Entendimentos (MoU), prorrogando seu prazo
de validade por mais três (03) meses, a fim de permitir as finalizações do
estudo de viabilidade e da constituição de uma joint venture na Índia, com
uma grande empresa do ramo siderúrgico local. A continuidade nas negociações
para celebração desse Acordo é mais um passo importante na estratégia global da
Taurus no processo de reestruturação baseado em rentabilidade sustentável,
qualidade e melhora dos indicadores financeiros e operacionais, além do forte
investimento no desenvolvimento de novos produtos e tecnologias". [grifos do editor]
Fabricação de armas
na Índia
A
fabricação de armas e munições na Índia é regulada por um sistema de
licenciamento estabelecido pela Lei de
Indústrias (Desenvolvimento e Regulamentação) de 1951 e pela Lei de Armas de
1959 / Regras de Armas de 2016, sob domínio completo do Governo. Até 2001, a
fabricação de armas de pequeno porte para as forças armadas, paramilitares e
policiais estava restrita à produção de empresas pertencentes ao Departamento
de Defesa. Em 2001, o governo permitiu a participação de 100% do setor privado
indiano na fabricação de armas, sujeita a licenciamento, mas foi só a partir de
2015, através do Arms Act Amendment Bill, que o setor privado começou
efetivamente a poder participar da indústria de defesa indiana.
Em
março de 2016, o Kalyani Group e a Fabbrica D'armi Pietro Beretta SpA, da
Itália, iniciaram discussões para uma joint venture com a finalidade de
fabricar armas leves para as forças armadas e policiais. Ao que tudo indica, o
projeto não foi adiante.
Em 2017, a Beretta adquiriu a marca Victrix Armaments da empresa italiana Rottigni. Em associação com a empresa americana Barrett, essas duas companhias vão produzir cerca de 6.000 fuzis sniper “com mira telescópica e acessórios” para a Índia. Segundo noticiou o site The Firearm Blog, em 19/02/2019, a venda seria iniciada com uma entrega de emergência de 24 fuzis para “muito em breve".
Em 2017, a Beretta adquiriu a marca Victrix Armaments da empresa italiana Rottigni. Em associação com a empresa americana Barrett, essas duas companhias vão produzir cerca de 6.000 fuzis sniper “com mira telescópica e acessórios” para a Índia. Segundo noticiou o site The Firearm Blog, em 19/02/2019, a venda seria iniciada com uma entrega de emergência de 24 fuzis para “muito em breve".
Fuzis e
metralhadoras
Em
julho de 2018, foi estabelecida a primeira fábrica privada indiana de armas
leves, localizada em Malanpur / Madhya Pradesh, em uma joint venture
entre o conglomerado de defesa indiano Punj Lloyd com a Israel
Weapons Industries (IWI), a fim de fabricar o fuzil de assalto X95,
o fuzil sniper Galil, o fuzil de assalto Tavor, a metralhadora Negev e o fuzil
de assalto Ace. As armas serão fabricadas na Índia e exportadas, inclusive para
Israel. Algumas dessas armas já são utilizadas pelas forças e grupos especiais
indianos.
Em
abril de 2018, Índia e Rússia começaram a discutir a formação de uma joint
venture para fabricar o fuzil russo AK-203, última versão do famoso AK-47
Kalashnikov, a fim de dotar as forças armadas, paramilitares e policiais do
país, substituindo o obsoleto e problemático fuzis de assalto INSAS utilizado
desde a década de 90 e produzido por uma estatal indiana. Após diversas tratativas,
a parceria evoluiu bem, mas só foi efetivada quase um ano depois, com a
"pedra fundamental" da nova empresa sendo lançada somente em março de
2019.
Ambas
as iniciativas estão dentro do programa "Make in India",
destinado a estabelecer e fomentar a produção dentro do país.
Pistolas
A
pistola padrão das forças armadas e policiais é a Pistol Auto 9mm 1A, uma
antiga e obsoleta pistola semiautomática de ação simples, cópia licenciada da
pistola Inglis 9mm (Browning Hi-Power), fabricada sob licença na Índia pela
empresa estatal Rifle Factory Ishapore desde 1981. A Hi-Power foi
descontinuada em 2017 pela Browning Arms, mas permanece em produção sob
licença e ainda é utilizada como pistola padrão pelas forças armadas e
policiais de diversos países.
A antiga e obsoleta Pistol Auto 9mm 1A, pistola padrão das forças armadas e policiais indianas |
As
pistolas em uso pelas forças e grupos especiais indianos são,
predominantemente, a Glock 17 (forças especiais), a Beretta 92 (forças
especiais), a FN Five-seven (Grupo de Proteção Especial) e a SIG Sauer P226
(Guarda de Segurança Nacional), importadas da Áustria, da Itália, da Bélgica e
da Alemanha, respectivamente.
Um mercado
bilionário
Em
virtude de a pistola padrão das forças armadas, paramilitares e policiais ser a
obsoleta Pistol Auto 9mm 1A, a joint venture entre a Taurus Armas S.A. e
uma "grande empresa do ramo siderúrgico indiana" pode representar um
negócio bilionário para a empresa brasileira, pois sua produção na Índia pode
ter como objetivo fabricar a nova pistola padrão para o mercado militar,
paramilitar e policial desse país.
O
segundo país mais populoso do mundo (1,37 bilhão de pessoas) é considerado
também uma das maiores potências militares do planeta, atrás apenas dos EUA,
Rússia e China. Com mais de 1,3 milhão de homens e mulheres a serviço da nação,
a Índia possui a quarta maior força militar do mundo em termos de efetivo,
segundo levantamento da Global Firepower. Seu orçamento de defesa para
2018 foi de 45 bilhões de dólares, embora haja fontes que situem os gastos
militares do país nesse ano entre 62 e 65,5 bilhões de dólares.
No
entanto, as forças armadas da Índia se encontram em um estado alarmante. Se
combates intensos tivessem início amanhã, a Índia só poderia manter suas tropas
abastecidas de munição por 10 dias, de acordo com estimativas do governo. E 68%
do equipamento do exército são tão velhos que recebem oficialmente a designação
de “antiguidades”.
Na
área de Segurança Pública, a Índia possui 1,4 milhão de policiais e cerca de 7
milhões de agentes de segurança particulares, sendo um dos países do mundo em
que o efetivo de agentes de segurança pertencentes às empresas particulares do
setor supera em muito o efetivo policial. Seja como for, o número de agentes e
policiais armados impressiona.
Como
consequência da obsolescência de grande parte do material bélico nacional, além
de pistolas de última geração, como a TH9, TS9 e PT57SC, a Taurus poderá
fornecer também outras armas de seu moderno mix de produtos, como o fuzil T4 e
a submetralhadora SMT, especialmente desenvolvidas para o mercado militar e
policial.
Fuzil T4 |
Submetralhadora SMT |
Caso
a joint venture se concretize, o padrão indiano estabelecido com Israel
e com a Rússia determinou, em linhas gerais, um controle de 51% para o país e
49% para a empresa internacional, podendo se repetir com a empresa brasileira.
Além
de poder suprir parte do vasto mercado interno desse país, os produtos da
Taurus passariam a dispor de uma “vitrine” mundial inédita, devido à magnitude
do empreendimento e às possibilidades de exportação que se abririam.
Assim,
é de se esperar que, se tudo der certo, a Taurus possa dar o maior salto
produtivo de todos os tempos, ingressando em uma inédita e próspera Era Taurus.
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