
*LRCA Defense Consulting - 15/10/2025
Em uma missão histórica que está sendo realizada entre os dias 15 e 17 de
outubro de 2025, o Vice-Presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, acompanhado do
Ministro da Defesa José Múcio Monteiro Filho, realizou uma visita oficial a
Nova Délhi, Índia, num momento que marca um significativo avanço nas relações
bilaterais entre os dois países, particularmente no setor de defesa. A comitiva
brasileira foi recebida pelo Ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, e
juntos apresentaram e discutiram sistemas e plataformas nacionais de armamento,
sinalizando uma nova fase de cooperação tecnológica, industrial e estratégica.
Contexto geopolítico e importância da cooperação bilateral
Brasil e Índia compartilham visões e interesses convergentes
ao buscar autonomia estratégica e tecnológica na defesa, reforçando uma
parceria iniciada em 2006 e incrementada em múltiplos fóruns multilaterais como
BRICS, G20 e IBAS. Segundo declarações do Vice-Presidente Alckmin, a parceria é
fundamental para diversificação e fortalecimento da indústria de defesa dos
dois países, reduzindo dependências externas e ampliando as capacidades de
inovação e produção nacional.
“A cooperação entre Brasil e Índia não é apenas comercial, é
estratégica. Estamos construindo um caminho que une tecnologia, defesa e
sustentabilidade, fortalecendo nossas indústrias e a autonomia dos nossos
povos”, declarou Alckmin em Nova Délhi.
Projetos estratégicos e aspectos técnicos em foco
Dois casos emblemáticos movimentam as negociações: o
cargueiro militar multimissão C-390 Millennium, da Embraer, e o sistema indiano
de mísseis superfície-ar Akash.
A Embraer promove ativa discussão para venda e possível
coprodução local do C-390 Millennium, inclusive com interlocuções junto à
Mahindra Defence Systems, componente da iniciativa “Make in India”. A Força
Aérea Indiana manifestou interesse inicial em até 80 unidades da aeronave,
projetada para transporte logístico, reabastecimento em voo e evacuação
aeromédica, entre outras funções. A transferência de tecnologia e produção
local fazem parte das tratativas, alinhadas à estratégia indiana de impulsionar
a indústria nacional.
O sistema Akash, desenvolvido pelo órgão indiano DRDO,
representa uma solução de defesa aérea para médias altitudes, destacando-se
pelo alcance efetivo de até 30 km e capacidade de engajamento em múltiplos
alvos simultaneamente. Ele está em fase de avaliação no Brasil para reforçar a
defesa aérea integrada, com possibilidade de aquisição da versão Akash-NG, que
contém avanços em radar e capacidade de interceptar ameaças modernas como
drones e mísseis de cruzeiro.
Além destes, a Índia apresentou tecnologias complementares,
como sistemas embarcados em aeronaves de alerta e controle aéreo (AEW&C)
desenvolvidos com a Embraer no programa EMB-145, veículos blindados WhAP,
torpedos avançados e sensores de guerra eletrônica, ilustrando o leque
tecnológico para cooperação.
Cooperação industrial e intercâmbio militar ampliados
A visita também reforçou programas conjuntos de treinamento,
interoperabilidade e manutenção. Oficiais das duas marinhas analisam cooperação
na manutenção dos submarinos franceses Scorpène, que equipam navios brasileiros
e indianos, e discutem compartilhamento de estratégias de guerra naval e
antissubmarino.
Na área aérea, a Força Aérea Indiana tem adotado
progressivamente aeronaves brasileiras convertidas para missões de vigilância e
alerta avançado, resultando em intercâmbio operacional e desenvolvimento
conjunto de sistemas de missão.
Desdobramentos e perspectivas futuras
Com a aproximação da visita oficial do Presidente Lula à
Índia, programada para o início de 2026, esta missão configura-se como preparação e
consolidação do plano estratégico para ampliar o comércio bilateral para US$ 20
bilhões até 2030, apoiado em políticas como a expansão do Acordo de Comércio
Preferencial Mercosul-Índia.
O Ministro Rajnath Singh destacou em suas declarações que a
Índia vê no Brasil um parceiro confiável para a produção conjunta e
desenvolvimento de sistemas de defesa, ressaltando a importância da equidade
tecnológica e da cooperação para enfrentar os desafios globais da segurança e
inovação.
Neste contexto, a cooperação Brasil-Índia simboliza a
atuação conjunta das maiores democracias do Sul Global, buscando a construção
de um eixo de desenvolvimento tecnológico e estratégico alternativo, que une as
capacidades industriais brasileiras e indianas para responder às demandas do
século XXI.
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