 |
Caça Su-57 Felon, de quinta geração |
*Bulgarian Military, por Boyko Nikolov - 28/03/2025 (*atualizado às 21h43)
A partir de 1º de abril (até 04), a agência estatal russa de exportação de armas Rosoboronexport participará da exposição de defesa e aviação LAAD 2025 (LAAD Defence & Security 2025) no Rio de Janeiro, Brasil, exibindo uma variedade de equipamentos militares avançados.
Entre os equipamentos em exposição estarão o caça Su-57 de quinta geração, vários helicópteros, o tanque de batalha principal T-90MS, o veículo de apoio de tanques BMPT, o sistema de defesa aérea S-400, os sistemas portáteis de defesa aérea Igla e embarcações navais como o navio patrulha Projeto 22160.
O evento, um dos principais encontros de tecnologia de defesa da América Latina, fornece uma plataforma para a Rosoboronexport não apenas exibir suas últimas ofertas, mas também explorar potenciais parcerias industriais na região. A agência sinalizou interesse em expandir sua presença na América Latina, levantando questões sobre a viabilidade e as implicações de tais ambições.
A Rosoboronexport, uma subsidiária da Rostec State Corporation, tem uma história bem estabelecida como a única intermediária da Rússia para a exportação e importação de produtos militares e de uso duplo. Sua presença na LAAD 2025 ressalta uma estratégia mais ampla para aprofundar os laços com as nações latino-americanas, uma região onde o equipamento militar russo encontrou um ponto de apoio nas últimas décadas.
O Su-57, um caça furtivo projetado para competir com equivalentes americanos como o F-35, provavelmente atrairá bastante atenção, assim como o S-400, um sistema de defesa aérea de longo alcance que tem sido um dos pilares do catálogo de exportação da Rússia.
O T-90MS, uma versão atualizada do tanque T-90 testado em batalha, e o BMPT, conhecido como Terminator por seu papel no suporte a unidades blindadas, refletem a ênfase da Rússia na tecnologia de forças terrestres. Enquanto isso, a inclusão de ativos navais como o navio Project 22160 destaca um esforço para atrair países com necessidades de segurança marítima.
 |
Tanque principal de batalha T-90MS |
A participação da agência acontece em um momento em que a América Latina é cada vez mais vista como um mercado viável para exportações de defesa. De acordo com uma declaração da Rosoboronexport relatada pela agência de notícias russa TASS, a empresa está preparada para discutir “novos projetos de cooperação industrial” adaptados às tendências modernas do mercado.
Isso alimentou especulações sobre a possibilidade de estabelecer instalações de produção na região, um movimento que poderia mudar a dinâmica do comércio global de armas. Embora nenhum acordo concreto tenha sido confirmado publicamente, a ideia se alinha com os esforços passados da Rússia para localizar a produção em países parceiros, uma estratégia que reduz custos e fortalece os laços bilaterais.
Historicamente, a Rússia tem mantido cooperação técnico-militar com várias nações latino-americanas. O Brasil, anfitrião da LAAD 2025, é parceiro desde 1994, quando assinou um contrato para Igla MANPADS (Man-portable air-defense system), sistemas portáteis de defesa aérea projetados para combater aeronaves de voo baixo.
Um marco mais significativo ocorreu em 2008 com um acordo intergovernamental que abriu caminho para a entrega de helicópteros Mi-35M, com um centro de serviços no Brasil para manutenção.
“Temos um enorme potencial para aprimorar ainda mais a cooperação com o Brasil”, disse Sergey Ladygin, vice-diretor geral da ROE, durante um evento anterior da LAAD em 2015, conforme citado no site oficial da empresa. Esse sentimento parece persistir, com a agência agora de olho em uma colaboração industrial mais ampla.
Além do Brasil, países como Venezuela e Peru também foram clientes. A Venezuela, em particular, adquiriu hardware russo substancial, incluindo tanques T-72 e sistemas de defesa aérea S-300, em meio ao seu alinhamento próximo com Moscou. O Peru, enquanto isso, opera uma frota de helicópteros Mi-8 e Mi-17, uma prova da durabilidade dos designs da era soviética que a Rússia continua a modernizar.
Essas relações fornecem uma base para as ambições da Rosoboronexport, mas a perspectiva de produção local introduz uma nova camada de complexidade. Estabelecer locais de fabricação exigiria investimento significativo, alinhamento político e um ambiente econômico estável — fatores que variam amplamente na região.
 |
Igla MANPADS no Exército Brasileiro |
A noção de produzir armas na América Latina não é sem precedentes. A Rosoboronexport buscou iniciativas semelhantes em outros lugares, notavelmente na Índia, onde colaborou em projetos como o sistema de mísseis BrahMos, uma joint venture com a Organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa da Índia.
Em uma declaração de fevereiro de 2025 relatada pela TASS, o CEO da agência, Alexander Mikheev, observou que contratos no valor de US$ 50 bilhões foram assinados com a Índia desde 2005, com a Rússia mantendo uma participação de 30% no mercado de armas indiano.
Esse modelo de coprodução pode servir de modelo para a América Latina, embora os orçamentos menores de defesa e o cenário político diversificado da região apresentem desafios únicos.
Analistas veem oportunidades e obstáculos nessa abordagem. “A América Latina tem uma necessidade crescente de sistemas de defesa modernos, mas a questão é se os países podem pagar pela infraestrutura para produção”, disse Maria Gonzalez, especialista em indústria de defesa do Center for Strategic Studies, sediado em Washington.
Ela destacou o setor aeroespacial brasileiro, liderado por empresas como a Embraer, como um parceiro potencial para transferências de tecnologia russas, mas alertou que restrições econômicas e a influência dos EUA na região podem complicar tais acordos.
Os Estados Unidos, um player dominante no mercado de armas do Hemisfério Ocidental, fornecem equipamentos como helicópteros Black Hawk e jatos F-16 para países como Colômbia e Chile, muitas vezes vinculando as vendas a parcerias de segurança mais amplas.
Na LAAD 2025, o hardware em exposição oferecerá um vislumbre das capacidades tecnológicas da Rússia. O Su-57, com seus aviônicos avançados e recursos stealth, está posicionado como um rival do F-35, embora sua produção tenha sido limitada em comparação com sua contraparte americana.
A Lockheed Martin, fabricante do F-35, relatou a entrega de mais de 900 unidades até o início de 2025, de acordo com dados da empresa, enquanto estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo sugerem que menos de 30 Su-57 estão operacionais.
O S-400, por sua vez, tem um alcance de até 400 quilômetros e foi utilizado em conflitos como o da Síria, recebendo elogios por sua eficácia, mas também sendo criticado por seu alto custo e demandas de manutenção.
 |
Sistema de mísseis antiaéreos S-400 |
O T-90MS, uma evolução da série T-90, incorpora blindagem e sistemas de controle de fogo aprimorados, tornando-o um concorrente contra tanques ocidentais como o M1 Abrams, que os EUA exportaram para aliados no Oriente Médio e na Europa Oriental.
O BMPT, projetado para proteger tanques em combate urbano, preenche um nicho de mercado que poucos concorrentes abordam diretamente, embora sua utilidade dependa das necessidades específicas da doutrina militar de um comprador. O Igla MANPADS, um sistema leve, disparado no ombro, oferece uma alternativa econômica a sistemas como o Stinger, fabricado nos EUA, que ganhou destaque durante o conflito na Ucrânia.
 |
BMPT Terminator |
Por fim, o navio patrulha Projeto 22160, com seu design modular e capacidade para drones, tem como alvo marinhas que buscam embarcações versáteis e de médio porte, uma categoria na qual compete com ofertas de construtores navais europeus, como o Naval Group da França.
O avanço da Rosoboronexport na América Latina também carrega conotações geopolíticas. As exportações militares da Rússia frequentemente servem como uma ferramenta de diplomacia, contrariando a influência ocidental em regiões onde os EUA têm poder. "Isso tem tanto a ver com política quanto com economia", disse James Carter, um ex-funcionário do Pentágono agora no Atlantic Council.
Ele observou que, embora as vendas de armas da Rússia para a América Latina tenham totalizado US$ 2,5 bilhões em 2020, de acordo com os próprios números da Rosoboronexport, o mercado continua sendo uma fração do total global, onde os EUA lideraram com US$ 138 bilhões em exportações naquele ano, segundo o Departamento de Estado dos EUA. Ainda assim, mesmo ganhos modestos podem reforçar a presença regional da Rússia.
 |
Navio patrulha Projeto 22160 |
Para os países latino-americanos, o apelo do equipamento russo está em sua acessibilidade e confiabilidade. O helicóptero Mi-171Sh, por exemplo, é um burro de carga adequado ao terreno acidentado dos Andes ou da Amazônia, onde alternativas americanas podem vir com etiquetas de preços mais altas ou restrições de uso final mais rigorosas.
No entanto, qualquer movimento em direção à produção exigiria mais do que apenas o interesse do comprador. “Você precisa de mão de obra qualificada, cadeias de suprimentos e vontade política”, explicou Gonzalez. “ O Brasil pode ter capacidade, mas nações menores como Bolívia ou Equador teriam dificuldades.”
A exposição no Rio de Janeiro também servirá como um campo de testes para as mensagens da Rosoboronexport. A agência enfatizou que seus sistemas exibidos, incluindo o Su-57 e o S-400, foram “atualizados de acordo com o feedback dos militares” envolvidos nas operações em andamento da Rússia, uma referência ao conflito na Ucrânia, conforme relatado pela TASS.
 |
Helicóptero Mi-171Sh |
Essa marca testada em combate pode repercutir entre potenciais compradores, embora corra o risco de afastar outros cautelosos em se associar a Moscou em meio a sanções internacionais.
À medida que a LAAD 2025 se desenrola, o foco se estenderá além do hardware para as discussões realizadas nos bastidores. A delegação da Rosoboronexport deve se reunir com representantes do Brasil e outros participantes regionais, explorando caminhos para cooperação.
Ainda não se sabe se essas negociações produzirão resultados tangíveis, mas a carteira de pedidos da agência — avaliada em US$ 57 bilhões em 44 países no final de 2024, segundo as declarações de Mikheev — sugere que ela tem os recursos para perseguir metas ambiciosas.
Por enquanto, o evento marca um passo calculado na tentativa da Rússia de expandir sua influência na América Latina, um sistema de armas por vez. Os próximos meses revelarão se essa vitrine se traduzirá em contratos, fábricas ou simplesmente uma voz mais alta em um mercado lotado.
* O pessoal do portal Aeroin alerta que a Rússia fala em modelos, mas são modelos em escala.
*As seis imagens, fora a primeira, forma inseridas por LRCA Defense Consulting para fins meramente ilustrativos