Startup brasileira Moya Aero pode liderar transição tecnológica na defesa nacional
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| Imagem meramente ilustrativa |
*LRCA Defense Consulting - 14/12/2025
Os conflitos contemporâneos na Ucrânia e no Oriente Médio revelaram uma verdade estratégica incontornável: a mobilidade aérea autônoma não é mais um luxo militar, mas uma necessidade operacional. Enquanto uma startup israelense e a indústria chinesa - apenas como dois exemplos recentes - avançam rapidamente no desenvolvimento de drones de carga pesada para uso militar, o Brasil possui uma oportunidade singular de entrar nessa corrida tecnológica através da Moya Aero, empresa sediada em território nacional que está desenvolvendo uma solução inovadora de transporte aéreo não tripulado.
A revolução silenciosa das linhas de suprimento
A logística militar sempre foi o eixo em torno do qual giram a maioria das vitórias e derrotas nos campos de batalha. Hoje, porém, esse paradigma está
sendo reescrito por aeronaves autônomas capazes de transportar mantimentos,
munição, equipamentos médicos e suprimentos críticos diretamente para as tropas
em combate, sem expor soldados aos riscos das rotas terrestres tradicionais.
O fenômeno é global e acelerado. De Israel aos Estados
Unidos, da China ao Reino Unido, potências militares investem bilhões no
desenvolvimento de plataformas aéreas não tripuladas capazes de revolucionar a
cadeia logística militar. O Brasil, através da Moya Aero, tem a oportunidade de
participar ativamente desta transformação com tecnologia genuinamente nacional.
Panorama global: a corrida tecnológica dos drones de
carga militar
- Estados Unidos: experiência de combate e inovação
contínua
Os Estados Unidos lideram em experiência operacional
comprovada. O Kaman K-MAX (CQ-24A), helicóptero não tripulado capaz de
transportar até 2.700 kg, já acumulou missões reais de combate no Afeganistão
entre 2011 e 2013. Durante 33 meses de operação, o sistema transportou mais de
2 milhões de quilos de suprimentos, substituindo 900 comboios terrestres
vulneráveis e salvando incontáveis vidas ao eliminar a exposição de soldados às
rotas minadas.
O sucesso do K-MAX inspirou novos desenvolvimentos. A Kaman apresentou o KARGO, drone compacto projetado desde o início como sistema autônomo, capaz de transportar 360 kg e compacto o suficiente para caber em containers ISO padrão. A empresa Grid Aero, por sua vez, desenvolveu o Lifter Lite, verdadeira "caminhonete voadora" com capacidade entre 450 e 3.600 kg e alcance impressionante de aproximadamente 2.400 km, especificamente projetado para operações no Teatro do Pacífico.
Outra solução inovadora é o Silent Arrow GD-2000, drone planador que pode ser lançado de aeronaves de carga como o C-17, transportando 159 kg sem necessidade de infraestrutura de pouso preparada. A versão motorizada em desenvolvimento promete revolucionar o conceito de entrega de última milha em teatros de operação.
- China: dominância em carga pesada
A China demonstra ambições claras de dominar o segmento de
carga pesada. O SUNNY-T2000, com capacidade de 2 toneladas e alcance superior a
1.000 km, já saiu da linha de produção em Shenyang. Mas é o Air White Whale
W5000 que impressiona: com capacidade para impressionantes 5 toneladas de
carga, alcance de 2.600 km e velocidade de cruzeiro de 526 km/h, tornou-se o
maior drone de carga não tripulado do mundo. Apresentado no Airshow China 2024
em Zhuhai, o W5000 utiliza turboélices AEP-100 desenvolvidos nacionalmente,
demonstrando o avanço chinês em autonomia tecnológica.
O arsenal chinês inclui ainda o Tengen TB-001D Scorpion D (1.500 kg de capacidade) e o Feihong-98, biplano baseado no veterano An-2 soviético, já realizando voos comerciais de carga autônomos. A diversidade de plataformas chinesas revela uma estratégia abrangente cobrindo todo o espectro de necessidades logísticas militares.
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| Drone de carga chinês SUNNY-T2000 |
- Reino Unido: agilidade tática e uso comprovado
Os britânicos apostam em plataformas menores e mais ágeis. A
Malloy Aeronautics, recentemente adquirida pela gigante BAE Systems,
desenvolveu a família T-150 e T-650. O T-150, com capacidade de 68 kg, já está
em uso operacional pelos Royal Marines e foi fornecido à Ucrânia, onde provou
seu valor entregando sangue, munição e suprimentos médicos sob fogo inimigo.
O T-650 representa o próximo passo evolutivo: 300 kg de capacidade, velocidade de 140 km/h e propulsão 100% elétrica. Durante demonstrações, o sistema transportou torpedos Sting Ray e foi armado com três mísseis Brimstone (150 kg total), evidenciando versatilidade para missões além da simples logística. A entrada em serviço está prevista para 2025.
- Israel: hidrogênio e autonomia em combate
Israel, forjado em conflitos constantes, desenvolveu
soluções especializadas. A startup Heven Drones, fundada por veterano do
conflito em Gaza, criou drones movidos a células de hidrogênio capazes de
transportar 35 kg com autonomias entre 100 minutos e mais de 10 horas. O
diferencial estratégico é a capacidade de operar sem dependência de GPS,
crucial em ambientes com intensa guerra eletrônica.
A Heven tornou-se fornecedora exclusiva das Forças de Defesa de Israel para drones pesados a hidrogênio, com meta de equipar cada batalhão israelense até o final de 2025. Em parceria com a Mach Industries nos Estados Unidos, planeja produzir 1.000 unidades mensalmente na Califórnia, evidenciando a escala e urgência com que forças ocidentais estão se reequipando.
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| Drone de carga militar israelense da Heven Drones |
Moya Aero: o potencial brasileiro
É neste contexto estratégico global que a Moya Aero, startup
brasileira com expertise em desenvolvimento aeroespacial, apresenta uma
alternativa nacional promissora. Fundada em 2020 como spin-off da ACS Aviation,
empresa com mais de 15 anos de experiência em engenharia aeronáutica, a Moya
está desenvolvendo uma família de drones elétricos que pode posicionar o Brasil
como protagonista neste mercado estratégico.
Especificações técnicas da família Moya Cargo
A empresa brasileira desenvolve atualmente dois modelos elétricos complementares sob uma arquitetura compartilhada:
Moya 256: projetado para resposta rápida e média distância, o modelo 256 oferece autonomia de até 160 km, ideal para missões táticas e entregas urgentes em teatros de operação regionais.
Moya 760: com alcance estendido de até 190 km e capacidade de carga útil de 190 kg, este modelo representa a versão de maior capacidade da plataforma, adequada para missões logísticas mais exigentes.
Ambos os modelos utilizam tecnologia eVTOL (decolagem e pouso vertical elétricos) com configuração tiltbody inovadora, permitindo transição entre voo pairado e voo de cruzeiro horizontal. Esta configuração reduz em mais de 50% o arrasto aerodinâmico em comparação com outras configurações eVTOL Lift + Cruise, segundo dados da própria empresa.
Versão híbrida: expandindo horizontes operacionais
Reconhecendo as limitações de autonomia dos sistemas puramente elétricos, a
Moya Aero desenvolveu uma versão híbrida que combina propulsão elétrica e
convencional. Esta variante mantém a capacidade de carga útil de 200 kg
enquanto estende o alcance operacional para impressionantes 300 km, triplicando
a autonomia da versão elétrica inicial.
A versão híbrida oferece flexibilidade estratégica crucial para operações militares, permitindo alternar entre fontes de energia conforme a necessidade da missão. Para operações de baixa visibilidade e emissão térmica reduzida, o modo elétrico pode ser priorizado. Para missões de longo alcance onde velocidade e autonomia são prioritárias, o sistema híbrido entra em ação.
Características técnicas detalhadas:
- Capacidade de carga útil: 190-200 kg (conforme modelo)
- Alcance operacional: 160-190 km (versão elétrica) / 300 km (versão híbrida)
- Envergadura: 5,5 metros (protótipo)
- Tipo: eVTOL Classe 1 (acima de 150 kg de peso máximo de decolagem)
- Propulsão: 100% elétrica ou híbrida elétrica-convencional
- Emissões: zero emissões no modo elétrico
- Construção: materiais compostos (fibra de carbono e resina epóxi)
- Configuração: tiltbody com transição thrust-to-wing
- Autonomia: autônoma (piloto automático integrado)
Validação tecnológica e avanços recentes
Em agosto de 2024, a Moya Aero alcançou um marco técnico crucial ao
completar com sucesso o primeiro voo de transição de um protótipo em escala
reduzida (20% do tamanho final). O teste demonstrou a conversão de voo pairado
propulsivo para voo de asa sustentada, validando o conceito aerodinâmico e os
sistemas de controle de voo.
O protótipo em escala real já realizou seu primeiro voo bem-sucedido sob comando de Alexandre Zaramela, CEO e projetista do eVTOL. A aeronave está atualmente em fase de testes rigorosos visando certificação pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), com conversas em andamento sobre os procedimentos regulatórios necessários.
A filosofia da Moya vai além da simples entrega de carga entre dois pontos. A empresa visa conectar locais remotos, áreas sem infraestrutura estabelecida e regiões inacessíveis por métodos tradicionais. Essa capacidade, desenvolvida inicialmente para aplicações civis em logística, agricultura e operações de resgate, possui aplicabilidade direta em cenários militares.
Aplicações militares e vantagens estratégicas
Um drone de carga como o que está sendo desenvolvido pela Moya Aero poderia
atender necessidades críticas das Forças Armadas brasileiras:
- Logística em fronteiras e Amazônia: o Brasil possui vastas extensões de território com infraestrutura precária ou inexistente, particularmente na região amazônica e ao longo das fronteiras. Com alcance de até 300 km na versão híbrida e capacidade de transportar 200 kg, os drones Moya permitiriam o reabastecimento rápido de destacamentos isolados, reduzindo a dependência de transporte terrestre vulnerável ou helicópteros tripulados caros. A capacidade de operar em modo totalmente autônomo, com piloto automático integrado, reduz ainda mais a necessidade de infraestrutura especializada.
- Evacuação aeromédica: a capacidade de transportar 200 kg possibilita não apenas o envio de equipamentos médicos e medicamentos, mas também a evacuação de feridos em macas especializadas. Em operações na selva ou em áreas remotas, onde o tempo de resposta é crítico para a sobrevivência, essa capacidade pode ser decisiva.
- Redução de riscos: ao automatizar rotas de suprimento, as Forças Armadas poderiam reduzir significativamente a exposição de pessoal a emboscadas, minas terrestres e outros perigos das rotas convencionais. A construção em materiais compostos (fibra de carbono e resina epóxi) confere resistência estrutural mantendo baixo peso operacional.
- Autonomia tecnológica: desenvolver capacidade nacional em drones militares logísticos reduziria a dependência de tecnologia estrangeira, fortalecendo a soberania tecnológica brasileira em um setor estratégico. A Moya Aero já recebeu R$ 10,3 milhões da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e conta com investimentos de fundos como Seed4Science e aceleradoras como Hards e Techstars, demonstrando confiança institucional no projeto.
- Custo-benefício: a empresa afirma que os custos operacionais do Moya eVTOL são 50% menores que helicópteros tradicionais, permitindo maior frequência de missões com orçamentos limitados. Operação com zero emissões no modo elétrico também alinha o equipamento com metas de sustentabilidade cada vez mais relevantes até para instituições militares.
Comparativo de capacidades
Comparado a dois dos sistemas internacionais exemplificados, o Moya Aero apresenta um
posicionamento intermediário estrategicamente relevante:
- Versus Heven Drones (Israel): enquanto o sistema israelense oferece autonomia superior (até 10 horas) com células de hidrogênio, possui capacidade de carga limitada a 35 kg. O Moya 760 transporta quase seis vezes mais carga (190-200 kg), embora com menor autonomia na versão elétrica. A versão híbrida brasileira oferece um meio-termo interessante entre capacidade de carga e alcance.
- Versus SUNNY-T2000 (China): o drone chinês é claramente superior em capacidade bruta (2 toneladas vs 200 kg) e alcance (1.000 km vs 300 km). Porém, essa diferença de escala implica em maior complexidade operacional, custos mais elevados e necessidade de infraestrutura de apoio mais robusta. Para muitas missões logísticas táticas brasileiras, especialmente em terreno complexo como a Amazônia, a agilidade e menor pegada logística do Moya podem representar vantagens operacionais significativas.
A Moya Aero já possui mais de 100 cartas de intenção para compra de unidades, incluindo 50 aeronaves da Helisul Aviação, operadora de helicópteros que contribui com expertise logística para o desenvolvimento do projeto. Este interesse comercial valida a viabilidade técnica e econômica da plataforma.
A tecnologia de propulsão elétrica da Moya Aero, embora ofereça autonomias inicialmente menores que os sistemas movidos a hidrogênio da Heven Drones, apresenta vantagens em simplicidade operacional, custos de manutenção e disponibilidade de infraestrutura de recarga. Para muitas operações militares brasileiras, especialmente em áreas com algum grau de infraestrutura estabelecida, essa pode ser uma solução mais prática.
Desafios e caminho à frente
A adaptação de uma plataforma civil para uso militar não é trivial. Requer
modificações em sistemas de comunicação para operar em ambientes com
contra-medidas eletrônicas, blindagem adicional para componentes críticos,
capacidade de operação noturna e em condições meteorológicas adversas, além de
integração com sistemas de comando e controle militares.
No entanto, a experiência acumulada pela equipe da Moya Aero em desenvolvimento, certificação e lançamento de inovações aeroespaciais coloca a empresa em posição favorável para essa transição. A abordagem modular da plataforma, com arquitetura compartilhada entre múltiplos modelos, facilita a adaptação para diferentes requisitos operacionais.
O momento é propício. Com investimentos militares globais em sistemas aéreos não tripulados atingindo níveis recordes, o Ministério da Defesa brasileiro tem a oportunidade de apoiar o desenvolvimento nacional nesta tecnologia crítica. A parceria entre governo, academia e iniciativa privada, neste caso representada pela Moya Aero, poderia posicionar o Brasil não apenas como usuário, mas como desenvolvedor e eventual exportador de tecnologia de drones de carga militar.
Alternativa tecnológica genuinamente brasileira: questão
de de soberania nacional
A guerra moderna está sendo redefinida pela autonomia aérea. Enquanto
Israel aposta em drones movidos a hidrogênio com longas autonomias e a China
impressiona com capacidades de carga pesada, o Brasil não precisa ficar para
trás. A Moya Aero representa uma alternativa tecnológica genuinamente
brasileira, desenvolvida com conhecimento local e adaptada às necessidades
específicas das nossas Forças Armadas.
O desenvolvimento de drones de carga militares não é apenas uma questão de modernização das Forças Armadas, mas de soberania nacional. Em um mundo onde a mobilidade aérea autônoma se tornou fator decisivo em conflitos, investir em capacidade nacional nesta área é investir na defesa e no futuro estratégico do Brasil.
A pergunta não é mais se drones de carga se tornarão ferramentas militares essenciais, mas quando o Brasil decidirá participar ativamente dessa revolução tecnológica.
*Nota do Editor: a LRCA Defense Consulting não possui qualquer tipo de vínculo com a Moya Aero e também não consultou a empresa para produzir esta matéria. O objetivo é apenas apontar uma alternativa brasileira para uma necessidade das Forças Armadas nacionais.










